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Há anos que a Apple não faz a sua grande apresentação de verão em direto e ao vivo e a desta semana não foi exceção. A empresa apresentou com vídeos pré-gravados o seu novo alinhamento de smartphones, iPhone 15, sem a componente exibicionista de outrora, mas com o otimismo de sempre.
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“Estes são os melhores e mais capazes iPhones que alguma vez fizemos”, disse o CEO Tim Cook durante a apresentação, gravada na sede em Cupertino. “Na Apple, tentamos criar produtos inovadores e as melhores experiências para nos ajudar a fazer as coisas que mais importam nas nossas vidas.”
Embora os novos telefones não marquem diferenças substanciais em relação ao 14, deverão bastar para manter a empresa no topo. Os quatro modelos que vão chegar às lojas a 22 de setembro – iPhone 15, 15 Plus, 15 Pro e 15 Pro Max – apresentaram melhorias suficientes para justificar otimismo num mercado em queda.
“Estimamos que, nos primeiros doze meses, vão vender 150 milhões de iPhones 15”, disse ao Dinheiro Vivo Francisco Jerónimo, vice-presidente associado da divisão de dispositivos na IDC EMEA, que esteve em Cupertino para experimentar os novos modelos. É um volume que deverá permitir à marca, agora vice-líder atrás da Samsung, voltar a ser número um mundial no último trimestre de 2023.
“A Apple vai continuar a crescer e a aproximar-se e, eventualmente, vir a tornar-se o maior fabricante a nível mundial”, indicou Francisco Jerónimo. “Vai ganhar quota de mercado ao Android, como tem vindo a acontecer.”
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A IDC já tinha referido isto na revisão das previsões para o mercado global de smartphones este ano. As vendas vão cair para mínimos de uma década em 2023, mas o sistema operativo do iPhone deverá atingir a quota de mercado recorde de 19,9%. O iOS vai crescer 1,1% enquanto o líder Android vai cair 6%.
“A Apple tem algo que mais ninguém tem: uma base de utilizadores, cerca de mil milhões, em que 60% tem um telefone com quatro ou mais anos”, frisou Francisco Jerónimo. “Têm aqui uma base de 600 milhões de utilizadores preparados para trocar de telefone.”
É por isso, considerou, que mudou a estratégia no iPhone 15. Enquanto anteriormente havia um grande fosso entre os modelos mais baratos e as versões Pro, na iteração 15 essa diferença foi esbatida.
“Estão a fazê-lo porque em termos económicos as pessoas não estão a nadar em dinheiro e cada vez mais se preocupam com o custo de vida”, referiu o analista. “A Apple tem uma base de utilizadores bastante alargada. A grande maioria tem telefones com mais de quatro anos e para poder atrair esses utilizadores a renovar não podiam apostar apenas nos telefones de alta gama.” Sem modelos recentes para dar à troca e receber desconto, estes clientes não estão dispostos a pagar mais de mil dólares por um iPhone Pro, que foi a gama que mais vendeu nos últimos dois anos.
Os destaques dos iPhones 15
É assim que chegamos ao iPhone 15 (6,1 polegadas) e iPhone 15 Plus (6,7 polegadas) com melhorias que Jerónimo considera interessantes. Estas versões são mais baratas – custam a partir de 799 dólares nos EUA e 989 euros em Portugal – e têm agora funcionalidades que antes estavam reservadas aos Pro, como a ilha dinâmica no topo e uma câmara traseira de 48 megapíxeis, mais a “nova geração” da captura de retratos e telefoto 2x. Lá dentro, o chip A16 Bionic traz a capacidade do Pro do ano passado para a versão mais barata.
O design foi refrescado com um novo contorno e os telefones vêm envoltos em vidro com infusão de cor, que a Apple diz ser o primeiro da indústria. Verde, azul, rosa, amarelo e preto são as cores à escolha.
Nos modelos premium 15 Pro e 15 Pro Max os tons são mais sóbrios (natural, preto, azul ou branco) num corpo que é agora feito de titânio. O diretor de marketing da Apple, Greg Joswiak, disse, no evento, que este é “o material mais premium” que a marca já usou num produto, tornando-o simultaneamente mais resistente e menos pesado. É algo que Francisco Jerónimo confirmou. “O titânio torna o telefone realmente mais leve, nota-se a diferença”, referiu. O especialista também disse que, nestes ecrãs, as impressões digitais não ficam tão marcadas e são mais resistente aos riscos.
Com bordas mais finas, os 15 Pro trazem um novo botão de ação na lateral, que vai substituir o interruptor de som. “Parece uma coisa simples, mas que já devia ter sido feita há muito tempo”, frisou Jerónimo. O botão vai poder ser usado para várias coisas, como acionar a câmara, e o utilizador irá escolher que funcionalidades lhe quer atribuir. Dá “mais conveniência e versatilidade à experiência do iPhone”, caracterizou Greg Joswiak.
No interior dos telefones reside o chip A17 Pro, que o vice-presidente de engenharia, Sribalan Santhanam, disse ser “um enorme passo em frente.” Referiu que é o primeiro chip da indústria de três nanómetros, com 19 mil milhões de transístores usados para melhorar “o desempenho, eficiência e funcionalidades.” Além disso, o motor neural é duas vezes mais veloz e a unidade de placa gráfica 20% mais rápida, permitindo, por exemplo, “uma experiência mais imersiva” nos jogos móveis.
Tal como nos anos anteriores, é dado um grande destaque às câmaras, em especial no Pro Max. O modelo, que custa a partir de 1499 euros em Portugal, terá o zoom mais longo (5X com distância focal de 120mm) e é o primeiro smartphone a suportar o padrão de cor ACES (Academy Color Encoding System) da Academia de Hollywood. Será o único dos iPhones 15 com a capacidade de gravar vídeo espacial (3D), que depois poderá ser visualizado com os óculos de realidade estendida Vision Pro.
Carbono zero
Um dos destaques foi a atenção dada às iniciativas de sustentabilidade, o que até motivou um “sketch” com a atriz Octavia Spencer a fazer de Mãe Natureza. A marca lançou o Apple Watch Series 9 como o seu primeiro produto “carbono zero” e atualizou compromissos até 2030, como a intenção de ter todas as operações em neutralidade carbónica e usar materiais reciclados.
A empresa também anunciou que os iPhones 15 passarão a usar cabos USB-C para carregamento e transferências de dados, acatando uma decisão da União Europeia que passaria a obrigatória no final de 2024, e está a tornar os telefones mais reparáveis.
“O que é pena é que não tenham lançado um programa de recolha e reciclagem dos cabos”, apontou Francisco Jerónimo. “Estamos a falar de milhões de cabos que existem por esse mundo fora e nos próximos anos vão acabar num caixote do lixo”, incluindo os acessórios com lightning que vão ficar obsoletos quando as pessoas comprarem os novos iPhones.
“Teria sido interessante, dada a mensagem que a Apple tem de sustentabilidade e reciclagem, oferecerem esse programa nas lojas deles ou as pessoas poderem enviar para um ponto de recolha”, sublinha.
Igualmente ausente foi a referência à febre do momento, a Inteligência Artificial Generativa. A Apple preferiu usar referências subtis, focando-se no que torna a vida dos utilizadores mais fácil. Tim Cook terminou com uma análise ousada: “O Apple Watch e o iPhone são essenciais.”
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