//Fim de fidelização vai tornar comunicações mais caras

Fim de fidelização vai tornar comunicações mais caras

Não se deve mexer no que funciona e está equilibrado. Ainda menos quando está em causa um setor com investimentos elevadíssimos no país (o rácio investimento face a receitas é superior ao de Espanha, França e à maioria dos países europeus), que é competitivo e que já fez chegar cobertura de alta velocidade a 5,7 milhões de alojamentos, garante cobertura 4G a 96% dos lares e 64% de penetração de serviços de elevado débito. É “valor trazido pelas operadoras” que vai aumentar com o 5G, sobretudo em territórios de baixa densidade populacional, e que estão claros num “relatório recente da Anacom, muito pouco divulgado”, lamenta fonte do setor ao Dinheiro Vivo, lembrando a importância das operadoras durante a pandemia, quer no papel que desempenharam a garantir a resiliência da rede quando estávamos todos em casa (teletrabalho e tele-escola incluídos, causando um aumento de 50% no uso de telecoms), quer na “oferta de serviços, no tráfego ilimitado, nos pacotes lançados para quem estava na linha da frente e nos planos de pagamentos acordados, que abrangem 56 200 pessoas e têm um impacto no setor que ascende a 15 milhões de euros”.

O enquadramento serve de base à reivindicação dos operadores de telecomunicações, confrontados com uma nova vaga de vontade de mexer nos parâmetros da fidelização dos clientes. O tema é antigo e voltou a estar em cima da mesa numa altura em que o Parlamento discute a proposta do governo para a transposição para a lei portuguesa do Código Europeu das Comunicações Eletrónicas (CECE). Curiosamente, nem o Código, nem a proposta do governo falam nele. E a esmagadora maioria dos portugueses não quer alterações, revela um estudo da Marktest cujos resultados foram divulgados nesta semana.

Com investimentos médios de mil milhões de euros por ano no país, o setor alerta que mexer nas fidelizações – um meio que a própria Autoridade da Concorrência considera legítimo para recuperar investimento feito pelas operadoras – terá um de dois efeitos: reduzir o investimento no país e a capacidade de inovação – com consequências no seu desenvolvimento e coesão, nos processos de digitalização e no acesso dos portugueses a ela, ainda mais com o 5G à porta, a exigir custos avultados – ou subir os preços para os consumidores.

Consumidores não rejeitam fidelização

Segundo o estudo da Marktest, encomendado pela Apritel (que representa as operadoras do setor), mas que utiliza “as mesmas questões que foram efetuadas” no questionário da Anacom sobre o tema em 2017, só cerca de um quinto dos mais de 2 mil inquiridos diz estar disposto a pagar mais por mês ou a pagar um fee de arranque de contrato – que cubra os custos da operadora na instalação, disponibilização de rede, investimento, etc. – para “eliminar ou reduzir o período de fidelização associado ao pacote de serviços”. Mais de metade (58%) já mudou de operador, “o que revela o dinamismo do setor”, e “a esmagadora maioria (85%) tem contrato de 24 meses” e está satisfeito, apesar de haver ofertas de fidelização de duração inferior (12 meses ou menos).

O estudo revela ainda que a esmagadora maioria está contente com o seu pacote de comunicações (80%) e informada sobre o contrato de fidelização e as condições contratuais – só 3,6% não conhecem e dois terços desses sabem onde ir buscar essa informação. Conclusões que deitam por terra os argumentos do órgão liderado por Cadete de Matos no que respeita à fidelização e falta de transparência e concorrência no mercado. A Anacom, regulador das comunicações, tinha calendarizado este inquérito, mas a covid fê-lo ficar pelo caminho, pelo que a própria Apritel avançou, com a base de trabalho do regulador.

“A realidade é clara: os consumidores não encaram as fidelizações como um entrave à mudança, nem estas constituem fator de desconforto ou desvirtuar da concorrência; as pessoas sabem qual é o seu período de fidelização e procuram a melhor solução para as suas necessidades”, resume o secretário-geral da Apritel, Pedro Mota Soares.