Os vinis são cada vez mais uma certeza no mercado musical. A venda deste tipo de discos está a crescer em Portugal, mesmo na era em que não faltam formas de ouvir música pelas plataformas digitais (streaming). Os jovens, até aos 30, são o público que mais aposta neste produto, em detrimento dos CD (compact disk).
Portugal, de alguma forma, está a acompanhar a tendência dos Estados Unidos. Neste mercado, os vinis renderam mais do que os CD nos primeiros seis meses deste ano. Enquanto os discos de grande dimensão renderam 232,1 milhões de dólares (cerca de 200 milhões de euros), os CD renderam 129,9 milhões de dólares (cerca de 112 milhões de euros), segundo dados publicados há duas semanas pela associação discográfica norte-americana (RIAA, na sigla original).
No mercado doméstico escasseiam dados sobre a venda de discos, sejam compactos ou de grande dimensão: a Associação Fonográfica Portuguesa/Audiogest não tem registos das cópias comercializadas junto de boa parte das editoras independentes e das lojas online de dispositivos físicos. Contactada há uma semana pelo Dinheiro Vivo, a mesma associação não disponibilizou quaisquer números.
Nas lojas, a perceção é que os grandes discos são cada vez mais procurados e comprados. “Temos assistido a um crescimento constante, a dois dígitos todos os anos, na venda de vinis, o que tem permitido compensar, em certa medida, o decrescimento na venda de CD”, indica Inês Condeço, diretora de marketing e comunicação da Fnac, que conta com praticamente 30 lojas em Portugal.
Em Lisboa, na Louie Louie, “as vendas têm crescido ao longo dos últimos 10 anos”, com as editoras a apostarem cada vez mais nas reedições”, assinala Jorge Dias. Fenómeno semelhante assiste-se nas lojas da Tubitek e da Auditu, em Porto, Braga e Leiria. “Nota-se que o vinil tem tido um acréscimo de vendas muito grande. Uma das faixas etárias que mais consome é a adolescente e vai até aos 30 anos”, refere José Augusto Soares.
Com este público, “existe uma grande margem de progressão. Se o vício estiver incutido, vão começar a refinar as coleções para discos especiais” – mais rentáveis para as lojas e para as editoras – e a “comprar equipamentos com melhor qualidade”. Para corresponder à jovem paixão pelos vinis, a Fnac já tem gira-discos a partir dos 30 euros.
A apresentação e a sonoridade explicam estas compras. “É a diferença entre ouvir a gravação num estúdio ou então no Royal Albert Hall”, aponta um dos responsáveis da Tubitek. Inês Condeço assinala que o streaming “torna a paixão pela música muito etérea. O vinil é uma forma mais apaixonada e intemporal de a viver”.
No início dos anos 2000, enquanto o vinil andava fora dos tops de vendas, o rock foi um dos suportes de vida deste formato, graças aos colecionadores, recorda Pedro Vindeirinho, da Rastillo Records e da Alma Mater. Atualmente, “há muito mais títulos no mercado e o consumidor tem uma opção muito maior”. O vinil abrange cada vez mais géneros musicais, como world music, jazz, pop-rock e música alternativa. Exemplo disso é possibilidade de comprar discos da sul-coreana K-Pop nas lojas da Fnac.
O lado da incerteza
Mesmo em ano de pandemia, a Tubitek preparara-se para abrir uma loja em Lisboa, em meados de outubro. Mas em algumas lojas receia-se que a covid-19 possa quebrar o ciclo de crescimento dos vinis.
“Os discos de vinil estão cada vez mais caros por pressão da indústria, que tenta compensar as perdas de vendas noutros formatos. Há mais pessoas interessadas mas não há compradores. Isso vai fazer com que os CD voltem a ter algum protagonismo”, avisa Jorge Dias, da Louie Louie.
Da Carbono, em Lisboa, João Moreira receia que “os preços façam as pessoas fugir dos vinis” e que, “por causa dos efeitos da pandemia, “as lojas acabem por fechar. Quem tem poder económico vai optar por formatos digitais”.
Mesmo sem se saber se o vinil é uma moda ou algo passageiro, a responsável de comunicação da Fnac lembra que o aumento do consumo deste produto “é algo a que se assiste noutras categorias, como máquinas fotográficas, merchandising ou mesmo filmes e séries com edições de colecionador”.
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