Partilhareste artigo
A faturação da Adega Mayor subiu 10% em 2021, face a 2020, para 5,6 milhões de euros, diz à Lusa a presidente executiva (CEO), Rita Nabeiro, que avança investimentos de 500 mil euros entre 2022 e 2023.
Relacionados
A Adega Mayor “fez 15 anos no dia 15 de junho deste ano”, diz Rita Nabeiro, que elege os “dois últimos anos” como aqueles que foram “particularmente desafiantes” na vida da empresa, que faz parte do grupo Nabeiro.
“Destaco precisamente este período da pandemia porque foi um momento que ajudou a equipa a estar mais unida e a superar algumas das nossas metas”, sublinha, referindo que conseguir, “em particular, no ano passado, o melhor ano de sempre” em termos de resultados “é gratificante”.
A faturação da Adega Mayor em 2021 foi “5,6 milhões de euros, sendo que ficámos acima do ano 2019 e vínhamos sempre com crescimento constante”, prossegue Rita Nabeiro. Face a 2020, o crescimento foi de 10%.
Subscrever newsletter
A ideia é ter crescimentos “sustentados que nos possam permitir ir adaptando as infraestruturas”, afirma a responsável, salientando que “mais do que só crescer por volume, a Adega Mayor tem uma estratégia” de se focar “no que é a construção de valor”, nomeadamente em momentos como o que se vive atualmente – em que “vai haver pressão nos preços, nas famílias”.
Construir uma marca leva tempo, “mas depois o retorno acaba por ser consistente e essa consistência acaba por ajudar à afirmação no mercado”, salienta.
Questionada sobre como correu a primeira metade do ano, a CEO diz que a Adega Mayor continua “com crescimento”, ressalvando que este ano está a ser comparado com um período distinto, o de 2021, em que o primeiro trimestre foi penalizado.
“Arrancámos com um atraso no primeiro trimestre de quase 50% de quebra de vendas porque estivemos confinados e tivemos que recuperar tudo o que tínhamos perdido nesse primeiro trimestre e não só [pois] até ao primeiro semestre o mercado estava fechado”, recorda, salientando que o canal HoReCa (Hotéis, Restaurantes e Cafés) caiu.
Depois, “conseguiu recuperar desse atraso e ficar ainda acima daquilo que foi 2019, foi de facto um momento de superação. Este ano estamos também com boas perspetivas de eventualmente atingir os nossos objetivos e ficar acima do ano anterior”, avança.
A pandemia levou também a que investimentos que não fossem prioritários fossem adiados.
“A Adega Mayor faz parte de um grupo empresarial e a pandemia acaba por ter um impacto no negócio”, em particular para quem trabalha com o canal HoReCa, “não temos só a produção de vinho, nem só de café”, neste caso no grupo Nabeiro, “também temos toda a distribuição e comercialização”, sublinha a empresária.
Por isso, o que não era prioritário foi adiado durante a pandemia: “Havia temas que eram importantes, mas que não eram prioritários e que agora é tempo de andar para a frente e retomar esses projetos, não queríamos era pesar naquilo que eram os custos do grupo”, explica.
“A curto prazo temos feito investimentos que são mais de ordem funcional, por um lado investimento a nível da transição digital, que já vínhamos fazendo”, ter processos digitalizados é importante, nomeadamente quando se tem equipas dispersas geograficamente, como entre Lisboa e Campo Maior, para poder acompanhar informação atualizada, refere.
“Por outro lado, tudo o que tem a ver com a agricultura, esta transição para modo de produção biológico, temos que ter outro tipo de metodologias agrícolas”, o que “tem custos elevados”, mas também “estamos a falar de infraestruturas, por exemplo, o edifício que “já tem 15 anos”, diz, referindo-se à obra do arquiteto Siza Vieira, que vai exigindo manutenção constante para que não se deteriore.
“Para o futuro, além destes investimentos, temos uma segunda adega”, sendo que a “adega desenhada pelo Siza Vieira é o nosso espaço emblemático”, salienta.
Próximos investimentos
A Adega Mayor tem um investimento previsto de 500 mil euros este ano em 2023 e “mais de um milhão de euros” para a nova adega no futuro.
