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A Galp tem “grandes ambições” nas renováveis, uma área de negócio que absorverá cerca de 200 milhões em 2021, ano em que a companhia prevê investir, no total, não mais de 500 a 700 milhões de euros. O novo CEO da petrolífera assume-se “muito entusiasmado” com a oportunidade que a transição energética acarreta para o futuro da companhia, mas será o projeto de exploração de petróleo em águas profundas no Brasil que irá absorver a maior parcela do plano de investimentos em 2021.
“O projeto em Bacalhau deve prosseguir no primeiro semestre deste ano. É um projeto verdadeiramente excecional, quer em termos económicos quer ambientais, comparativamente à maioria dos equivalentes da concorrência”, explicou Andy Brown aos analistas, sublinhando que “faz todo o sentido continuar, como faz sentido investir no portefólio de renováveis, fazendo-o crescer”.
O novo CEO da Galp, que, há duas semanas substituiu, no cargo, Carlos Gomes da Silva, falava aos analistas na conference call de apresentação de resultados de 2020, um ano marcado pela pandemia e que levou a Galp a acumular prejuízos de 42 milhões de euros, conta os 560 milhões de lucros que obtivera em 2019.
Esta foi a primeira vez que Andy Brown falou, desde que chegou à Galp e começou, precisamente, por elogiar a “posição invejável” da empresa no segmento da exploração e produção, com os seus ativos de águas profundas no Brasil e o projeto de gás natural em Moçambique, bem como a “grande marca” de que dispõe, a “posição sólida” que tem no mercado de refinação e uma posição comercial “de elevado valor” tanto no gás, como nos combustíveis e eletricidade na Península Ibérica. Além disso, diz, a Galp é uma empresa “ágil”, o que lhe concede uma vantagem competitiva face a alguns dos seus maiores concorrentes, acredita. A prová-lo, refere, está o projeto das renováveis em que, em apenas um ano, se tornou líder no solar fotovoltaica na Península Ibérica, uma área com “capacidade de desenvolvimento e diversificação”.
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Andy Brown diz que encontrou uma equipa “talentosa e focada”, mas avisa que o seu papel será de os focar ainda mais e de “acelerar os resultados”. Ao mesmo tempo que garante “a disciplina financeira” e que ajuda a criar “uma empresa de energia rentável, eficiente, limpa e integrada”.
Alertas para o futuro
Sobre o futuro, Andy Brown diz que há que clarificar o caminho estratégico a seguir. “Precisamos de criar um negócio mais forte e mais sustentável. Temos um portefólio forte, conhecemos os nossos pontos fortes, mas não devemos ter medo de tomar decisões difíceis. Precisamos de criar uma companhia dinâmica e capaz de aproveitar as oportunidades”, sublinha. Questionado pelo analistas, este responsável lembrou o “portefólio muito rico” da companhia no upstream, mas, também, as suas ambições na área comercial e das renováveis, para defender que “precisamos de ser muito claros” nos ‘cavalos’ em que pretende apostar. “Não nos podemos dar ao luxo de fazer tudo e é essa clareza de propósitos que quero trazer para a Galp”, afiança.
Em maio, quando completar os primeiros 100 dias à frente da Galp, Andy Brown promete abrir o jogo sobre a estratégia futura, no Capital Markets Day 2021. “Mas deixo desde já uma nota. O nosso foco é a criação de valor, de crescimento sustentado. Não queremos apenas ser capazes de prosperar com a transição energética, queremos ser uma grande oportunidade de investimento para os nossos acionistas”, adianta.
E se o futuro é sorridente, diz, o curto prazo é “desafiante”. A pandemia não está sob controlo, ainda, e é “preciso mostrar prudência nos investimentos”. E, por isso, a Galp irá continuar focada numa “política de investimentos disciplinada, priorizando onde vai aplicar o dinheiro”. Prudência essa que será extensiva à política de remuneração dos acionistas, com a empresa a cortar para metade o dividendo de 2020, para 35 cêntimos por ação. Para 2021, a intenção é pagar 50 cêntimos, sendo que, se a conjuntura o permitir, parte poderá já ser adiantado ainda este ano num dividendo intercalar.
“Somos uma empresa com crescimento diferenciado. Somos uma companhia que não quer ser avaliada só e apenas pela distribuição de dividendos. Queremos combinar crescimento e retorno acionista”, diz Andy Brown, prometendo clarificar esta questão no Capital Markets Day.
Questionado pelos analistas sobre a transição energética e o tamanho certo da Galp para enfrentar este desafio com agilidade, Andy Brown prometeu mais novidades em maio, também. No entanto, lembrou o percurso nas renováveis, com a aquisição do portefólio da espanhola ACS no segmento solar, para sublinhar: “Acredito que esta é uma companhia que tem a agilidade necessária para fazer grandes mudanças na próxima década. Temos é que decidir o que é prudente para o acionista, o que está em linha com as alterações climáticas e quão rápido queremos fazer essa evolução. É algo que vamos estudar nos próximos três meses, e voltaremos, em maio, com algumas orientações”.
Lembrou, ainda, a meta da companhia de chegar aos 10 GW de potência instalada em 2030, o que obrigará, reconhece, a uma transição “maior e mais rápida” do que os seus concorrentes. No entanto, salienta que a potência já instalada e a instalar em breve (3,7 GW) constituem um “excelente” ponto de partida para que a Galp se lance na transição energética “de forma efetiva, persuasiva e à frente do resto do mercado”.
Refinaria de Matosinhos
Sobre a concentração da operação de refinação em Sines e consequente fecho da refinaria de Matosinhos, Andy Brown admite que o foco em Sines permitirá à Galp melhorar as suas margens de refinação, a grande questão, diz, é quanto é que vai ser necessário investir para melhorar essa margem.
Quanto a Matosinhos, Andy Brown admite que a decisão de fechar a unidade é uma decisão “muito pesada” para os trabalhadores e diz-se “solidário com todos os que lá trabalharan durante tantos anos”. Sobre o futuro da infraestrutura e o possível aproveitamento dos equipamentos para outros projetos em Sines, o novo CEo da Galp é perentório: “Não há nenhum plano concreto para Matosinhos. A prioridade, no momento, é garantir que temos um bom plano para as pessoas e para assegurar o desmantelamento e a descontaminação responsável do local. Depois iremos planear o que vamos fazer ali”.
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