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Mais “uns 20 ou 30 anos” é o tempo que poderá demorar para se saber quem vai pagar os custos relacionados com as injeções de capital no Novo Banco. Mas, no final, a fatura pode mesmo vir a recair sobre os contribuintes, segundo o antigo presidente executivo do Novo Banco, Eduardo Stock da Cunha. O banqueiro esteve na terça-feira a ser ouvido na Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução. “A ver vamos. Não podemos é concluir já”, disse Stock da Cunha, aos deputados. “Vamos ver quem, no fim, vai ter de pagar isto tudo: se vão ser os bancos ou se vai ser o erário público”, frisou o antigo presidente do Novo Banco. Stock da Cunha sublinhou que é hoje dado como certo que “tudo o que passou para o Novo Banco (em 2014) foi sobrevalorizado”. Lembrou que há que saber qual vai ser o “encaixe” para o Fundo de Resolução que resultará da eventual venda futura da sua posição no Novo Banco.
Na operação de venda da instituição financeira, em 2017, o Fundo de Resolução ficou com 25% do banco e os restantes 75% passaram a ser detidos pela norte-americana Lone Star. O acordo de venda prevê a cobertura, por parte do Fundo de Resolução, de perdas relacionadas com ativos herdados do BES, até 3,89 mil milhões de euros.
Desde que foi criado, na sequência da resolução do Banco Espírito Santo, em 2014, o Novo Banco já recebeu mais de 11.200 milhões de euros para se capitalizar. Deste total, mais de metade foi injetado pelo Estado. Os contribuintes já emprestaram 6030 milhões de euros ao Novo Banco: 3900 milhões aquando da sua constituição e 2130 milhões de euros desde 2017. Além disso, o Fundo de Resolução bancário injetou mil milhões no Novo Banco em 2014 e mais 848 milhões de euros desde 2017, num total de 1848 milhões de euros.
Um relatório de auditoria do Tribunal de Contas, divulgado na segunda-feira, concluiu que não foram protegidas contas públicas nas injeções no Novo Banco.
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BES não era “um bando de malandros”
Stock da Cunha foi o nome escolhido, em setembro de 2014, para suceder a Vítor Bento na liderança do Novo Banco, tendo ocupado o cargo até ao final de julho de 2016. Durante o seu mandato houve uma tentativa falhada de venda do banco. O banqueiro considerou injusto dizer que o BES era “um bando de malandros”, frisando que “maçãs podres” pode haver em qualquer empresa.
Para Stock da Cunha, é hoje certo que os ativos que passaram do BES para o Novo Banco estavam sobrevalorizados. Salientou que “a maioria, senão a totalidade dos créditos problemáticos” do Novo Banco “vem do BES”. “Não nascem no Novo Banco”, destacou. Mas admitiu que o banco aumentou a sua exposição a três dos seus grandes devedores durante o seu mandato. Em causa estão financiamentos concedidos à Sogema, do Grupo Moniz da Maia, à Ongoing, de Nuno Vasconcelos, e à Promovalor, de Luís Felipe Vieira. A Sogema recebeu financiamento para um projeto que estava já contratado desde 2012. Na Ongoing, “houve um aumento de exposição de três milhões de euros”, num financiamento para a área de media. Quanto à Promovalor, foram financiados projetos em Moçambique e no Recife, no Brasil.
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