//Huawei responde ao bloqueio dos EUA com sistema HarmonyOS

Huawei responde ao bloqueio dos EUA com sistema HarmonyOS

Foi num pavilhão de basquetebol com capacidade para cinco mil pessoas (longe de estar cheio) em Dongguan, na China, e numa keynote em chinês, mas para o mundo ver e ouvir, que a Huawei deu a sua resposta ao recente bloqueio comercial dos EUA. A empresa chinesa lançou um novo sistema operativo que promete ser alternativa do Android ao Windows (em 2020) e ser opção para todos os tipos de aparelhos. E, tal como o Android, poderá ser utilizado por outras empresas além da Huawei, já que é em open source. Uma posição categórica da empresa chinesa após as dúvidas recentes sobre se podia usar o sistema Android nos seus telemóveis.

Embora a parceria com a Google se mantenha “por respeito pelos parceiros”, a empresa chinesa garante que em apenas dois dias consegue fazer a transição suave de todos os aparelhos para o novo Harmony e abandonar o Android, se for necessário. Em aberto fica uma possível mudança no futuro, até porque a marca defende que o seu sistema é mais rápido, tem menos latência e é mais seguro do que o sistema da Google. Por trás do novo sistema operativo está uma arquitetura apelidada de “revolucionária” que usa tecnologia microkernel e que se afasta da base de Linux usada pela maioria, inclusive pelo Android. A Google usa essa mesma tecnologia no Fuchsia OS, o sistema que está ainda a desenvolver para vários aparelhos, mas que a Huawei diz ter limitações por não permitir como o seu Harmony o desenvolvimento simples de apps em vários cenários.

Richard Yu, o líder da parte de consumo da Huawei, fez o anúncio no HDC 2019, a conferência de programadores da empresa, que pela primeira vez foi aberta à imprensa internacional. Yu explicou que o novo sistema é em open source, tem arquitetura distribuída e a chamada verificação formal, usada na aeronáutica por trazer maior segurança. Uma combinação “única na indústria” e os ingredientes que vão permitir, diz o responsável, não só que o sistema “seja mais fluido e rápido”, bem como adaptável a vários tipos de aparelhos “para uma experiência de inteligência artificial fácil e suave entre dispositivos”. “Queremos construir um sistema operativo global, não só para a Huawei mas para outras marcas parceiras para que todos possamos fazer a próxima geração de sistemas num ecossistema conjunto e em colaboração.”

A empresa anuncia um sem-número de vantagens do seu Harmony OS inclusive para os programadores e poderá ser usado muito além dos smartphones, tablets ou smartwatches. A ideia é poder entrar também em computadores em 2020 competindo eventualmente com o Windows (usado atualmente nos MateBook da empresa), mas ir mais longe e entrar nos produtos IoT para a casa, da mais pequena coluna à televisão inteligente e eventualmente entrar nos automóveis. A Huawei tem inclusive uma divisão para software para condução autónoma e um contrato com a Audi já assinado.
“Queríamos criar o sistema operativo do futuro, porque nos atuais criam-se silos entre tipos de aparelhos diferentes”, disse Yu, dando o exemplo da Apple, que tem sistemas diferentes para computador (MacOS), telefone (iOS), televisão (tvOS) e, agora, tablet (iPadOS). A ideia do Harmony OS, que começou a ser preparado há dois anos, é que possa permitir que vários aparelhos tenham capacidades partilhadas. “Podem servir como periféricos uns dos outros, ou seja, de um smartwatch podemos usar a câmara de um telefone ou controlar o televisor da casa, por exemplo.”

Promessas feitas, o novo sistema Harmony OS passa oficialmente a existir a desde sexta-feira, mas a Huawei não explicou quando podemos vê-lo em ação e quais os próximos passos. Nem tão-pouco confirmou os boatos de que smartphones de gama baixa iriam começar a incluir o novo sistema desenvolvido pela empresa chinesa.

Bloqueio estragou planos
A empresa está bem e recomenda-se, disse ainda Richard Yu, indicando que, em oito anos, a divisão de consumo cresceu 64 vezes em vendas e continuam a investir forte em pesquisa e desenvolvimento (15 mil milhões de dólares em 2018). Venderam 118 milhões de smartphones no ano passo, um crescimento de 24%, e no primeiro semestre cresceram 23%.

“Seria mais se não fosse o bloqueio dos EUA e as incertezas que vieram daí, que nos prejudicaram e por causa disso será mais difícil chegarmos à liderança mundial em smartphones já neste ano”, alerta Yu. No evento também foram mostradas novidades da nova “pele” da marca para Android, o EMUI 10.0, onde o modo escuro foi evidenciado, bem como uma nova plataforma aberta chamada HiAI, para ligar aparelhos inteligentes.

*O jornalista viajou a convite da Huawei

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