Maratonas e meias maratonas, corridas em trilhos, caminhadas nas serras ou desafios de ciclismo. E os jogos amigáveis de futebol! Os portugueses renderam-se ao desporto. É raro o fim de semana em que não há um evento que reúna dezenas e dezenas de praticantes, dia que não nos cruzemos com um corredor de fundo ou um ciclista. Mera ilusão.
Portugal está na cauda da Europa no que diz respeito à prática de exercício físico. De acordo com o Eurobarómetro de 2017 da União Europeia, 68% dos portugueses não praticam qualquer exercício físico. Só a Grécia e a Bulgária apresentam piores indicadores. “Apenas 5,4% da população é que faz exercício físico em ginásios, são 540 mil pessoas. Em Espanha, são 13%”, frisa José Carlos Reis, presidente da Associação de Empresas de Ginásios e Academias de Portugal (AGAP).
Esta realidade abre “uma grande margem de crescimento” ao setor, que estabeleceu como meta atingir o milhão de praticantes de atividade física em ginásios até 2025. As cadeias presentes em Portugal estão atentas ao mercado e reconhecem que “há muita margem para crescer”, afirma Sofia Sousa, CEO do Holmes Place. Segundo os dados mais recentes da AGAP, o setor tem cerca de 1100 unidades, que respondem por uma faturação da ordem dos 220 milhões de euros e por perto de 20 mil postos de trabalho a tempo inteiro. O valor médio de uma mensalidade situa-se nos 38 euros.
Reduzir o IVA
Bernardo Novo, administrador da área de fitness da Sonae Capital (detém a cadeia Solinca), reconhece que “a penetração [do setor] está bastante abaixo da média europeia” e que é necessário despertar a população para os benefícios do exercício físico. Nesta matéria, José Carlos Reis sublinha que a AGAP tem procurado sensibilizar o governo e os partidos políticos para a necessidade de reduzir a taxa de IVA no setor, que atualmente é de 23%. Como adianta, “por cada euro investido na prática de exercício físico há uma poupança de três euros na saúde” e, por isso, questiona “o porquê de não se trabalhar a nível da prevenção da doença ao invés de investir na cura”.
José Carlos Reis advoga uma taxa zero para o IVA nos ginásios, mas reconhece que “os constrangimentos orçamentais são muitos” e, por isso, “esse objetivo é difícil, mas é importante que o governo tenha atenção ao setor”. Ainda não foi desta. O Orçamento do Estado para 2019 não contempla nenhuma revisão na taxa em vigor desde 2011.
Para o presidente da AGAP, a taxa de IVA é um entrave à expansão dos ginásios. “O setor tem crescido, mas de uma forma ténue”, observando-se ainda assim a entrada de marcas fitness low cost, de cadeias internacionais e a abertura de estúdios especializados. Como avança, o low cost “é uma tendência mundial” – como foram as boxes de crossfit, atualmente com um ritmo de expansão mais lento -, e os treinos personalizados, cujo foco são os resultados. O país tem “oferta para vários segmentos” e, embora a barreira do preço seja uma limitação, hoje praticam-se valores da ordem dos 15 euros por mês.
Fitness UP. Do norte para o sul
A cadeia Fitness UP, que em 2012 abriu o seu primeiro espaço em Famalicão, tem em curso um acelerado plano de expansão. Hélder Ferreira, mentor do projeto e proprietário dos ginásios, agendou para este ano sete aberturas (três já concretizadas) todas a norte do Mondego. Para 2019 tem já previsto a instalação de mais oito unidades, num caminho rumo ao sul. Na opinião deste empreendedor, “o mercado tem possibilidades para triplicar, está a oferecer inúmeras oportunidades para quem quer investir”, mas é preciso “absorver o que o público quer”. A Fitness UP, que fechará o ano com 12 ginásios, assume-se como “a marca mais cool” do mercado, que responde ao que os millennials procuram. E o que quer essa geração? Segundo Hélder Ribeiro, clubes bem equipados (com aulas de grupo, serviços de treino rápido, estacionamento gratuito) e de qualidade, prestígio e um preço justo. “A concorrência tem tudo, mas não no mesmo espaço. Tem preço, mas não tem bons espaços, tem bons espaços e não tem espírito de comunidade”, frisa. O modelo Fitness UP está imparável e, sublinha Hélder Ferreira, à base de capitais próprios. Aliás, além de um modelo de crescimento orgânico, o responsável não descarta aquisições. Neste ano, o volume de faturação deve atingir 7,5 milhões de euros e as previsões para 2019, já com as novas unidades em plena operação, apontam para 14 milhões. Cada ginásio implica um investimento da ordem dos 750 mil euros.