O valor da nova adega “vai ter que ser revisto, tendo em atenção” que os preços no “setor da construção têm disparado loucamente” e “mais de um milhão de euros certamente” será, afirma a empresária.
O próprio projeto arquitetónico, que foi pensado há quase três anos, será repensado, até porque “o crescimento tem sido um pouco até acima daquilo que tínhamos previsto e temos de acautelar que outro tido de necessidades” venham a surgir, explica a CEO.
Quanto ao negócio do enoturismo, que vale quase 5% da faturação, este foi “muito impactado durante os últimos dois anos”, mas está agora “novamente a retomar, “mas não aos níveis de 2019, em termos de visitantes”.
No entanto, o preço médio de compras por visitante à porta da adega “aumentou substancialmente” e a Adega Mayor está a trabalhar “para ter programas mais inclusivos com as famílias”, diz.
Relativamente à biocosmética, a Adega Mayor decidiu procurar parceiros que ajudassem “a trilhar este caminho mais rápido” e surgiu uma “cocriação com uma pequena empresa portuguesa com duas jovens”, a Âmbar, em que foi concebido um produto com base no óleo de grainha de uva.
“Começámos a querer aventurarmos numa área diferente e cada vez mais apostar em produtos que possam trazer este lado de inovação, mas também da economia circular”, explica, adiantando que a Âmbar tem dois produtos – creme de mãos e de corpo – e agora a ideia é alargar para os esfoliantes, sendo que a recetividade tem sido boa.
Mercados
Relativamenteà internacionalização, a empresária recorda que a produção “é finita”, pelo que é preciso “gerir bem”.
Isto porque “não nos interessa estar em todos os países do mundo a menos que tivéssemos produção para isso”, aponta.
“Queremos estar naqueles que nos acrescentam valor, o grupo Nabeiro está presente, além de Portugal – estou falar neste caso de comercialização e distribuição – Espanha, França, Suíça, Luxemburgo”, como também Brasil e Angola, “são tudo portas que estão abertas” num universo em que a Adega Mayor concorre com todas as outras marcas.
Há mercados “onde não estamos diretamente, estamos a falar dos Estados Unidos, por exemplo, de Inglaterra”, que são mercados que não só do ponto de vista de potencial “são interessantes, mas também porque criam um barómetro para aquilo que é a visibilidade das marcas”, sublinha.
Além destes países onde o grupo já está presente, também se encontra na Alemanha, Dinamarca, Estados Unidos, Inglaterra, Bélgica.
Sobre o mercado externo onde mais vende, Rita Nabeiro conta que antes era Angola e hoje é a Suíça, onde tem tido “um crescimento consistente”.
O mercado externo representa “à volta de 25%” das vendas da Adega Mayor e Rita Nabeiro gostaria de reforçar a presença nos Estados Unidos e na Dinamarca e entrar em outros mercados como a Suécia e o Canadá.
A empresária destaca ainda o papel do comércio eletrónico – a Adega Mayor era das poucas marcas de vinhos com uma plataforma de vendas ‘online’ no início da pandemia – que nesse período permitiu “crescer exponencialmente a nível de vendas ‘online'”.
O peso do comércio eletrónio ronda entre 1% e 2%, tendo abrandado agora um pouco, mas “não voltou aos níveis pré-pandemia”, salienta.
Atualmente trabalham 53 pessoas na Adega Mayor e a empresa vai reforçar neste período devido à vindima.
“É preciso obviamente uma imigração qualificada, mas também precisamos de mão de obra para estes setores primários”, defende, salientando que há “concorrência” na área geográfica, quer do amendoal como do olival.
“Há muito trabalho neste período do ano e há uma competição pelos recursos, nós como grupo temos essa capacidade de atração e isso tem sido possível, mas temos de começar cada vez mais cedo”, remata.
Impacto da inflação
A repercussão do aumento dos preços nos produtos da Adega Mayor foi “à volta dos 4%, 5%” este ano, mas não foi transversal a todas as gamas, diz em entrevista à Lusa a presidente executiva, Rita Nabeiro.
A Adega Mayor, num ano marcado pela guerra na Ucrânia, a inflação galopante, taxas de juro a subir, que afetam a confiança dos consumidores.
