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O mercado do fitness conseguiu finalmente colocar um ponto final na crise que assolou a atividade. Após dois anos de quebras históricas de receitas devido à pandemia, o setor está a aproximar-se dos níveis de 2019, uma evolução que está a dar confiança às empresas para pôr em marcha acelerada os seus planos de expansão num modelo de preços baixos. Os números de 2022 ainda não estão fechados, mas as estimativas apontam para receitas próximas dos 289 milhões de euros, valor registado no exercício pré-pandémico, e pelo regresso à fasquia dos 650 mil praticantes no país. Como observa João Carlos Reis, presidente da Portugal Activo (associação que representa os ginásios), “a grande vantagem da pandemia – a única -, foi as pessoas verificarem a necessidade de ter uma vida mais saudável, de praticarem exercício físico e terem uma alimentação cuidada”.
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Este movimento está a impulsionar o crescimento dos clubes low-cost e a atrair novos operadores. Segundo João Carlos Reis, “o modelo está de vento em popa. Há ginásios que ainda antes da abertura já têm duas e três mil pessoas inscritas”. Esta procura não está a passar despercebida junto das marcas nacionais e também internacionais. A taxa de penetração (percentagem de pessoas que praticam atividades fitness face ao total da população) regressou à fasquia dos 7%, mas ainda está muito longe dos 13% da média europeia.
Aliás, o último Eurobarómetro sobre desporto e atividade física revela que Portugal é o país mais inativo da Europa, com 73% dos portugueses a admitirem que nunca praticam desporto, 5% a reconhecerem que só raramente e apenas 4% afirmam praticar de forma regular. “Há uma grande oportunidade de crescimento” e, já “este ano, devem entrar novos operadores, há marcas internacionais a olhar para o mercado”, revela.
O retrato de um país inativo, que se estende a todas as camadas etárias, está bem claro nos clubes portugueses, que não estão dispostos a perder a corrida pela sensibilização da importância do desporto e a consequente captação de praticantes. E o modelo low-cost, com preços que já não permitem desculpas e mais adequados à realidade inflacionista atual, está a ser a grande aposta. A SC Fitness, líder do setor em Portugal, decidiu centrar o foco da sua expansão na insígnia Element, lançada em plena pandemia para responder a uma das maiores barreiras à entrada no mercado, sobretudo para um segmento mais jovem, o preço. A empresa do grupo Sonae está inclusive a converter alguns ginásios Solinca em Element. Atualmente, há 13 unidades no ativo, seis inauguradas no ano passado, sendo que o plano de expansão até 2026 estabelece a criação de uma rede de 70 clubes no país. Afinal, como frisa Bernardo Novo, CEO da SC Fitness, “o desenvolvimento de uma marca verdadeiramente low-cost, com mensalidade abaixo dos 15 euros, cria uma solução óbvia para todos os portugueses cujo rendimento disponível está condicionado pela inflação e pelo aumento dos custos com a habitação”.
A cadeia de baixo custo Fitness Up está também em rota acelerada de crescimento. A marca tem 18 milhões de euros para assegurar o investimento na expansão desenhada para 2023, revela Cristina Coutinho, diretora do negócio do grupo. Este ano, já abriu dois novos clubes e tem projetada a abertura de mais 15, depois de ter colocado no ano passado outros nove em operação. “Queremos chegar nos próximos quatro anos a uma cobertura geográfica total, ou seja, acima das 100 unidades em funcionamento”, adianta a responsável. Os objetivos estão sustentados numa performance acima das expectativas. No exercício transato, os ginásios Fitness Up registaram uma faturação de 27,5 milhões, quase o triplo face a 2019 (11,5 milhões de euros), e os sócios ativos passaram de 32 mil para 75 mil no final de 2022, diz. Este ano, e dada a abertura de mais espaços, a cadeia quer chegar aos 110 mil inscritos e atingir receitas de 45 milhões.
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A Fitness Hut, marca low-cost do grupo espanhol Vivagym, quer consolidar a médio prazo a liderança em Portugal, através da expansão no território nacional e no reforço da posição no Porto e Grande Lisboa, diz fonte oficial da rede. Este ano, não está prevista nenhuma abertura, depois da inauguração em 2022 da unidade do Cacém, que alargou a rede a 43 ginásios. De acordo com a mesma fonte, a insígnia está ainda a trabalhar para alcançar a recuperação total face à pré-pandemia, o que deverá ocorrer no final deste exercício. A SC Fitness também só agora começou a ultrapassar os números registados antes da covid (recorde-se que o país fechou em meados de março desse ano). Segundo Bernardo Novo, “no final do primeiro trimestre de 2023, a base comparável de clubes Solinca Classic (sem efeitos de novas aberturas) já ultrapassou os números registados em fevereiro de 2020”.
Apesar de tudo estar a correr no bom sentido, o setor não deixa de recordar a falta de apoios durante a pandemia e também durante o pico do aumento dos custos energéticos. Bernardo Novo lembra que, segundo um recente estudo, 43,4% dos portugueses acima dos 18 anos não praticam atividade física suficiente e 20,8% dos portugueses são obesos. São indicadores que colocam grande pressão no Sistema Nacional de Saúde, cujos gastos deverão subir 4,7% ao ano até 2025. Nesse sentido, defende “uma política fiscal de incentivo ao exercício físico, nomeadamente com a possibilidade de dedução dos custos com o ginásio em sede de IRS”, que já existe noutros países. Na sua opinião, “as medidas do PRR que conhecemos (campanhas de comunicação, distribuição de bicicletas) estão aquém daquilo que o país necessita para convergir para a média europeia”.
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