A polémica em torno da segurança das redes 5G da Huawei abriu portas à empresa para falar com vários governos e empresas de todo o mundo “e o crescimento aumentou desde então”. Quem o diz é John Suffolk, responsável máximo de segurança informática da tecnológica. E há números que o provam.
Até ao final de março, a Huawei já tinha assegurado 40 contratos para a criação de redes 5G em todo o mundo, sendo que, destes, 23 são na Europa, dez no Médio Oriente, seis na Ásia-Pacífico e um em África. Nenhum dos contratos diz respeito a Portugal, pois a atribuição e venda de espectro só deverá acontecer em 2020, mas a empresa está a trabalhar no desenvolvimento de redes 5G com os três operadores de telecomunicações portugueses.
“O 5G vai facilitar a adoção rápida de novos conceitos, nomeadamente aqueles que requerem tempos de reação extremamente baixos, como os carros autónomos ou a gestão e controlo eficiente das redes energéticas, desde a produção até ao consumo”, comentou Bruno Santo, diretor-geral da unidade de negócio empresarial da Huawei em Portugal.
A empresa já tem também assegurada a venda de 70 mil antenas 5G a nível global. Os valores foram revelados no 16.o evento anual de analistas (HAS 2019), que decorreu nesta semana em Shenzhen, na China, e contrastam com os 26 contratos e as dez mil antenas 5G vendidas até ao final de dezembro de 2018, altura em que a empresa revelou pela primeira vez valores sobre o impacto desta nova tecnologia no seu negócio.
“Esperamos que o 5G aumente o nosso negócio junto dos operadores e vamos atingir um crescimento de dois dígitos”, revelou Ken Hu, atual presidente do conselho de administração da Huawei. “Em termos de maturidade da indústria, podemos ver que o 5G já atingiu um nível elevado em relação a chips, redes e dispositivos.” Segundo um estudo da empresa revelado nesta semana, em 2022 já deverão existir 500 milhões de utilizadores de redes 5G em todo o mundo.
“Podes dizer que isto é [uma questão] política, mas vamos tratá-la como uma oportunidade, vamos ouvir as preocupações dos nossos clientes. Se o fizermos, melhoramos os nossos produtos e isso é bom”, sublinhou John Suffolk. “Vamos deixar a política para os políticos”, disse ainda, numa resposta aos comentários que dizem que a pressão dos EUA é baseada, acima de tudo, em razões políticas e comerciais.
É o responsável de segurança informática o primeiro a admitir que há elementos na infraestrutura da Huawei que têm de ser revistos, sobretudo porque os processos de criação de tecnologia precisam de estar mais atualizados perante os padrões de segurança que continuaram a evoluir. Mas o executivo também deixou um recado aos decisores políticos.
“Quando olho para isto a nível político, talvez [os governos] devessem fazer um esforço para garantir que as suas redes e computadores estão atualizados. (…) Deem-nos um standard e nós vamos cumpri-lo. Criem uma certificação e nós vamos fazê-la. A Europa está a criar um standard para a Internet das Coisas (IoT) e para o 5G, e isso é muito bom.”
Uma opinião também partilhada por Ken Hu. “É preciso estabelecer mecanismos de validação independentes para todas as empresas, acreditamos que a confiança ou a desconfiança deve ser baseada em factos, os factos devem ser verificados e a verificação deve ser baseada num standard [de indústria].”
Sobre uma possível influência do governo chinês junto da empresa e dos seus produtos, sobretudo ao abrigo da lei de informação que foi criada em 2018, John Suffolk foi cáustico. “Os produtos da Nokia e da Ericsson [maiores rivais da Huawei no 5G] são feitos na China.”
Megaplano em Portugal
Depois da polémica sobre a alegada falta de segurança nas suas redes 5G, a Huawei anunciou um plano de dois mil milhões de dólares a nível global, e a ser aplicado nos próximos cinco anos, para ajudar a corrigir problemas como “software desorganizado” e reforçar os seus processos de transparência.
Se é sabido que parte deste dinheiro vai estar focado no Reino Unido, John Suffolk sublinhou que Portugal e “todos os países vão beneficiar do programa”. Deu, como exemplo, a abertura recente de um centro de cibersegurança em Bruxelas, na Bélgica, e que poderá ser usado por reguladores e empresas de toda a Europa para tirarem dúvidas e fazerem testes às tecnologias da empresa.
A garantia de que o plano de dois mil milhões de dólares também teria impacto em Portugal já tinha sido adiantado ao Dinheiro Vivo, em janeiro, pelo líder da subsidiária portuguesa da Huawei, Tony Li.
“Se a cibersegurança for politizada, vai ser um grande desafio. Penso que tais desafios não vão ser apenas para a Huawei, vão ser para toda a indústria e relações comerciais numa escala maior”, defendeu ainda Ken Hu, no HAS 2019.
O jornalista viajou para Shenzhen a convite da Huawei
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