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Nascida e criada na transformação de tomate, a Sogepoc preparou, nos últimos anos, um investimento na produção de nozes no Alentejo. Em São Manços, nos arredores de Évora, crescem 614 hectares de nogueiras há três anos, em duas propriedades, a que se juntam mais 170 de amendoeiras na zona de Estremoz.
Tiago Costa, CEO da Sogepoc, a holding da família Ortigão Costa – que conta também com a Sugal -, explica ao DV que a oportunidade foi identificada no Chile. O grupo já tem parceiros naquele país da América Latina, onde aprendeu algo do mundo da noz. “Já estamos muito presentes no Chile, por via da atividade com a indústria do tomate. Começámos a ver tudo o que o Chile fez para se tornar no segundo player mundial no setor das nozes; e vimos que havia uma grande referência ao modelo de produção americano. Começámos então a usar uma conjugação dos dois para vermos o que faria sentido ter em Portugal. Como já tínhamos toda esta ideia pensada e estruturada, mesmo com a pandemia decidimos arrancar.” Este arrancar obrigou a um investimento de perto de 48 milhões de euros, em terrenos, plantação de nogueiras e construção da fábrica. Só esta conta com 6,9 milhões de euros de investimento, apoiados pelo programa Compete 2020. Foi inaugurada ontem pelos ministros da Agricultura e da Economia, respetivamente, Maria do Céu Antunes e Pedro Siza Vieira.
Tiago Costa sublinha que esta é a primeira fábrica de nozes em Portugal e o maior projeto de nozes da Europa. O objetivo é simples: a Sogepoc quer abastecer o mercado europeu e intrometer-se entre os dois maiores fornecedores mundiais, respetivamente os Estados Unidos e o Chile.
“Os EUA, por exemplo, produzem entre 20% e 24%, mas abastecem 80% do mercado mundial de nozes. A China produz provavelmente 50% das nozes de todo o mundo, mas consome quase tudo.” Tiago Costa quer então aproveitar a vantagem geográfica, porque a fábrica terá capacidade de fazer entregas “numa semana, quando em relação aos EUA ou ao Chile serão 40 dias. Conseguimos ultrapassar tudo isso, fazer uma produção de qualidade, sustentável e assegurar que o cliente recebe a encomenda em pouco tempo. “Somos muito B2B, esse será o nosso maior foco. Os mercados de maior dimensão são Espanha, Itália e Alemanha – esta principalmente no mercado de miolo, porque importam tudo dos EUA e temos muito interesse em trabalhar com eles. Temos mesmo já em preparação alguns projetos para este ano”, conta.
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Já o mercado nacional vale sozinho cerca de 4 mil toneladas de nozes, mas o CEO explica que é um mercado saturado na noz inteira e muito sazonal no miolo de noz (Páscoa e Natal). “A produção nacional tem sido assegurada pelos produtores que já existem e onde vemos uma oportunidade é no miolo, onde pensamos que nos podemos posicionar e ter uma vantagem competitiva face aos americanos que abastecem este mercado. A noz aguenta seis a oito meses e quanto mais tempo fora da casca, menos qualidade resiste. A nossa oferta vai substituir essa oferta americana e fora do período de produção nacional vamos também importar com os parceiros chilenos e assegurar a frescura da noz no resto do ano.”
A ideia para este projeto surgiu em 2015 e em 2016 começaram as primeiras plantações de nogueiras. “Onde investimos menos foi na fábrica, o maior ativo está no campo.”
Do cascarrão ao prato
São filas e filas de árvores ordenadas, com espaço apenas para passarem os tratores. Cada árvore pode chegar aos 7/8 metros – mas ainda estão longe disso – e representa um custo de 17 a 20 euros, sendo cuidadosamente tratada, até com protetor solar, contra o forte calor alentejano. A água vem toda da reserva do Alqueva, com um complexo sistema a assegurar que chega a cada árvore. “A nogueira não gosta de ter “os pés molhados”. São bem regadas uma vez por semana e isso é gerido também consoante as chuvas.”
A fábrica tem uma zona destinada a tratar do pomar com fitofármacos, espalhados por tratores modernos e devidamente equipados, uma zona de armazém e a linha de produção. A colheita é feita uma vez por ano, normalmente em outubro, com um sistema de vibração. As nozes, ainda dentro da casca verde, o cascarrão, são recolhidas e levadas para a fábrica, onde entram numa primeira máquina com cerca de 50 metros de comprimento. Aqui é feita a primeira lavagem, a separação de resíduos e eliminação do cascarrão. A noz como a conhecemos passa então para o interior da unidade fabril para entrar na secagem e daí para a calibragem, onde é separada por tamanhos, para embalamento ou para a área de recolha do miolo. Depois de devidamente embalada pode ser comercializada.
Dá emprego a cerca de 100 trabalhadores, quase todos locais e todos a receber acima do salário mínimo. Pode produzir até 6 mil toneladas de noz por ano e Tiago Costa quer a linha de miolo a trabalhar todos os dias. “Podemos ainda crescer, estamos a falar de 6 mil toneladas de capacidade de processamento, mas a fábrica pode aumentar a produção na ordem dos 20%/30%. A fábrica é só um instrumento para assegurar que a qualidade que vem do campo é mantida e passada aos nossos clientes”, afirma Tiago Costa.
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