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O futuro do trabalho, em Portugal, tem de passar pela humanização das organizações através da empatia, agilidade, adaptabilidade e cooperação. A afirmação de Vanda Brito é feita na sequência do estudo que a empresa de recursos humanos Kelly Services levou a cabo em oito países europeus, entre os quais Portugal.
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O European Work Voices 2022/23, teve como missão saber como é que as pessoas encaram o trabalho atualmente, e para o conseguir inquiriu 5600 profissionais. Em Portugal responderam 1530 pessoas. Perante toda a incerteza que o futuro representa, a diretora de Recursos Humanos da Kelly Portugal frisou que só as organizações “mais humanas terão maior probabilidade de cultivar a performance, pois darão oportunidade aos colaboradores de estar na sua melhor versão ao mesmo tempo que os suportarão nas dificuldades”.
Como refere Vanda Brito, os resultados deste estudo deveriam “obrigar à reflexão”, uma vez que Portugal é o país europeu, entre os inquiridos, onde mais se valoriza o propósito no trabalho e onde, simultaneamente, 38% dos respondentes dizem não se sentirem concretizados neste aspeto. Por outro lado, os portugueses são os mais otimistas em relação às perspetivas de progressão de carreira nos próximos cinco anos e a mudarem de emprego nos próximos 12 meses.
A possibilidade de se poder adotar o teletrabalho ou trabalho híbrido tem um impacto mais positivo que negativo, junto dos que responderam ao inquérito. Em especial no que às mulheres diz respeito, já que “uns expressivos 71% indicam que o seu work-life balance melhorou devido ao trabalho remoto. Por fim, a importância do que ainda há a fazer quanto à discriminação no trabalho”, explica Vanda Brito, adiantando que em Portugal os dados revelam que 55% dos inquiridos já sentiram discriminação ou barreiras no trabalho.
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Empresas devem “olhar para o talento como um investimento e não como um custo para que se tente gerir um equilíbrio”.
Analisando estes resultados, a diretora de Recursos Humanos da Kelly alerta as organizações para a necessidade de trabalhar para melhorarem as suas políticas, processos e procedimentos, uma vez que estão a atuar num ambiente altamente complexo e incerto. “E este estudo mostra-nos o que podemos esperar do futuro do trabalho, em concreto as expectativas dos colaboradores”, frisa.
Como especialista em recursos humanos, Vanda Brito sugere às empresas que reflitam sobre o seu mindset estratégico. “Nomeadamente olhar para o talento como um investimento e não como um custo para que se tente gerir um equilíbrio entre as necessidades de negócio e as necessidades dos colaboradores”. Sendo este um ponto de partida óbvio, para a responsável, fica também o apelo para a necessidade de avaliar as expectativas dos colaboradores face à flexibilidade, propósito, bem-estar e à experiência que se está a dar ao indivíduo.
Trabalho com significado
É um facto que a relação das pessoas com o trabalho está a mudar, mas também as relações entre colaboradores e organizações são atualmente mais desafiantes.
“A questão geracional é uma realidade e neste momento temos o desafio de gerir três gerações de trabalho em simultâneo”, diz Vanda Brito. Perante isto, as organizações estão ainda a tentar compreender como comunicar com pessoas que teoricamente valorizam aspetos muito diferentes. Atualmente, como reforça aquela responsável, “assistimos também a uma transferência de necessidades das gerações mais recentes para as outras” e o trabalho com significado é uma delas.
No entanto, 38% dos trabalhadores portugueses que participaram no estudo não consideram o trabalho que fazem como útil ou que tenha significado. Uma situação que deve “levar à reflexão”, apela Vanda Brito, embora “estes resultados estejam a ser puxados para baixo maioritariamente pelas pessoas entre os 55 e os 64 anos”, que são quem valoriza o ter emprego e estabilidade.
Para além de aqui estarem incluídas as funções administrativas, tendencialmente mais rotineiras, e de apoio ao cliente, com elevada exposição a pressão e stress, estão também as mulheres, que ainda têm salários mais baixos e ocupam cargos menos importantes do que os homens. “Outra questão incontornável e que certamente contribui para este resultado é o índice salarial médio do nosso país que focalizará mais na necessidade, transferindo questões como o significado para segundo plano”, explica Vanda Brito.
Discriminação
Os dados do estudo demonstram que 55% dos inquiridos em Portugal já se viram confrontados com discriminação no local de trabalho. Seja pela idade – mais velhos ou demasiado jovens – também o status laboral, nível de educação, género e raça, entre outros, são apontados no estudo.
Para derrubar estas barreiras, Vanda Brito remete para a resposta ao ponto mais valorizado pelos inquiridos portugueses. Sendo a pergunta “como pensa que as organizações podem quebrar barreiras no trabalho para pessoas de todas as origens?”, a resposta que mais surge é “através de conversas mais honestas com as equipas”.
“Algo que parece simples de aplicar, mas que aparentemente ainda é uma dificuldade. Os esforços para trabalhar mentalidades têm que ser constantes e consistentes. As políticas têm que passar do papel para a prática e quanto melhor preparados estiverem os líderes mais eficaz será esta mudança”.
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