//Ikea. Parque eólico em Portugal produz mais do que a operação ibérica necessita

Ikea. Parque eólico em Portugal produz mais do que a operação ibérica necessita

Não é vender. É o que vendes e como o produzes que garante não só a sustentabilidade do negócio como do ambiente. Não há contradição entre vender produtos a preços acessíveis e defender uma política de sustentabilidade.

A fórmula é simples: vender mais produtos, resulta em maior dimensão das companhias e com isso podem levar a mudanças na forma de produção, descreve Pia Heidenmark Cook, directora de sustentabilidade do Ingka Group. Em três anos, a decisão do Ikea de abandonar a venda de lâmpadas incandescentes trocando-as por LED levou a que os preços tivessem passado de 10 euros para 1 euro.

Energia é outro dos temas que o Ingka Group, com objetivos de ser positivo para o clima até 2030, olha com atenção. Nesse campo, Portugal parece estar no bom caminho. Os parques eólicos no país já asseguram a energia de toda a operação ibérica da cadeia sueca, adianta Pia Heidenmark Cook.

O Ikea quer até 2030 ser uma empresa neutra para ambiente e baseada numa economia totalmente circular. O que a está a fazer para transformar a operação?

Lançámos a nossa estratégia em junho de 2018 e assenta na estratégia anterior, desenhada em 2012. Temos três medidas: uma é como podemos ajudar e inspirar mil milhões de pessoas a viver nos limites deste planeta, como no contacto com os clientes, podemos ajudá-los a mudar o seu estilo de vida. Estamos também a olhar para as nossas operações, onde colocamos como objetivo ser uma empresa circular e positiva para o ambiente até 2030. E isso passa pelas nossas operações, as lojas e centros comerciais, mas também por toda a cadeia de valor. A terceira medida é em torno da justiça e da inclusão, como é que podemos ser um empregador justo não só nas lojas, como em toda a cadeia de valor.

Queremos ser positivos para o clima até 2030. Estamos a olhar para como nos podemos tornar mais eficientes em termos de energia, como podemos mudar para energias renováveis. Até 2020 queremos produzir o máximo de energia renovável da energia que usamos. Hoje estamos a 76%, a meta é atingir 100% até 2020. E vamos atingir. É um investimento de 2 mil milhões.

Passa pelas nossas operações onde estamos a ver como podemos alterar o aquecimento e arrefecimento para energia renovável. Estamos a tentar garantir que, independentemente do país em que estamos (estamos em 30), compramos eletricidade renovável e estamos também a mudar para painéis solares. Temos cerca de 700 mil painéis solares instalados, 15% das lojas têm painéis solares nos telhados.

Juntamente com os colaboradores estamos também a ver como nos podemos tornar mais eficientes ao nível de energia. Não se trata apenas de soluções tecnológicas, mas também de comportamento.

Em Portugal, a Ikea comprou parques eólicos. Há novos investimentos previstos? Quais os planos para Portugal ao nível de energia?

Temos uma estratégia global, vamos aos mercados onde achamos que podemos encontrar soluções viáveis. Não temos um plano específico para Portugal no que toca à energia solar ou eólica. No que toca às lojas, o plano é no sentido de se tornaram, cada vez mais, eficientes do ponto de vista energético e introduzir painéis solares. Se vamos ter um novo parque eólico em Portugal, não sei dizer. Estamos continuamente a receber propostas e a ver onde existem boas propostas viáveis.

De Portugal?

A última que anunciamos foi na Finlândia, tivemos outra na Alemanha e nos EUA. Não vi nada para Portugal, mas com o parque eólico estamos a produzir mais do que ambas as operações em Portugal e Espanha necessitam. Já somos positivos para o clima em Portugal e Espanha. Há outros mercados onde tempos de acelerar o passo.

Que alterações estão a fazer na cadeia de fornecedores para garantir que estão dentro dos vossos objetivos ambientais?

Um dos temas importantes é a florestação e o outro a energia renovável. No que toca à madeira (Ikea usa 1% da madeira no mundo), estamos a trabalhar com o Forest Stewardship Council (FSC). 70% da madeira que usamos já é reciclada ou com origem em florestas certificadas pela FSC, assegurando a gestão sustentável das florestas. Trabalhamos também com a World Wild Life Foundation para assegurar que temos mais das nossas florestas no FSC.

Na energia renovável estamos a ver com os nossos fornecedores para ver como podem ter fábricas mais eficientes do ponto de vista energético e a trabalhar mais com energias renováveis.

