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Tem sob a sua gestão 11 centros comerciais e retail parks -como os Armazéns Chiado, Almada Forum ou o Braga Retail Park – e um edifício de escritórios em Portugal e Espanha. João Cruz assumiu o cargo de diretor-geral ibérico da Multi Portugal depois de uma “pequena reestruturação em áreas de suporte não estratégicas”. Hoje são 55 colaboradores em Portugal e 15 em Espanha. Uma reestruturação “em consequência da pandemia e dos impactos económicos gerados”.
A mesma pandemia que, segundo dados da Associação Portuguesa de Centros Comerciais (APCC), levou ao fecho de 200 lojas no ano passado. Destas, 13 eram em shoppings da Multi. Mas como abriram outras 13, “o balanço é neutro”.
Os centros reabriram com filas às portas das lojas. As vendas subiram 13% face a valores pré-pandemia, diz a ReUniq. A Associação de Marcas de Retalho e Restauração fala em quebras de mais de 25%. Em que ficamos?
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Há de facto uma subida significativa das vendas em loja nos centros comerciais nestes primeiros dias de abertura pós-confinamento em 2021 versus o pós-confinamento de 2020, como refere a ReUniq. Interessa perceber se esse aumento se mantém sustentável durante o resto do ano e o que podem os centros fazer para continuar a ser um espaço seguro e confortável para a retoma da vida normal das pessoas. Nos espaços geridos pela Multi Portugal, estamos confiantes nesse fator decisivo e tudo temos feito com os nossos parceiros para continuar a crescer e a assegurar uma retoma rápida e sustentável.
A procura pós reabertura poderá mitigar a quebra de receitas com a extensão, até final de junho, do desconto até 50% das rendas fixas. Que perdas antecipa?
A reabertura é ainda muito recente, mas os números são encorajadores. Os lojistas estão a recuperar a um ritmo mais rápido do que na saída do confinamento em 2020. Como tal tem que haver equilíbrio nos apoios que a indústria dos centros comerciais necessita, sejam eles lojistas ou proprietários. Não nos podemos esquecer que as perdas são bastante significativas quer em 2020 quer em 2021, e há setores mais sensíveis do que outros.
E depois de junho? Os lojistas terão capacidade para pagar 100% das rendas, quando o rendimento das famílias está a reduzir-se?
Os dados das vendas revelam uma retoma robusta no consumo. O nível de poupança existente sugere que o consumo privado terá que aumentar, pois as pessoas passaram muitos meses confinados e sem necessidade de consumir. Com o retomar da normalidade é expectável uma retoma económica geradora de níveis de consumo semelhantes aos tempos pré-pandemia. À medida que a situação sanitária se for normalizando, também as nossas equipas podem proporcionar novas experiências aos visitantes e o tráfego poderá aproximar-se dos níveis habituais. Com o ritmo de vacinação atual temos a expectativa de ter uma segunda metade do ano bastante mais favorável. Naturalmente que existem algumas atividades que, pela sua natureza, terão que continuar a ter apoio da parte dos proprietários, tal como sempre aconteceu no passado e continuará a acontecer no futuro.
O setor queixa-se de ser o único a apoiar os lojistas dos centros. Tem sido discriminado nos apoios do Estado?
Naturalmente. Não há moratórias ou apoios para os proprietários de centros comerciais pelo que, aliado às imposições legais a que fomos sujeitos – que consideramos inconstitucionais – agravam qualquer quadro de saúde financeira. Há um enorme desequilíbrio nos sacrifícios que são pedidos aos proprietários dos centros comparado com os de imóveis em lojas de rua e isso tem que ser corrigido urgentemente. A intervenção do Estado nesta matéria revelou-se desastrosa e desnecessária, criando mais desigualdades por se tratar de uma legislação cega que tratou todos os lojistas por igual. Para além disso, gerou incerteza que afastou investidores estrangeiros do nosso país.
A associação europeia dos centros descreve a situação portuguesa, com a Lei das Rendas, como “inédita” e a APCC alertou para a possível quebra de investimento dos fundos em Portugal. Como têm sido as conversas com os acionistas dos centros?
Temos diversos proprietários, cada um com a sua visão para Portugal. O sentimento comum dos diversos proprietários para a qual a Multi gere os ativos, é de que a confiança no mercado português está muito comprometida, pondo em causa o investimento efetuado em Portugal. Esta decisão deve-se à incerteza legislativa gerada pela lei das rendas variáveis, que consideramos inconstitucional e está em apreciação pelo Tribunal Constitucional.
O setor tem pedido maior flexibilidade nos rácios de visitantes em loja. Que outras medidas fariam sentido?
Temos os rácios de visitantes por metro quadrado mais restritivos comparativamente a outros países na Europa, sem necessidade. O nível de exigência e controlo de gestão nos centros são elevadíssimos, quer estejamos a falar da limpeza e higiene, do controlo de acessos ou da circulação de pessoas. Desde os primeiros alertas da invasão da pandemia que a Multi Portugal fez os possíveis para tornar os seus espaços os mais seguros, pelas pessoas e não só por obrigação. Estão certificados com o Clean & Safe e vamos além daquilo que são as exigências impostas pelas entidades públicas. Esta limitação pode ainda, em alguns casos, revelar-se contraproducente, pois gera acumulações de pessoas em filas desnecessárias, algo que não é de todo o que se pretende nesta altura. As outras medidas são apoio a setores que durante os confinamentos tiveram faturações de zero, pois nem todos faziam parte de atividades fáceis de funcionar através do comércio online. Os cinemas são caso disso, que além de verem dificultada a sua retoma devido à lotação, não conseguiram outros meios para sobreviver aos meses de confinamento.
A APCC prepara um plano de retoma. O que está a ser pensado?
A Multi Portugal é uma das associadas da APCC e estamos a par do trabalho que tem sido desenvolvido. Ainda assim, não nos cabe a nós apresentar ou comunicar qualquer iniciativa nesta fase.
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