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A área do retalho/distribuição representa 19% do valor consolidado das 100 marcas portuguesas mais valiosas este ano, segundo dados da OnStrategy. Os valores são citados ao Dinheiro Vivo por João Porto, partner da ERA – Expense Reduction Analysts (empresa prestadora de soluções especializada em procurement), para explicar de que forma pode a inteligência artificial (IA) reduzir a despesa no setor do retalho ao mesmo tempo que ajuda a potenciar a economia.
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“Podemos identificar padrões de consumo individualmente, identificar relações entre os padrões de consumo e relacionar tudo isto com o potencial de venda dos nossos produtos”, explica João Porto, lembrando que “a IA permite trabalhar volumes muito grandes de informação”. Com esta ferramenta, e já após a venda, os algoritmos podem potenciar a capacidade de automatização, para responder de forma mais satisfatória ao cliente. “Todas estas aplicações da IA permitem a diminuição de encargos, o aumento das vendas, ou ambos”, frisa o gestor.
Diz João Porto que, globalmente, existe uma previsão, por parte do setor do retalho, de se investir 10 mil milhões de dólares por ano, até 2025, em IA. No entanto, esta é uma ação que está a revelar-se lenta, “com apenas 40% dos retalhistas a implementarem IA, segundo a International Data Corporation (IDC)”. E, apesar de não dispor de números que digam respeito a Portugal, o responsável da ERA acredita que, por cá, “o cenário seja mais positivo” e que o nosso país se mantenha na linha da frente da inovação.
Os benefícios da inclusão da IA no retalho são inúmeros e, de acordo com João Porto, é mesmo uma “necessidade transversal que beneficia tanto o setor alimentar como o não alimentar”. Por vários motivos, embora aponte o logístico como o mais importante. Isto porque a IA pode ser muito útil na cadeia de fornecimento e abastecimento, desde a produção até́ à distribuição. “Seja pela otimização das rotas, da gestão e do planeamento de transporte, reduzindo os tempos de trânsito e os custos associados”, detalha.
Paralelamente, poderá ajudar a procurar com base em dados históricos, sazonalidades e tendências do mercado, facultando a otimização da produção e do stock (em tempo real), evitando excessos ou faltas, especifica o responsável. Da mesma forma, a IA pode otimizar rotas e cadeias de abastecimento.
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Já no que respeita ao consumidor, vai permitir a criação de experiências e sugestões de compra em múltiplos canais (tanto nos físicos como nos digitais). “E através da análise do comportamento e padrões de consumo dos clientes, permite apresentar ofertas de forma personalizada”, refere João Porto, que garante que os chatbots e assistentes virtuais serão mais sofisticados e capazes de entender e responder de maneira mais natural e eficiente às necessidades dos clientes.
“Há, portanto, muita margem para os consumidores ficarem muito mais satisfeitos com este setor e aqueles que conseguirem adotar e aplicar essas tecnologias de maneira eficaz terão uma vantagem competitiva”, considera o gestor.
Embora João Porto não disponha de dados concretos, implementar esta tecnologia poderá não ser tarefa rápida e acessível economicamente, mas, como refere, existem, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) programas específicos de apoio à digitalização da economia.
“O problema de Portugal é ser um país limitado por uma intervenção excessiva do Estado, nomeadamente no domínio taxativo”, declara, afirmando que esse problema é maior que “o contexto macroeconómico atual”. E aqui a IA não tem como ajudar.
Quanto ao retorno que uma empresa nacional possa ter, após implementar a IA – retorno esse que João Porto lembra que dependerá da dimensão da empresa e do investimento -, o gestor diz não ter ainda informações nesse sentido. “Não obstante, se um negócio libertar uma margem de lucro de 40%, o retorno de um investimento desta natureza será mais rápido do que um negócio que liberta 10%”, considera.
A nível nacional, explica João Porto, a prioridade das empresas no que à implementação de IA diz respeito tem sido investir na digitalização de processos internos por forma a poupar, reduzir desperdícios e automatizar alguns processos.
Os investimentos visam também integrar o negócio na gestão com o cliente online (sites e plataformas de compras) e, por último, embora segundo o responsável não se veja tanto, a transformação do modelo de negócio em função do digital.
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