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A guerra na Ucrânia expôs a dependência energética de todo o continente europeu à Rússia, o que está a contribuir para a escalada de preços energéticos, mas, para a Galp Gás Natural Distribuição (GGND), Portugal pode não sofrer tanto com a incerteza do cenário, no que respeita à distribuição de gás natural. Além disso, e também por isso, a GGND acredita que a transição energética vai acelerar mais no país, identificando no hidrogénio uma oportunidade na distribuição do gás natural.
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Quando a União Europeia procura alternativas à Rússia (que já fechou a torneira à Polónia e Bulgária), importa saber que risco corre Portugal e que alternativas há. Para a GGND, um dos principais distribuidores de gás natural do país, em resposta às questões do Dinheiro Vivo, esclareceu que “somente 10% das importações de gás natural foram provenientes da Rússia” em 2021. Acresce que a Península Ibérica “tem uma importante capacidade de abastecimento instalada, através dos terminais de GNL [gás natural liquefeito], ficando assim menos dependente de situações extremas extraordinárias”, como a que se vive hoje.
Beneficiando dessa fraca dependência do leste europeu, Portugal terá também uma “das mais modernas redes de gás da Europa”, o que pode ser uma vantagem na altura de procurar alternativas ou para consumo interno ou para fazer chegar a outros países. A 29 de abril, a agência Reuters dava conta que está a ser estudada a duplicação da capacidade do Porto de Sines para apoiar países europeus mais dependentes do gás natural russo.
A procura de alternativas, não obstante, não se fica por diversificar a origem do gás. Segundo a GGND, passam também por encontrar novas fontes energéticas e, nesse campo, Portugal estará também já a trilhar caminho. Há diferentes possibilidades, mas a principal elencada pela GGND para a distribuição de gás passará pelo hidrogénio, pois a rede de gás portuguesa é “constituída em 94% em polietileno, o que permite assim estar preparada para receber novos gases renováveis, como o hidrogénio”.
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Citando um relatório do projeto europeu Ready4H2, que é referenciado num outro estudo sobre descarbonização até 2050 da Eurogás, da qual a GGND faz parte, é realçada uma poupança potencial de 41 mil milhões de euros no investimento em redes de distribuição de gás para receber hidrogénio.
“Os recentes desenvolvimentos na Ucrânia alteraram significativamente as prioridades da indústria europeia do gás, tendo a segurança energética da Europa a curto prazo a maior prioridade”, explica a empresa, notando “que as redes locais de distribuição de gás podem apoiar as ambições a curto prazo da Europa, uma vez que as redes existentes estão prontas para se adaptarem tanto à mistura de hidrogénio como ao biometano, de modo a permitir a sua expansão a curto prazo”.
Efeitos em Portugal
Será essa uma oportunidade para Portugal? A empresa diz que sim, assegurando que o país é um dos Estados europeus a revelar “maior dinâmica no desenvolvimento do hidrogénio”. Por estes dias, o país tem uma estratégia definida, com empresas a planear investimentos no hidrogénio, alguns à boleia do Plano de Recuperação e Resiliência. Em Sines, note-se, já foi anunciada a instalação de uma unidade de produção de hidrogénio verde e amoníaco à escala industrial que deverá começar a produzir em 2025. “É de prever que os desenvolvimentos recentes, decorrentes do conflito, venham a acelerar, em Portugal, a ambição e a definição de uma estratégia que acelere o desenvolvimento e a utilização do biometano. Este é, sem dúvida, um dos temas da transição energética que necessita de um impulso maior em Portugal”, de acordo com a GGND.
A própria GGND também já fez investimentos desta natureza. A empresa conta já está a desenvolver testes à infraestrutura de distribuição de gás e também aos equipamentos de queima, através do Green Pipeline Project, no Seixal, um projeto que pretende introduzir na rede gás natural o hidrogénio para abastecer casas e industrias. A GGND tem orçados, este ano, dez milhões para investir na transição energética, o que inclui o hidrogénio..
Contudo, indica que falta ao país avançar na regulamentação. Não obstante, há uma certeza para a empresa: “A situação atual [efeitos da guerra da Ucrânia] tenderá a introduzir uma nova ambição, ferramentas e enquadramento regulatório para a descarbonização e para a autonomia energética”.
A GGND é detida em 75,01% pela Allianz, em 2,49% pela Galp. A percentagem remanescente respeita ao consórcio MEET Europe Natural Gas composto pela Marubeni e a Tohogas.. É responsável pela distribuição de gás e não pela comercialização.
[Nota: artigo corrigido pelas 12h30 de 30 de abril. Inicialmente, o título referia-se à “Galp Gás”, que é uma outra empresa do grupo Galp, não sendo a mesma entidade que a GGND. A fotografia que acompanha o artigo também foi alterada. O DV pede desculpa ao leitores e à empresa pelo lapso]
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