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A IAD Portugal, mediadora imobiliária de origem francesa, quer ter uma voz na consolidação do setor. Alfredo Valente, CEO da empresa no país, considera “inevitável uma agregação dos consultores das marcas menos representativas nas mais dinâmicas”. Segundo avança, “vê-se já alguns movimentos, embora ainda incipientes e pouco organizados, mas vai haver dinâmicas mais estruturadas. O mercado vai conhecer uma pequena revolução nos próximos tempos”. A IAD tem recebido “alguns players” que querem conhecer a empresa. “Estamos particularmente atentos e ativos para termos uma palavra neste movimento”, frisa.
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O mercado português da mediação imobiliária tem uma oferta alargada de agências e de profissionais. No país, contam-se mais de 30 mil agentes imobiliários, muitos em dupla atividade. “Somos o país da Europa com mais consultores per capita”, devido essencialmente “às poucas ou nenhumas barreiras à entrada”, diz Alfredo Valente. Estes profissionais estão espalhados por centenas de agências, entre internacionais, nacionais e regionais. E, na sua opinião, algumas, nomeadamente as independentes, “vão deixar de poder suportar os custos” das estruturas, numa altura em que o mercado começa a dar sinais de arrefecimento.
Neste ponto, a IAD acredita ter “um modelo de negócio que resiste bem à crise”, nomeadamente pela dimensão dos custos fixos, que são “ligeiros” – não existem lojas, apenas uma sede -, e por ser detida por uma única entidade, a casa-mãe. Como afirma, “temos menos por onde distribuir o valor ganho”, numa referência aos master franchising e franchisings que proliferam no mercado. A realidade assim o comprova. A IAD surgiu em França no ano de 2008, em plena crise internacional, e comprovou ser um sucesso. O negócio assentou desde a primeira hora no digital, antecipando que a procura de casas iria passar a ter na internet um lugar de destaque. Em Portugal, a IAD entrou em 2015 e liderou esta revolução, a terceira do setor imobiliário, mas reconhecendo sempre que o negócio é “profundamente relacional”.
Com 965 consultores, a IAD Portugal reconhece que o mercado português enfrenta muitos desafios. Falta de imóveis, a que se juntam propostas ineficientes para dinamizar a construção nova, uma posição da banca que dificulta o acesso ao crédito, principalmente dos mais jovens, e a subida das taxas de juro estão a criar bloqueios no acesso à habitação e ao desenvolvimento do setor, diz o responsável. No primeiro trimestre deste ano, o mercado caiu mais de 20%, mas a IAD manteve “o negócio estável”. Segundo Alfredo Valente, nos últimos 12 meses terminados em maio, a marca respondeu por um volume de transações da ordem dos 500 milhões de euros, que geraram 18 milhões em comissões. Os compradores estrangeiros representam 30% da atividade, com os franceses a destacarem-se entre estes investidores.
O contexto é de alguma incerteza, embora se vislumbre sinais de controlo da inflação. O preço das casas no país não deverá sofrer alterações substanciais, mas Alfredo Valente admite que a seguir ao verão possa haver “um pequeno ajuste”. Na sua opinião, não se está a “conseguir aumentar a oferta e esse é um ponto fulcral. “Desde 2021, que o número de transações de imóveis novos está em mínimos e enquanto não houver uma injeção de produto novo adequada à procura, sobretudo para a classe média, os preços não vão baixar”. Entretanto, chegará mais um aumento das taxas de juro, impactando os empréstimos à habitação. Até ao momento, “não temos sentido pressão vendedora motivada por um risco de incumprimento”, mas o prazo médio de venda deverá aumentar para seis ou sete meses, quando ainda há um ano estava nos três meses.
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Segundo o gestor, uma família pode suportar agora uma prestação de uma casa de 160 mil euros, quando antes podia ir aos 200 mil. “Não estamos a encontrar as respostas certas” para o problema da habitação e “estamos a escorraçar o investidor, nomeadamente o estrangeiro”. Para Alfredo Valente, “diabolizou-se os vistos gold, quando se podia ter alterado as regras e conceder a autorização para quem trouxesse para o mercado imóveis para arrendar”. Como diz, “os investidores continuam interessados no mercado nacional, mas exigem estabilidade política e fiscal – entre o que foi anunciado no pacote Mais Habitação e o que foi negociado não bate a cara com a careta -, e perspetiva de médio-longo prazo”.
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