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A Xiaomi está a crescer brutalmente em Portugal. No último trimestre entrou no top das marcas mais vendidas de smartphones, 168 mil, mais que triplicou os números. O que justifica este entusiasmo?
A Xiaomi, apesar de ter dez anos, conseguiu cativar muitos consumidores em muitos mercados. A marca começou numa plataforma online e disseminou-se muito rapidamente nos mercados fora da China. No caso da Europa, onde estamos, na maioria dos países de relevo já somos número 1. Quando montámos a operação em Portugal, a partir de abril, já tínhamos níveis de notoriedade muito consideráveis mesmo sem presença ou investimento físico. E de facto conseguimos duplicar o portfólio e o leque de equipamentos que trabalhávamos nos clientes e começámos a gerir o supply chain mais adequado ao mercado. Com isto e com várias iniciativas nos retalhistas com quem temos parceria expandimos a rede de lojas exclusivas da Xiaomi, conseguimos responder à procura que já existia mas muitas vezes não encontrava os produtos no mercado nacional. E com base nisto, conseguimos atingir os 24% do mercado.
São a segunda marca do país.
Exatamente. As vendas quadruplicaram face ao mesmo período do ano passado e o negócio não smartphones – uma das grandes diferenciações da Xiaomi – duplicou receitas. E aí temos muitos equipamentos, com preços que vão de 9,90 euros a 500 ou 600 euros. Este é um grande pilar. O segundo grande pilar do nosso crescimento foi a conectividade muito grande do consumidor português à marca, porque somos muito ligados aos nossos Mi Fans – apesar de não termos ainda uma comunidade local, havia muitos consumidores portugueses que já conheciam e estavam filiados em bases de dados internacionais e que adereçamos com uma consistência de posicionamento que vai ao encontro daquilo que cada vez mais os consumidores procuram. E que é tecnologia de ponta, mas que seja acessível. Nós desenvolvemos essa lógica inclusiva no desenvolvimento da tecnologia. E hoje estamos com chavões tão grandes de digitalização e da transformação das sociedades e as deformações de utilizações dos consumidores, e a nossa tecnologia e o nosso modelo de negócio permitem ter um binómio de preço/qualidade que permite a inclusão de cada vez mais consumidores. Estes dois grandes pilares de notoriedade da marca, abastecimento adequando ao mercado, ter propostas de valor que as pessoas viam noutros mercado e agora veem em Portugal e onde estão habituados a comprar, portanto, numa rede de operadores, ou na rede de retalho ou através das nossas lojas exclusivas, conseguiram de facto ter mais visibilidade e houve uma procura, obviamente, substancial.
E isso rendeu-vos o prémio de “Fabricante do Ano”.
Exatamente. Fomos reconhecidos pela Exame Informática como Fabricante do Ano 2020/2021 e o júri apontou duas ou três razões. A primeira foi num curto espaço de tempo colocarmo-nos tão junto do consumidor. Não há nenhuma marca em Portugal que em um ano tenha construído 15 lojas exclusivas da marca – e ainda vamos abrir mais duas neste ano. Apresentamos aqui 600 ou 700 equipamentos para compra, havia muitos pedidos dos consumidores para trazermos produtos acessíveis e conseguimos um footprint de lojas muito assinalável, mesmo em ano de pandemia. E tivemos uma reação superpositiva à marca, que corrobora os dados de awareness, consideração e preferência que conhecíamos mesmo sem investimento.
Nas lojas que têm privilegiam o comércio de rua ou os centros comerciais?
A grande ambição nas lojas, em primeiro lugar, é ser uma bandeira da marca – não há espaço no retalho tradicional onde se consiga expor de forma transversal 600 referências. Não é que não queiramos, mas é impossível num espaço físico. Neste ambiente de lojas conseguimos ter este número de equipamentos e ligar os equipamentos, porque o nosso ecossistema é em 85% conectado entre si com a nossa aplicação Mi Home – e nestas lojas conseguimos demonstrar todas estas funcionalidades da digitalização da nossa vida. Em várias filosofias: temos os smartphones, depois temos a Smart Life, o Smart Home, o Smart Entertainment… E como é que desenvolvemos este footprint? Primeiro, tentando cobrir o maior número de população – e para isso fomos para os principais centros e cidades. Queremos estar em todas as capitais de distrito de Portugal, sendo que temos duplicações em cidades como Lisboa e Porto, pelo número de população. O rácio a que gostaríamos de chegar no próximo ano é de uma loja por cada 200 mil habitantes, são cerca de 27 lojas; e complementado com os nossos principais parceiros de retalho tradicional e operadores, queremos encurtar o espaço entre a marca e o consumidor. Por isso, desenvolvemos um conceito de lojas próprias com esta filosofia e estamos a explorar um conceito novo que acho que nenhuma outra marca de eletrónica se arriscou a explorar, mesmo para cidades mais pequenas.
