A Comissão Europeia (CE) perguntou e mais de 4,6 millhões de europeus responderam: “Milhões de cidadãos disseram que não querem continuar a alterar o relógio. A Comissão Europeia vai fazer o que eles dizem”, anunciou o presidente da CE, Jean Claude Juncker. Em Portugal, 85% dos que responderam ao inquérito de Bruxelas, lançado em julho, disseram sim ao fim de horários distintos no inverno e no verão.
Segue-se uma proposta legislativa, garantiu Juncker, que terá de ser votada por todos os países da UE: Espanha já se mostrou a favor, enquanto o governo português prefere aguardar pela apresentação formal da proposta europeia para emitir uma posição oficial.
A concretizar-se a mudança só ocorrerá em 2020 ou 2021, mas estudos que mostram que com o fim da mudança de hora o consumo de energia pode voltar a aumentar, ainda que marginalmente, e por consequência, também a fatura energética suportada pelas famílias, empresas e indústria.
Um relatório recente assinado por Rui Agostinho, diretor do Observatório Astronómico de Lisboa, diz que “o valor da poupança [energética] verificada é relativamente pequeno, em média inferior a 1%”. Ou seja, com o fim da mudança da hora, o consumo energético poderá crescer nessa mesma percentagem.
Olhando para os números de 2017, e tendo em conta que o consumo total de energia em Portugal foi de 49639 GWh de acordo com a REN, se considerarmos um aumento de 1% estaríamos a falar de mais cerca de 500 GWh consumidos em 12 meses. Aos preços do mercado grossista, que em 2017 rondaram em média os 52,5 euros por MWh, este acrescento no consumo teria valido mais de 26 milhões de euros.
Em Espanha, o Instituto para a Diversificação e Poupança de Energia (IDAE), uma entidade pública empresarial sob a tutela do Ministério para a Transição Ecológica, já fez as contas e estima que o “potencial de poupança em iluminação” que se consegue com a mudança de hora ascende a 5% do consumo elétrico, refere o El Confidencial. Isto equivaleria a uma poupança anual de 300 milhões de euros, sobretudo para a indústria e os serviços. No mercado doméstico a poupança poderia chegar aos 90 milhões de euros, ou seja, menos seis euros na fatura em cada família.
Um estudo de abril de 2018 realizado pela International Association for Energy Economics, citado pelo El País, com 44 investigações realizadas em todo o mundo, revela que a poupança energética nos dias de verão é de 0,34%, sendo esta redução mais acentuada nos países que ficam mais longe da linha do Ecuador, como é o caso do norte da Europa. Na mesma linha, os dados mais recentes da Comissão Europeia apontam para uma redução dos gastos energéticos na ordem dos 0,5% do consumo nacional total com a mudança para o horário de verão.
De acordo com o DN, na secretária do primeiro-ministro, António Costa, está já o relatório elaborado por Rui Agostinho, diretor do Observatório Astronómico de Lisboa, que defende a manutenção do atual sistema, sobretudo pela qualidade de vida das pessoas.
Na opinião do especialista português, o argumento da poupança energética apresentado historicamente (desde a crise petrolífera dos anos 70 do século XX) para justificar a mudança de hora já não faz sentido. “Apesar de [a poupança energético] ser um aspeto positivo deixou de ser um objetivo fundamental na introdução da hora de verão, passando a ser uma expectativa que está em harmonia com a política de conservação de energia, dos Estados membros da União Europeia”, refere o estudo.
A prática da mudança de hora é obrigatória desde 1981 e tem origens económicas: uma poupança energética permitida pela maior disponibilidade de luz natural nos meses de verão, com vista a reduzir os gastos com energia elétrica para iluminação. Os benefícios desta poupança seriam para o Estado, empresas e famílias. “Fez sentido no passado, sobretudo no norte da Europa. A iluminação era feita de outras forma, mas hoje com as novas tecnologias, mais eficientes, o gasto energético é muito inferior”, diz o especialista espanhol em energia Francisco Valverde, citado pelo El País, garantindo que a mudança da hora não tem qualquer impacto na poupança energética.
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