Holmes Place. Líder no premium
O Holmes Place, cadeia de premium fitness, está focado em consolidar o negócio e posicionamento, depois de ter adquirido há menos de um ano os quatro clubes Virgin Active em Portugal. A marca, segundo a gestora Sofia Sousa, mantém-se atenta às movimentações do setor e analisará as “oportunidades que possam revelar-se uma boa estratégia”. A compra da operação da Virgin Active foi uma dessas situações. “Considerámos que era um bom investimento, eram clubes situados dentro do nosso segmento, com elevado nível de exigência, que estavam estrategicamente posicionados em termos geográficos”, justifica. Com 21 clubes no país e uma carteira de 60 mil sócios, o Holmes Place afirma-se como líder no segmento premium. A estratégia passa por o clube ser “um espaço que vai muito além do exercício físico, que permita melhorar a saúde e a condição física em todas as vertentes, até na social”. Os ginásios Holmes Place dispõem de um conjunto de serviços e equipamentos, das tradicionais aulas de grupo a programas genéticos, ou spa. Um número significativo de crianças frequentam estes clubes (10% dos sócios) e, também por isso, a marca aposta em criar um sentido de comunidade e família. A gestora perspetiva resultados positivos para o atual exercício, performance assente na “proposta diferenciadora” que o Holmes Place oferece.
Sonae Capital. Três marcas e conceitos
A Sonae Capital continua a olhar para o mercado português de fitness com intenção de ir de novo às compras. No início deste ano, a empresa adquiriu a cadeia Pump por mais de oito milhões de euros e já no verão iniciou a exploração do Lagoas Health Club. Bernardo Novo, administrador da área fitness, é da opinião que o mercado português “continua a ser bastante fragmentado” e, por isso, “movimentos de consolidação são algo para que olhamos de forma natural”. O responsável afirma-se disponível “para conversar” com operadores que entendam “que podemos criar valor em conjunto”. Afinal, o setor “ainda é relativamente recente, a penetração está bastante abaixo da média europeia”. No entanto, para atingir a fasquia de um milhão de sócios inscritos em clubes de fitness “é necessário unir esforços públicos e privados em torno de um objetivo comum”. Bernardo Novo considera fundamental que o poder político perceba “o impacto que a prática de exercício físico acompanhado pode ter na sustentabilidade financeira do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”. Para isso, defende uma intervenção a nível fiscal com benefícios para quem pratica desporto (redução da taxa de IVA ao setor ou deduções de despesas em sede de IRS) e para quem investe (usando o IRC como instrumento de promoção do investimento). Apesar da falta de incentivos, a Sonae Capital explora atualmente 30 ginásios e decidiu apostar num posicionamento multi segmento. A marca Solinca focou-se no mercado mainstream, com uma proposta de valor assente no serviço e no preço. A Pump centrou-se no lifestyle/premium a preços baixos. Já o Lagoas Health Club posiciona-se no nível premium.
Fitness Hut. Low cost em expansão
Explora uma rede de 32 ginásios no país, tem mais de 142 mil sócios ativos e prepara-se para abrir ainda neste ano mais três unidades. A cadeia é a Fitness Hut e integra desde o início do ano a espanhola Viva Gym. Juntas, ambicionam tornar-se o maior grupo de ginásios low cost da Península Ibérica. O plano é crescer e internacionalizar o conceito. Em Portugal, estão asseguradas mais 12 aberturas para 2019, seis já em fase de construção e as restantes com contratos assinados, revela Nick Coutts, CEO da empresa. “Estamos também a procurar oportunidades de aquisição.” Como diz, há lacunas no mercado que podem ser colmatadas com ginásios como o Fitness Hut, “que consegue oferecer um produto de alta qualidade a um preço muito acessível”. As vendas da empresa acompanham o ritmo de expansão. Em 2016, faturou 21 milhões de euros e já no ano passado atingiu 32 milhões. Para este exercício, Nick Coutts estima receitas de 40 milhões. A rede Fitness Hut opera no segmento premium low cost, ou seja, ginásios com foco na qualidade das instalações, oferta de múltiplos serviços, conforto e boa localização.
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