Não é surpresa que o setor da hotelaria tem sido atingido em força pela pandemia de covid-19. Mas até ao momento não era ainda clara a imagem geral do setor. Perto de um mês depois, a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) voltou a inquirir os seus associados sobre a situação em que se encontram e o retrato agora traçado é diferente do do mês passado, acompanhando a evolução rápida da pandemia e das medidas aplicadas em Portugal.
Desde logo as estimativas para a perda de receita do setor é mais elevada que em março. A AHP admite que, num cenário mais dramático, pode alcançar os 1,4 mil milhões de euros apenas entre 1 de março e 30 de junho, fruto da maioria dos hotéis ter assumido que está encerrado e assim permanecerá, pelo menos, neste mês e em maio.
Cristina Siza Vieira, CEO da AHP, recordou que no ano passado o peso das receitas da hotelaria nas receitas turísticas foi de cerca de 25% do total. Pelo que, contas feitas, a hotelaria contribuiu diretamente com 4,48 mil milhões de euros para o montante total de receitas turísticas. Partindo dos números do ano passado, a líder da associação admite que “num cenário menos pessimista estamos a falar de uma perda de receita de 1,28 mil milhões de euros de receita. Num cenário mais pessimista apontamos para 1,44 mil milhões de euros de perda de receita”.
Maioria em lay-off
O governo implementou o lay-off simplificado para permitir às empresas, muitas completamente encerradas, mitigar os efeitos do covid-19 nas suas contas. Com a maioria dos hotéis em Portugal encerrado, muitas entidades patronais estão a recorrer precisamente ao lay-off para tentar preservar os postos de trabalho. O inquérito da AHP – que foi fechado ontem – mostra que praticamente 94% dos inquiridos pretende implementar este regime, sendo que cerca de 44% destes admite aplica-lo a todos os seus funcionários. E 15% dos inquiridos respondeu que entre 80% a 99% dos seus recursos humanos vão ser colocados em lay-off em abril.
Questionada sobre as perspetivas em termos de despedimentos e falências no setor, Cristina Siza Vieira admitiu que é ainda prematuro abordar a questão e recordou que as empresas que recorrem ao lay-off não podem despedir trabalhadores no curto prazo.
Quanto ao recurso às linhas de crédito lançadas em março pelo governo e disponibilizadas recentemente, quase 38% admite que já apresentou a sua candidatura a este mecanismo e mais de 37% disse que pretende avançar para este meio de financiamento embora ainda não tenha iniciado o processo. Dos que pretende mais ainda não o fizeram, metade não identificou qual a linha mais apropriada para si.
Retoma?
As perspetivas do setor para os próximos meses não são muito animadoras. Apesar do inquérito mostrar que a maioria das unidades de alojamento tem os canais de distribuição ativos, mas “não para reservas em abril, sendo que a maioria a partir de meados de maio”, a possibilidade de retoma ainda no primeiro semestre é pequena.
Os dados da AHP mostram que, numa segunda fase do inquérito, já mais próxima do fecho do mesmo, a maioria dos hotéis estava pouco confiante numa normalização da atividade turística até ao final de junho.
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