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Chama-se Jason Silva, tem 39 anos e nasceu na Venezuela mas é nos Estados Unidos onde tem feito carreira como futurista, filósofo, realizador e apresentador de programas da National Geographic como Origens e Brain Games.
O seu objetivo principal é entusiasmar as pessoas em torno da filosofia, ciência e tecnologia e é visto como o Timothy Leary (psicólogo, neurocientista e ícone dos anos 1960) dos vídeos virais, já que brilha nas redes sociais – do YouTube, ao Facebook e Instagram -, mas também dá palestras por todo o mundo, incluindo para a NASA e a Google.
Um verdadeiro contador de histórias desde que se conhece, que adora aliar criatividade, espiritualidade, tecnologia e humanidade. Falamos com ele sobre os efeitos da tecnologia no comportamento humano, sobre o potencial de seres sintéticos, como o storytelling na ciência faz a diferença e o potencial da psicoterapia e o uso de psicadélicos para expandir a mente em algumas circunstâncias.
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Destaques da conversa
Numa época de muitas distrações graças à tecnologia, Jason admite que adora passar tempo na natureza para ter uma perspetiva mais clara e afastada do mundo digital, sem distrações.
“A minha visão é que a natureza pode-nos dar um espaço de acalmia e quietude interior interessante, sem distrações e entro mais facilmente num estado meditativo e por onde as ideias fluem mais facilmente“, diz. Ainda assim mas não costuma prescindir do seu smartphone e a coluna e as ferramentas para usufruir de forma mais completa da natureza. “Para mim tudo isto faz parte de encontrar uma simbiose entre natureza e cultura e tecnologia”.
A importância de pensadores e filósofos modernos na atualidade é crucial já que a sociedade está a mudar como não mudou em muitas décadas graças à era digital.
Jason interessa-se mais pela filosofia da área de fenomenologia e pelo foco nas mudanças pela experiência humana – “mapear as nossas experiências interiores e a nossa vida interior e perceber como isso é impactado pelo exterior”.
[A fenomenologia surge na filosofia como ciência sobre a experiência que a consciência tem do mundo, a relação entre a consciência do saber humano e o mundo exterior a ela. O objetivo é investigar e descrever os fenómenos enquanto experiência consciente. O intuito é desnudar “o mistério do mundo e o mistério da razão”, como afirmou Merleau-Ponty, no prefácio da Fenomenologia da Percepção.]
“Vivemos numa era de mudança exponencial – coisas como a Lei de Moore, que governa a velocidade do progresso da tecnologia está a ser ultrapassada e precisamos mais do que nunca de lidar com as implicações desta disrupção”. Cita ainda o biólogo e naturalista Edward O. Wilson:
“O verdadeiro problema da humanidade é o seguinte: temos emoções e cérebros paleotícos, instituições medievais e tecnologia divina” – “The real problem of humanity is the following: we have Paleolithic emotions, medieval institutions, and god-like technology”.
“Avançámos tão rápido tecnologicamente que os nossos cérebros têm dificuldades em acompanhar e temos de encontrar formas de lidar com os assuntos criados pela mudança tecnológica e social e encontrar formas de nos reconciliarmos, ajustarmos e adaptarmos. Tudo coisas que aconteciam num maior período de tempo antes, mas agora o comboio saiu da estação no que diz respeito a mudanças tecnológicas”.
O ser humano “já é aumentado, uma espécie ciborgue”. Daí que Jason Silva explica que as “distrações em excesso da era digital ainda são um problema complicado de gerir”. “Estamos a aprender”.
Já sobre o flop dos Google Glass há uns anos e o regresso em força em 2021 dos óculos de realidade aumentada: “Precisamos que este tipo de tecnologia aumente a nossa capacidade mas não convolua – não nos enrole ou distraia, seja só um aumento”.
“O smartphone, bem usado, faz isso também, expande as nossas capacidades, mas temos de ser conscientes com esse poder, porque o telefone tem muitas funções e podemos-nos perder se não orientarmos o nosso foco e formos conscientes no uso – as notificações excessivas são um problema porque competem pela nossa atenção.
De certa forma não é muito diferente de colocarmos comida para alimentar os nossos corpos, se comermos demais ou certas coisas em excesso vamos ficar obesos e há um grande grau de responsabilidade pessoal que serve para determinar as melhores práticas, para usar a ferramenta de forma a nos melhorar sem distrair.
Tudo o que confirma os nossos preconceitos ou nos enraivece de alguma forma pode ser tornado arma contra nós, para criar uma espécie de bolha com filtros e que, basicamente, nos fecha numa espécie de realidade virtual alternativa
Facebook, redes sociais e divisão na sociedade
“É parecido com um Casino, tudo o que nos dá dopamina ou suscita uma reação em nós é incentivado pelos algoritmos”.
“Tudo o que confirma os nossos preconceitos ou nos enraivece de alguma forma pode ser tornado arma contra nós, para criar uma espécie de bolha com filtros e que, basicamente, nos fecha numa espécie de realidade virtual alternativa e começa a separar-se do mainstream (do que é visto como normal pela maioria). Daí nos alimentar com extremismo e pensamentos conspirativos, estas são as consequências inadvertidas das redes sociais, mas são também as consequências inadvertidas de toda a tecnologia. Quando temos um prego tudo parece um prego ou quando temos uma arma na mão vamos ser mais incentivados em fazer mal e tudo parece ser um alvo e as nossas hipóteses mudam. O desenho serve como agente.
“Devemos ter uma abordagem mais holística e responsável face à tecnologia”.
“Televisão tradicional tem os seus limites demasiado formatados e a internet tem muita mais liberdade, tal como a possibilidade de criar conteúdos pelo iPhone. O meu estilo evoluiu com estas ferramentas.”
Fala-se ainda do cérebro humano e a sua evolução para o futuro com ajuda tecnológica, exploração espacial, seres sintéticos ao estilo Star Trek e se estamos sozinhos no universo.
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