Ana Graça trabalha para a ONU em Cabo Verde; Alexandra Almeida está no European Investment Bank, no Luxemburgo, Hugo Silva, no Banco Central Europeu, Joana Peixoto e Marta Vieira trabalham para a AICEP, em Berlim. Além da nacionalidade, estes portugueses têm outro ponto a uni-los: foram estagiários do Inov Contacto, o programa que permite aos jovens portugueses saírem de Portugal para testar competências numa empresa internacional.
Os primeiros alunos portugueses saíram em 1997, mas a AICEP ainda lhes segue os passos, graças a uma rede de contactos criada para trocar ideias e informações e que “permite nunca lhes perder o rasto”. Ana, Alexandra, Hugo, Joana ou Marta são alguns exemplos “cujas vidas profissionais voltaram a cruzar-se com a AICEP”, mas nesta network há quatro mil ex-estagiários.
Os que fizeram o programa são mais. “Desde 1997, cerca de seis mil jovens já partiram numa aventura profissional para mais de 80 países, através do Inov Contacto”, conta Maria João Bobone, diretora do programa ao Dinheiro Vivo, estimando que em 22 anos mais de 1200 empresas estrangeiras tenham recebido talento português.
Deixar Portugal para entrar numa empresa internacional, num país que é selecionado à sorte, nem sempre é fácil. Mas pelas contas de Ana Bobone a taxa de rejeição é residual. “Porque, dos poucos que não ficam satisfeitos num primeiro momento, quase todos acabam por aceitar o desafio, já que sabiam desde a candidatura quais eram as regras do jogo. E o mais interessante é que acabam por valorizar muitíssimo a experiência e talvez até a aproveitem ainda mais”, conta a responsável. “Pegando no exemplo do Irão, tivemos dois estagiários que na 21.ª edição estagiaram em Teerão e ambos classificaram o seu grau de satisfação no final do estágio de forma elevada.”
Quando foi criada, esta iniciativa surgiu como um programa de formação complementar para jovens licenciados como se fosse uma extensão dos seus cursos superiores num outro país. “Há mais de 20 anos, era muito difícil ter uma experiência profissional internacional, mas já se identificava no meio académico uma apetência grande por parte dos jovens em experienciarem uma carreira internacional, pois desde o início houve uma enorme adesão junto de jovens licenciados”, diz a responsável.
A decisão do antigo ICEP e do Ministério da Economia aparecia como pioneira num mundo laboral onde a experiência internacional estava longe de ter a importância que tem hoje, mas onde já havia algum interesse. “O programa veio estimular a democratização da experiência internacional dos jovens portugueses, alargando o seu acesso a todos, independentemente da sua área geográfica e social. 22 anos depois, podemos afirmar que graças ao Inov Contacto foi possível criar uma rede social informal de conhecimento que incrementou competências quer junto dos jovens quer das entidades empresariais”, destaca Maria João Bobone. Ao mesmo tempo, a diretora do Inov Contacto identifica “valências competitivas em matéria de internacionalização” que este programa ajudou a trazer ao tecido empresarial nacional, e também à projeção do mundo do trabalho e da educação dos alunos que saem das escolas portuguesas.
Apesar de hoje haver muitos outros programas desta natureza, muitos promovidos pelas próprias universidades, o Inov continua a receber cerca de duas mil candidaturas anuais. E a experiência não se esgota no programa: Dos mais de cerca de seis mil jovens que já participaram neste programa, 40% são convidados a trabalhar na entidade de estágio e entre 25% e 30% não estão atualmente a trabalhar em Portugal, “o que prova que estes jovens adquirem um conjunto de competências de elevado valor acrescentado que lhes permite e facilita o acesso ao mercado de trabalho noutros países. Por fim, ao longo do tempo, temos verificado uma taxa de empregabilidade pós-estágio de cerca de 70%”.
Com o ano letivo terminado, o Inov Contacto abre agora para novas candidaturas. Entre 10 de setembro e 10 de outubro, os jovens com idades até 29 anos, residentes em Portugal e que não trabalham, não estudam nem estão a fazer qualquer formação – os jovens nem-nem – podem candidatar-se a uma experiência internacional numa das empresas parceiras.
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