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Nem a inflação ou a pandemia conseguiram abrandar o sucesso que a Ikea alcançou em Portugal. Mas, embora as previsões sejam otimistas para o próximo ano, a empresa está a sentir os impactos da crise. “Apesar de estarmos cada vez mais próximos dos nossos objetivos de disponibilidade de produto, ainda não recuperámos os níveis normais, de pré pandemia”, explica ao Dinheiro Vivo o Country People and Culture manager da multinacional sueca, em Portugal, Cláudio Valente.
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O responsável detalha que o impacto atual é sobretudo causado pelos atrasos na saída de contentores marítimos, principalmente da China. E acrescenta que “a falta, já crónica, de motoristas de pesados” está, em grande parte, a provocar condicionantes nos envios de mercadorias com origem na Europa.
A escassez de matéria-prima foi “um dos maiores dificultadores da recuperação do abastecimento”, embora atualmente seja o seu preço que esteja a impactar o negócio. “Tem sido feita alguma adaptação nas matérias-primas utilizadas, para tentar substituir aquelas que estão em escassez”, diz.
Com estas medidas tem sido possível à empresa absorver os aumentos de custos sentidos em toda a cadeia de abastecimento e, desta forma, manter os preços baixos e estáveis. “No entanto, não estamos imunes aos desenvolvimentos macroeconómicos que estão a afetar as empresas, os retalhistas e a sociedade em geral” frisa Cláudio Valente, dizendo ainda que embora os preços das matérias-primas estejam em constante mudança e que tenham de ser feitos ajustes em alguns produtos, no ano passado a empresa conseguiu reduzir o preço de algumas gamas.
“Queremos continuar a fazê-lo neste novo ano, embora possa haver uma eventual subida de preços”, alerta, deixando, no entanto, uma mensagem de alento aos seus clientes. “A inflação não vai mudar o nosso propósito de sermos acessíveis e de trabalharmos todos os dias para oferecer preços baixos”.
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Investir e contratar
Os bons resultados obtidos em Portugal neste ano – vendas com resultados de 552 milhões de euros, e que significam um crescimento de 19,5% relativamente a 2021 – podem ser encarados como precursores de novas oportunidades de negócio.
Por este motivo, a empresa pretende investir um valor global de 65 milhões de euros para melhorar as instalações e a logística para chegar aos clientes de forma mais rápida e eficaz.
Mas especificamente, e já em 2023, a empresa quer abrir mais estúdios de planificação, como o de Almada e do centro de Lisboa e continuar a trabalhar a estratégia de acessibilidade. “Outra grande novidade é a extensão e automação do armazém em Loures, com um investimento total de 50 milhões de euros, que vai servir de centro logístico às compras feitas online”, revela Cláudio Valente.
Mais espaços a funcionar requerem a contratação de mais pessoas. Apesar de não revelar um número que indique quantos colaboradores a Ikea precisa, o responsável diz que a procura por novos talentos é frequente e que existem vagas abertas todo o ano nas áreas de logística, Ikea Food, Vendas, Centro de Apoio ao Cliente e Design de Interiores, já que é aqui que se regista uma maior necessidade de contratações.
E deixa um alerta: “Além deste recrutamento normal, prevemos que vai ser necessário um reforço de cerca de 350 pessoas durante os meses de verão”.
Salário de entrada aumenta
Para garantir o bem-estar das “suas” pessoas, a Ikea vai aumentar, a partir do próximo mês, o salário de entrada de 750 para mil euros. A decisão prende-se com o aumento do custo de vida, juntamente com o contexto cada vez mais competitivo por talento no setor do retalho.
O aumento acima do salário mínimo tem sido uma prática da empresa, pelo que este ano não é uma exceção, explica Cláudio Valente.
Ao todo, os colaboradores a tempo inteiro, na operação de retalho, vão receber 14 mil euros anuais, acrescidos de subsídio de alimentação, que em outubro também sofreu um aumento de 4,55 euros por dia para seis euros. “Esta medida, retroativa a março, deveu-se sobretudo à identificação do aumento da inflação, o que fez com que atribuíssemos 300 euros, pagos em outubro, aos colaboradores”, aponta Cláudio Valente. O que equivale a um investimento de 5,9 milhões de euros, por parte do retalhista, em atualizações salariais.
Aquele responsável explica, também, que o salário de entrada “é apenas um para colaboradores” e que os aumentos para “todas as outras posições de liderança são definidos caso a caso, de acordo com múltiplas vertentes”. E, sublinha, os colaboradores mais seniores, que já auferem de um salário de mil euros “não foram esquecidos”. “Embora o aumento não seja na mesma proporção, foi feito um esforço e um investimento para que também eles fossem aumentados”.
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