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Como assim?
Quisemos trazer a tecnologia para estes centros comerciais mais pequenos, em que tipicamente as marcas não investem, através de quiosques, que estamos a testar em Paços de Ferreira, Bragança e Castelo Branco. Assim podemos auscultar e perceber qual é a necessidade daquela região para depois abrir uma loja – portanto, temos uma lógica de experimentar outro tipo de conceitos para ajudar os consumidores dessas cidades que não estão tão no coração das marcas. Quando me fala de lojas de ruas ou centros comerciais, obviamente que em Portugal somos reféns do consumo em shopping. Nós temos duas lojas de rua, Porto, na Rua Sá da Bandeira, e Lisboa, no Chiado. São duas posições estratégicas porque são emblemáticas nestas duas cidades e nelas respondemos ao mercado nacional e internacional, porque são zonas muito turísticas; e temos um portefólio também de Smart Life que qualquer pessoa em viagem pode precisar, de acessórios para o smartphone (carregador, mala de viagem, kit para o smartphone…).
Que expectativas tem para este Natal em termos de vendas?
Temos um comportamento diferente nas várias categorias mas relativamente ao ano passado, e uma vez que estamos presentes e fizemos um planeamento para este período, a nossa posição vai ser fortalecida neste Natal, nas diferentes categorias. Falamos muito em smartphones e estamos muito habituados porque de facto o smartphone – também na nossa empresa – é um peso gigante e é o coração, o início de toda a experiência. Mas acabámos de introduzir a linha de televisões que já está presente em quase todo o mercado. E será uma categoria que vai aportar muito valor e muita visibilidade à marca, sendo, a seguir aos smartphones e aos laptops, uma das estrelas na eletrónica de consumo. Fizemos já uma época de promoção de Black Friday muito forte e aproveitámos esse momento de grande procura para posicionar as nossas televisões.
Que meta têm para os resultados deste ano?
Seguramente vamos consolidar a nossa posição em smartphones como a segunda marca com mais consumidores em Portugal. E há várias famílias em que já somos reconhecidamente número um como os wearables – os nossos (smartwatches) Band 6 e Band 5 são os bestsellers. Somos seguramente número um em trotinetes – a mobilidade elétrica é também uma área em que apostamos e que estamos a fortalecer; e daqui a uns anos esperamos ter também os carros elétricos, conforme foi anunciado pelo nosso fundador. Queremos colocar a nossa bandeira nas televisões e acreditamos que podemos chegar a 10% de quota de mercado em televisões em Portugal já neste período que vem da Black Friday até ao Natal. Não podíamos ter um melhor ano de arranque, o que cria bases muito sólidas para o próximo ano.
Que investimento fez a Xiaomi em Portugal e qual é a perspetiva para os próximos tempos?
Não partilhamos valores de investimentos. Acima de tudo, o que estamos a fazer é uma estrutura forte em termos de montar a estrutura de negócio em Portugal. Uma equipa que todos os dias cresce.
E tem quantas pessoas?
Mais de 15 pessoas já a trabalhar dedicadas ao negócio português. Em marketing, gestão, retail…
E quantas pessoas prevê contratar até ao investimento total?
Prevemos mais do que duplicar a estrutura nos próximos dois anos.
Portanto, até 2023 a Xiaomi vai investir na infraestrutura?
Exatamente. Porque é nossa ambição trazer cada vez mais novas categorias, que até hoje ficam no mercado doméstico, a China, e que ainda não foi possível trazer para a Europa. Com a digitalização cada vez mais premente, queremos mais categorias também aqui.
Falou no supply chain mais adequado aos portugueses. O que é que isso quer dizer?
