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Com as exportações a crescer e o consumo a dar “sinais positivos” de recuperação, o Governo entende que é tempo de substituir as ajudas à covid-19 por apoios ao investimento e à promoção internacional. A garantia é deixada pelo secretário de Estado Adjunto e da Economia, que este domingo visitou os 34 expositores portugueses presentes na Micam, a feira de calçado que decorre até terça-feira, em Milão.
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Questionado pelos jornalistas sobre o risco de, acabando as ajudas especiais à pandemia, as empresas não resistirem, João Neves é perentório, esses instrumentos foram determinantes para “manter a capacidade produtiva das empresas e limitar ao mínimo a redução de trabalhadores”, no entanto, acredita que é tempo de avançar. “Fomos prolongando os apoios à medida da evolução da situação epidémica e estamos hoje a ver, do ponto de vista da evolução económica, sinais positivos. Não limitámos os apoios quando a situação era difícil. Agora estamos a passar para outro tipo de apoios, sobretudo ao investimento, quer em meios de produção quer em promoção internacional, e é aí que nos vamos concentrar”, diz. Para o governante, é preciso dar um sinal aos mercados internacionais que as empresas portuguesas “aguentaram este período difícil e estão prontas para aproveitar a nova evolução positiva do consumo”.
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Luís Onofre concorda, embora admita que, só em 2023, se assistirá a uma retoma efetiva do setor. Aliás, o presidente da APICCAPS lembra que em 2019 já as exportações de calçado caíram, sendo preciso recuar a 2017 para encontrar o melhor ano de sempre da indústria, com vendas ao exterior no valor de 1.956 milhões de euros. Em 2020 ficaram-se pelos 1.497 milhões. Foram quase 500 milhões perdidos em três anos.
Onofre elogia a resiliência dos industriais e o seu “esforço tremendo” para “aguentar o embate” da pandemia e classifica a Micam como uma “lufada de ar fresco” para as empresas, que aí procuram encontrar novos clientes e abrir novos mercados. “Temos boas perspetivas de trabalho para o futuro”, garante.
É o caso da Aerobics, marca da Cool Gray, de Oliveira de Azeméis. Ao secretário de Estado, Pedro Alves explicou que o top 10 dos seus principais clientes estão “todos ativos e a retomar as encomendas, mesmo que em quantidades menores do período pré-pandemia”, pelo que a presença na Micam é vital, mesmo que, provavelmente, não compense o investimento realizado. “Temos que estar, o regresso à normalidade é urgente”.
Com 53 trabalhadores e uma faturação de 5,5 milhões de euros em 2019, a Aerobics perdeu, o ano passado, 50% das suas vendas, fruto do desaparecimento total do negócio corporate – fornece calçado para companhias de aviação como a Air France ou Austrian Airlines, duramente atingidas pela pandemia. E a recuperação só a espera no próximo ano. “Este é um negócio de ciclos longos. É quase inevitável que 2022 arranque tímido, só esperamos entrar em velocidade cruzeiro a partir do segundo trimestre”, defende. Pedro Alves teme pelo fim das moratórias. “Fizemos um esforço gigantesco para não despedir ninguém, mas agora estamos sobredimensionados face ao estado atual do mercado. A nossa principal preocupação foi manter o nível de prontidão da empresa, de modo a estar pronta a rearrancar, logo que as condições do mercado o permitam, mas é importante que a banca esteja com as empresas, encontrando mecanismos que permitam ajustar os timings de pagamento ao tempo que as empresas precisam para recuperar”, defende.
Mas nem tudo são más notícias. Também há quem, em plena pandemia, tenha conseguido crescer. É o caso da True Shoes, marca da Talismã Secreto, empresa de Santa Maria Feira, que, em 2020, conseguiu aumentar em 30% a sua faturação e, este ano, continua a crescer. A expectativa é que consiga fechar 2021 com vendas de 2,5 milhões de euros, mais do dobro face a 2019. E qual foi a razão de sucesso da True Shoes? O calçado impermeável que produz com uma meia integrada, numa membrana impermeável, assegurando a 100% que os pés se mantêm secos, foram um sucesso nos mercados nórdicos. A empresa ainda reforçou os quadros, com mais cinco pessoas, e conta agora com 51 trabalhadores. Não recorreu a quaisquer ajudas do governo porque, na verdade, nunca chegou sequer a parar a laboração.
A jornalista viajou a convite da APICCAPS
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