Questionada sobre se a Adega Mayor já está a refletir nos preços esta conjuntura, a empresária confirmou que sim.
“Tivemos de fazer já alguns aumentos, ainda que consigamos comportar” uma parte dessa subida e, “se calhar, sacrificar alguma parte da margem”, salienta.
Mas uma coisa é certa, “tudo o que seja vidros, garrafas, produção de energia, são impactos enormes, além do impacto da não entrega nos ‘timings’ acordados e que isso, obviamente, pode ter impacto naquilo que é a própria disponibilidade do produto” no mercado, prossegue a presidente executiva.
“Rótulos, tudo o que é cartão, tudo o que é papel, a parte energética, tudo isto está a ter impacto, por isso temos de ser cautelosos”, admite a gestora.
Questionada sobre a repercussão do aumento dos preços nos produtos, Rita Nabeiro sublinha que “não foi transversal a todas as gamas” e “andou à volta dos 4%, 5%”.
Rita Nabeiro vê com preocupação a guerra na Ucrânia, nomeadamente do ponto de vista “humano” e por considerar que isto pode ser “muito o início”.
“Acredito que Portugal, neste momento, está a beneficiar do facto de estar num dos extremos da Europa, no extremo oposto onde está a acontecer a guerra, temos cada vez mais estrangeiros a querer residir em Portugal, temos inclusivamente o regresso do turismo e isso também está a fazer com que o consumo volte a níveis de pré-pandemia”, afirma a empresária.
Questionada sobre quanto aumentou o custo de energia, a empresária diz não poder quantificar isso este ano, mas poderá andar à volta dos dois dígitos.
Em 2021, “conseguimos reduzir os custos energéticos em cerca de 8%, para 2022 as perspetivas não são positivas e estimamos um aumento que não conseguimos ainda quantificar”, afirma.
“Vamos sentir particularmente isso agora no período da vindima”, nomeadamente “porque temos todo o arrefecimento das cubas, que exige uma capacidade energética maior, e aí há um consumo maior”, acrescenta.
Entre os desafios futuros estão o dos recursos hídricos, que “já o era, é pena que só falemos desses temas quando entramos de facto em crise”, lamenta.
Esse desafio, por exemplo, “tem a ver muito com aquilo que é o planeamento ou permissão do que é determinado tipo de culturas” e “algumas dessas culturas até são mais absorventes do que a vinha”, prossegue a empresária, dando exemplos.
“Estamos a entrar por um tipo de registo de intensivo e super intensivo e amanhã vamos ter saudades de ver o Alentejo com o seu montado e com aquilo que de facto tanto o caracteriza”, alerta, defendendo que é preciso “haver equilíbrio”.
Ou seja, “não sou contra que possa haver outro tipo de culturas, mas tem que haver esse equilíbrio”, reforça Rita Nabeiro.
“Faz-me muita confusão como é que um produtor como nós não tem tido possibilidade, nos últimos anos, de ter direitos para plantação de um hectare de vinha que seja, mas ao meu lado tenho hectares e hectares de perder de vista de amendoal intensivo e olival intensivo, há aqui um desequilíbrio”, aponta a empresária, que diz compreender, mas sublinha que lhe “custa aceitar”.
“Fala-se de barragens, mas se não chove não vai haver água nas barragens, Portugal já devia estar a começar a implementar soluções como a dessanilização”, defende a presidente executiva da Adega Mayor.
Já “há muito tempo que defendo que, mesmo eventualmente com os custos que tenham, mas olhando para países como Israel que já o faz há muito tempo” avançar para a dessanilização.
Tal “não resolve o problema, é verdade, mas nós também não vamos conseguir resolvê-lo de outra forma, mitiga pelo menos uma parte dos impactos”, argumenta, porque a escassez de água acaba por levar, normalmente primeiro, ao corte nas culturas, “mas é essa agricultura que também faz mover a economia local”.
E se a economia local deixar de existir, “deixamos de ter pessoas, há uma desertificação agrícola e humana do território e acho que se tem de pensar em modelos diferentes de se fazer as coisas”, considera.
As alterações climáticas são “um grande desafio para todos nós”, em particular “com quem trabalha com o setor agrícola”, remata Rita Nabeiro.
Deixe um comentário