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O segredo mais bem guardado de Francisco Costa, mais conhecido no mundo do futebol por ‘Costinha’, e de António Boal, da Costa Boal Family Estates, um tinto de vinhas velhas transmontanas e que recebeu o nome de ‘Segredo 6’, foi esta quinta-feira lançado em Lisboa. O projeto, que nasceu com a compra da ‘vinha do professor’, uma parcela de 3,5 hectares em Mirandela, Trás-os-Montes, em 2019, representa um investimento inicial de 150 mil euros e levou à criação da sociedade 2CC – Produção de Vinhos, Lda, detida em partes iguais pelos dois amigos. Novos investimentos estão já pensados, designadamente a possibilidade de fazerem vinhos brancos e de adquirirem mais parcelas de vinhas velhas em Trás-os-Montes ou noutra região vitivinícola.
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Contribuir para “o posicionamento premium dos vinhos portugueses” é o grande objetivo desta parceria que marca a entrada do antigo internacional português no mundo dos vinhos. ‘Segredo 6’ foi a designação escolhida em referência à cumplicidade entre os dois sócios, que conseguiram manter a informação sobre a sua parceria, trabalhada e desenvolvida nos últimos quatro anos, limitada a um núcleo restrito de pessoas, e ao número da camisola usada pelo ex-futebolista no Futebol Clube do Porto, no Atlético de Madrid e na Seleção Nacional.
Com a assinatura de Paulo Nunes, líder da equipa de enologia da Costa Boal, este é o único vinho português, de uma só parcela, a chegar ao mercado em grandes formatos. A primeira colheita, de 2019, deu origem a uma produção total de 600 garrafas magnum (de 1,5 litros) – que têm um preço base de 600 euros – 66 de 5 litros e seis unidades de 15 litros.
Produzido a partir das castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Amarela e Alicante Bouschet, este foi um vinho que estagiou em barricas novas de carvalho francês (de 500 litros), durante 16 meses, e mais um ano em garrafa. Mas que tem ainda um “grande potencial” de envelhecimento e, por isso, nem todas as 672 unidades serão postas à venda de imediato. Parte delas ficarão para serem relançadas daqui por meia dúzia de anos. O mercado alvo são os “investidores de vinho e clientes com elevado poder de compra”, quer em Portugal quer nos mercados internacionais.
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“Nada nasce por acaso e, se não houver gosto pelo que queremos fazer e transmitir, a qualidade final nunca será a mesmo. Este é um microprojeto que nasceu de uma amizade, com espírito de equipa e família à mistura, e que esperamos que se torne um ícone dos vinhos portugueses no mundo”, diz António Boal.
Já Francisco Costa admite que “sempre teve vontade de investir no negócio do vinho” e chegou mesmo a ponderar ser sócio maioritário numa loja de vinhos, no Porto, projeto de que se afastou quando foi jogar para o Atlético de Madrid. “Não era o momento ideal, a minha cabeça tinha que estar focada no futebol e não noutros negócios”, explicou, em entrevista ao Dinheiro Vivo. Quando deixar o futebol, quer instalar-se numa pequena propriedade que tem no Alentejo e aí dedicar-se “a brincar com a vinha”.
A descoberta do terroir transmontano através de um vinho que António Boal lhe deu a provar e que o deixou “completamente extasiado, suplantando muitos dos vinhos de renome que estavam na mesa” foi o ponto de partida. O encontrar de uma vinha “tão peculiar, tão antiga e tão bem apresentada”, com 65 anos, levou-o a antecipar a sua entrada na vitivinicultura. Até porque, acredita, que se trata de região com “um enorme potencial”. “Trás-os-Montes não tem tanta expressão como o Douro ou o Alentejo, mas vai passar a ter com este vinho”, garante o ex-futebolista.
A experiência de António Boal na região – a Costa Boal Family Estates é um negócio familiar cujas raízes remontam a 1857 e que detém 65 hectares de vinhas dispersos pelo Douro, Trás-os-Montes e Alentejo -, com a chancela do enólogo Paulo Nunes deu-lhe a garantia de produção de “um grande vinho”. “Os grandes vinhos nascem de vinhas velhas e é nesse pressuposto que assenta este projeto, que pretende transmitir o que de melhor se faz em Trás-os-Montes, equiparando o ‘Segredo 6’, um vinho de nicho, de boutique, aos melhores vinhos de Portugal e do mundo”, refere, por seu turno, António Boal.
“Sempre me fez muita confusão o facto de Portugal ter vinhos com qualidade para ombrear com os melhores do mundo, mas cuja política de comunicação e preço não traduz isso. Ao longo da minha vida como jogador de futebol vivi no Mónaco, em Espanha, na Rússia, em Itália, e raramente encontrava um vinho português de qualidade nas cartas dos restaurantes. E um dos nossos desejos é fazer ver ao mundo que podemos rivalizar com esses grandes vinhos internacionais”, comenta ‘Costinha’, que aponta algum “pudor” dos produtores nacionais em pedirem o valor real dos seus vinhos. “Não podemos ter medo que nos achem vaidosos ou arrogantes porque isso não acontece no estrangeiro”, frisa.
Entretanto, os dois sócios já fizeram mais três vindimas e acreditam que a qualidade do vinho se mantém inalterada. “A identidade está lá, só temos de não estragar aquilo que a vinha produz”, diz. Sendo que, como vinha velha que é, e de apenas 3,5 hectares, a produção oscila entre os 1.200 e os 1.500 litros ao ano. Definido está que, se em algum ano, a qualidade do vinho não corresponder ao patamar do ‘Segredo 6’, será lançada uma segunda marca, ainda por definir.
Lançado hoje num almoço com jornalistas da especialidade no JNcQUOI Club, o vinho vai agora para o mercado. Estará à venda em garrafeiras da especialidade em Portugal, e no estrangeiro, com especial foco no Brasil, Luxemburgo, França e Suíça.
As previsões de vendas apontam para uma faturação de 400 a 500 mil euros com a colheita de 2019, a qual será reinvestida no negócio. “Podemos investi-lo na aquisição de vinhas velhas noutra região ou numa outra sub-região transmontana para fazermos aqui um grande vinho branco. Já há estudos do nosso enólogo nesse sentido, porque não? Daí então poderemos pensar em fazer uma adega boutique, para fazermos micro vinificações”, diz António Boal, que sublinha: “Nunca será um negócio de volume porque esse não é o campeonato de nenhum de nós”. Francisco Costa confirma: “Está dependente de se encontrar a vinha certa”.
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