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O grupo Pedreira, conhecido pela marca de calçado Nobrand, está a subcontratar o corte e costura dos sapatos em Marrocos por incapacidade de encontrar trabalhadores para as suas fábricas em Felgueiras. Sérgio Cunha, presidente do grupo, garante que tem uma das três linhas de produção parada e que já tentou contactar a Câmara de Felgueiras, procurando sensibilizar a autarquia para a necessidade de arranjar acomodação para imigrantes, mas sem sucesso. “Não tive resposta e lamento imenso porque isto iria dar riqueza e valor acrescentado ao concelho”, defende o empresário.
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Com uma produção diária de dois mil pares de sapatos ao dia, o grupo Pedreira “poderia facilmente fazer mais mil” se tivesse pessoal para colocar na linha que tem parada. São 200 os trabalhadores que tem, distribuídos pelas duas unidades, na zona industrial da Longra, Felgueiras, e Sérgio Cunha garante que poderia, “com facilidade”, integrar mais 50.
Ultrapassada a fase inicial da pandemia, a indústria portuguesa do calçado tem vindo a ser crescentemente requisitada por clientes internacionais, muitos dos quais transferiram para Portugal a produção que tinham na Ásia. Mas a falta de mão-de-obra põe em causa esse crescimento, já que, associada a atrasos na obtenção de determinadas matérias-primas, em especial as que vêm da Ásia, está a causar incumprimentos nos prazos de entrega.
“Tenho um cliente que nos quer colocar uma encomenda de mais pares e eu não os aceito porque não tenho capacidade. Tenho as máquinas paradas, tive que encontrar alternativas. Montámos uma operação, com um parceiro local, em Marrocos, para o corte e costura, mas estamos já a pensar na hipótese de seguirmos para a produção dos sapatos completos lá, para determinado tipo de clientes”, diz Sérgio Cunha. Neste caso, os sapatos terão sempre de vir ainda por terminar, com algum tipo de operação a ser feita cá, para que possam ostentar a etiqueta Made in Portugal.
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Mas nem tudo são rosas no processo. “Temos que enviar tudo de cá, não há lá nenhuma indústria de apoio para qualquer eventualidade que possa surgir. A falta de uma simples mola fez com que os sapatos venham com uma das operações por fazer”, explica. Além disso, o produto final não fica propriamente mais barato, assegura. “Os salários são muitíssimo mais baixos, mas a rentabilidade é diferente. Lá são precisas três ou quatro pessoas para fazer a tarefa de uma cá. Juntando os custos de transporte e alfandegários, a situação não é assim tão interessante”, diz o empresário. Por outro lado, a qualidade da produção “é interessante”, garante.
Para o empresário, a solução para a falta de mão-de-obra em Portugal está na criação de condições para receber famílias de imigrantes. “Mas, para isso, é preciso criar condições de base, designadamente ao nível da habitação. E é aí que eu acho que as autarquias deviam ser chamadas a intervir”, argumenta.
O custo da energia é outra das preocupações do grupo, que está a investir cerca de 200 mil euros na instalação de painéis solares. “Já tínhamos uma autonomia energética da ordem dos 30%, agora vamos ficar completamente autónomos. O preço da energia está incomportável, é uma fatura pesadíssima todos os meses”, refere Sérgio Cunha. O ano fiscal do grupo Pedreira só termina no final de março, mas as perspetivas são para um crescimento a dois dígitos para os nove milhões de euros.
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