Temos um código de conduta para os nossos fornecedores, seja de madeira ou plástico ou de luzes, temos mais de 10 mil produtos à venda nas lojas, e somos muito rígidos. Se detetamos uma violação ao código, damos tempo para resolver o problema, mas se vimos que o fornecedor não vai mudar, não está no mesmo caminho que nós, agimos. É a solução menos desejável, porque queremos mesmo desenvolvermo-nos com os nossos fornecedores, mas eles sabem que levamos este assunto a sério e mostramos isso com ações. Não é uma questão da equipa de sustentabilidade fazer auditorias nestes fornecedores, faz parte da nossa relação com estes fornecedores.

O programa de recompra é uma das formas encontradas para mudar o comportamento dos consumidores para uma maior sustentabilidade?

A consciencialização, perceber o que se passa no planeta e como as minhas ações no dia-a-dia têm impacto, é difícil, nem toda a gente está interessada. Por isso, a melhor forma é fazer isso através de atividades, tornando mais fácil às pessoas contribuir e fazer algo positivo. O programa de recompra de móveis faz sentido, pois ajuda os consumidores com um problema que têm (desfazer-se dos móveis que já não querem lá em casa). Quanto mais podemos refletir sobre as necessidades das pessoas, quais os pontos dolorosos da vida em casa, mais podemos encontrar soluções sustentáveis, as pessoas aderem porque simplesmente torna mais simples a sua vida.

E as pessoas estão a aderir?

O programa está a funcionar em 20 de 30 países onde estamos. E as pessoas estão a aderir. Sabemos que uma das grandes barreiras à compra é as pessoas não saberem o que fazer com as coisas que têm lá em casa, as pessoas vivem em apartamentos pequenos, com pouco espaço. Estamos a responder a uma necessidade. Ainda não é em larga escala, porque estamos a pedir para virem às nossas lojas para obter um voucher, ainda têm de ir à loja. Precisamos de encontrar soluções que sejam mais escaláveis e comercialmente viáveis. No Japão, recebemos 6 mil peças em 18 meses. Há um grande interesse. Temos o programa na Austrália, Bélgica, França.

Há alguma região onde sinta que que haja uma maior recetividade?

As pessoas na Ásia estão muito preocupadas com o que acontece às suas coisas quando já não as querem, na Europa as pessoas pensam na retirar objetos das casas para melhor as organizar. Em muitos mercados as pessoas já não sentem a necessidade de possuir os objetos e em outros é muito importante mostrar que têm, que podem comprar. Globalmente, estamos a ver uma ligeira mudança do possuir para o usar.

A maioria das pessoas vê que os seus objetos têm um valor económico, emocional ou funcional e não querem que a Ikea os deite fora, mas querem dar a alguém ou vender. Fizemos muita pesquisa em 14 mercados e não temos nenhum que diga que não se preocupa. Transversalmente, em todos os mercados as pessoas começam a ver a ligação entre as suas ações e a sustentabilidade.

Ser sustentável não prejudica os lucros das empresas, defende Lisa Jackson, responsável de sustentabilidade da Apple.

Somos rentáveis há 75 anos e temos tido atividade em torno da sustentabilidade durante grande parte desse período, por isso sim.

A sustentabilidade é sobre economia, sociedade e o ambiente, se levas uma companhia ao chão, se fazes tanto que não há dinheiro, isso também não é sustentável. Precisas de equilibrar quais os ganhos imediatos com as coisas que podem exigir um prazo mais longo, e mais esforço. Não há uma troca entre os lucros e o ambiente.

São uma empresa que aposta em design a preços acessíveis, o vosso negócio é vender. Como se gere isso com uma mensagem ambiental?

A nossa missão é criar um melhor dia a dia para as pessoas e é nisso que ser acessível é importante: acreditamos que uma casa bonita, com bom mobiliário não é algo só para algumas pessoas, mas para todos. Ser acessível é bom porque crescemos e tendo dimensão podemos pressionar a indústria da madeira, do algodão, iluminação… Quando há três anos decidimos mudar para lâmpadas LED, abandonando as incandescentes, isso deu um sinal muito forte. Vendemos 85 milhões de LED todos os anos. E podemos pressionar os preços: começamos a vender LED a 10 euros, agora é 1 euro. O que significa que é acessível para muitas pessoas fazer a mudança para LED.

Pode dizer que há uma contradição, mas todas as empresas existem para vender, mas é o que vendes e como vendes. E vender mobiliário que vem de materiais renováveis e sustentáveis, produzido em fábricas eficientes ao nível de energia, que usam energia renovável, e quando compras em lojas que são também alimentadas pelo vento e pelo sol é melhor satisfazer essa necessidade aí do que em outro lugar potencialmente menos responsável.

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