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Foi uma das empresas que marcaram a bolsa portuguesa e uma época no mercado de capitais nacional. João Pereira, um dos seus fundadores, conta os bastidores do lançamento da ParaRede em bolsa e como se viveu o rebentar da “bolha” das tecnológicas em 2000, até à sua saída do projeto, em 2002.
Porquê escrever este livro? E porquê agora?
É uma história que deve ser contada. A ParaRede marcou uma época no setor tecnológico em Portugal, desde a década de 90 até ao princípio deste milénio. A ParaRede esteve na linha da frente, na liderança, da introdução de uma série de tecnologias, de soluções, de produtos de terceiros e depois desenvolvidos pela própria ParaRede, e que hoje fazem parte do nosso quotidiano, e que naquela altura não existiam. Teve a capacidade ao longo do seu tempo de vida de estar sempre na linha da frente. No mercado livreiro existem excelentes livros sobre teoria de gestão de empresas. Raramente encontramos uma obra escrita por quem a viveu, por gestores, empresários, e que nos consigam transmitir qual era a sua vivência, qual era a história do dia-a-dia da empresa. Em que contextos é que se tomavam algumas decisões estratégicas. Há lições que se tiram da criação da startup. A empresa era muito informal, muito preocupada com o cliente mas simultaneamente era uma empresa em que alguns dos processos internos tinham algumas deficiências. A passagem de uma empresa com esta informalidade para uma empresa que dali a um ano iria estar cotada na Bolsa de Valores. É uma mudança muito grande. Como uma empresa foi reestruturada e organizada para ir para a bolsa. Como tudo se passou em um ano e tal. Tivemos a ajuda da Roland Berger, que nos ajudou a criar a nova organização.
“A passagem de uma empresa com esta informalidade para uma que dali a um ano iria estar cotada em bolsa é uma mudança muito grande.”
Havia a Reditus mas após a estreia da ParaRede, a certa altura, a bolsa portuguesa tinha algumas TMT (tecnológicas, media e telecoms). Por um lado, beneficiaram com o facto de estarem em bolsa mas o rebentar da bolha em 2000 tornou-se uma pedra no caminho da ParaRede?
Influenciou a ParaRede mas não só. Nós entrámos em bolsa no dia 1 de julho de 1999. Tivemos uma reunião um mês antes com os acionistas, o BPI e o CBI, onde íamos decidir se íamos realmente avançar com o processo em bolsa. E decidir o intervalo de preço. O BPI colocou na mesa a possibilidade de entrarmos em bolsa. Porque, ao contrário do que as pessoas dizem, que a ParaRede aproveitou a euforia bolsista para entrar em bolsa, naquela altura, as bolsas estavam a descer. Na Europa estavam a cair de forma importante. Algumas tentativas de estreia em Bolsa estavam a cair. O contexto da nossa entrada na bolsa era um contexto duro. O que aconteceu foi uma loucura. Nós entrámos em julho. No primeiro dia de cotação as ações subiram mais de 20% e no final do ano a ação estava no mesmo valor. No último trimestre de 1999 os índices começaram a disparar e nós estávamos na mesma. A empresa mudou a sua comunicação e posicionamento, assumindo-se como uma empresa de Internet.
Também aflora a relação com os bancos e os avales com o BES. Aqui tem-se acesso a algumas informações sobre como pode ser complicado para os gestores a relação com bancos que são acionistas. Pensou duas vezes antes de escrever esta parte?
Não, não pensei duas vezes porque foi uma situação absolutamente incrível e que merecia ser contada. Há duas situações interessantes. Quando temos bancos como acionistas, há a situação em que o banco tem um interesse como acionista e outro como banco. O BES juntou tudo isso com prejuízo para a ParaRede e que foi uma das causas que originou os problemas que surgiram posteriormente.
“A Novabase é uma empresa fantástica. Houve essa tentativa para juntar as empresas.”
Entende que os bancos e sobretudo o BES tiveram um peso muito grande para o desfecho…
Sim. Quando as coisas correm bem são todos amigos. Quando começa a haver problemas os bancos são muito pragmáticos. Entram a salvaguardar os seus interesses claros.
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Também é interessante ler o tema que aborda a tentativa de fusão com a Novabase.
Sim. A Novabase é uma empresa fantástica. Houve essa tentativa de juntar as dinâmicas empresariais. Nós já tínhamos o nosso programa de entrada na bolsa. Logicamente que era um plano que tornava apetecível a entrada de novos parceiros. Mas a Novabase decidiu seguir pelo seu caminho próprio e muito bem.
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