Significa que através desta equipa local, que é muito experiente no mercado, conseguimos ter uma relação próxima com os clientes, fazer um planeamento adequado às necessidades do mercado e à dimensão da ambição do mercado e conseguimos aprovisionar stock alocado ao mercado português à medida das necessidades e daquilo que o mercado procura. Obviamente que para isso é preciso planeamento, é preciso estar junto dos parceiros locais para planear todo o ciclo promocional e de lançamento e com uma equipa local a trabalhar a marca isso é mais fácil porque é mais conhecedora do mercado e isso permitiu-nos adereçar junto dos headquarters um planeamento adequado e um planeamento para os ciclos promocionais que tem o próprio ano.
Como é que se consegue ter tecnologia de topo e preços baixos?
É um segredo que vou revelar! Nós temos, como disse, um modelo de negócio muito diferente dos concorrentes desta indústria. A empresa começou há dez anos, no online e no desenvolvimento de software. E através do online conseguiu ter toda esta aceitação e notoriedade porque tentámos, e penso que conseguimos, fazer a otimização de toda a cadeia de valor. Isto começa na fábrica e no R&D, ou seja, temos uma otimização primeiro ao nível da construção dos equipamentos, temos fábricas inteligentes que trabalham robotizadas e já com orientação ao nível de custos energéticos muito determinante. São fábricas que conseguem trabalhar 24 horas e com captação de energias renováveis.
Respondem já aos desafios da sustentabilidade, da economia circula, etc.?
Exatamente. Temos uma preocupação muitíssimo grande em tudo o que é eficiência produtiva. Depois, em toda a cadeia de valor procuramos otimizar este footprint do supply chain que trazemos e queremos otimizar cada vez mais. E no final da cadeia, os nossos fundadores determinaram que cada vez que um equipamento, um produto ou uma categoria representa mais de 5% de net profit o lucro remanescente é reinvestido no negócio. Com esta otimização em toda a cadeia de valor até à margem bruta que a companhia definiu como cap, permite-nos ter esta filosofia de inclusão. Isto permite-nos ter, em qualquer categoria, uma lógica de compromisso com os Mi Fans e eles reconhecem esta filosofia, que nos permite ter uma lógica de massificação de tecnologia, que serve o propósito desta economia de inclusão. Ou seja, os nossos fundadores disseram, “não queremos deixar ninguém para trás; acreditamos que conseguimos produzir com o nosso investimento e R&D, com a nossa cadeia de valor otimizada e com esta lógica de geração de profit otimizada, a melhor tecnologia”. Por exemplo: um smartphone com o melhor processador, o melhor ecrã, a melhor qualidade de câmara, a melhor inteligência artificial, captação de imagem… e este pacote de valor com um preço cerca de 20% ou 30% do preço médio de mercado. Isto é possível por esta otimização de cadeia de valor. Temos isto tudo otimizado e as fontes de receita da companhia derivam não só do hardware mas também do negócio que temos da internet, portanto, da customização do Android e dos nossos próprios canais de venda, como o Midout.com. Se calhar é por estarmos inseridos num conceito de economia mais moderna, mais responsável, mais circular, mas acima de tudo inclusiva. E este compromisso a companhia quer mantê-lo, queremos dar aos consumidores essa oportunidade de aproveitar este tempo em que vamos transformar completamente a nossa forma de estar, de estudar, de trabalhar, de termos entretenimento, com a digitalização – potenciada com o 5G. E queremos colocar a tecnologia ao serviço de todos e não a deixar para uma elite ou um grupo restrito de pessoas.
Que impacto é que tem tido a crise das matérias-primas, a crise dos chips, a crise da logística, na vossa operação? Não tem tido porque dominam todo a cadeia ou têm sentido também?
Procuramos através de supply chains globais prever e antecipar, e fazemos um planeamento com um período suficientemente seguro para que consigamos ter o melhor abastecimento. Obviamente que dentro deste fenómeno de procura maior do que era a oferta dos chips, todas as indústrias foram afetadas, umas categorias mais do que outras. Tivemos categorias afetadas, designadamente a parte dos smartphones, apesar do nosso desenvolvimento, porque, neste momento, gostaríamos de ter mais equipamentos para entregar, mas não prejudicaram sobremaneira os nossos objetivos neste mercado. E tivemos outras categorias que não tiveram qualquer impacto, no nosso caso, por exemplo, as televisões, mas outros fabricantes tiveram. Por exemplo, nas trotinetes não tivemos nenhum impacto, os wearables não tiveram nenhum impacto porque conseguimos planear e conseguimos colocar também na cadeia de abastecimento essa nossa procura. Diria que já todos aprendemos um bocadinho com este mundo novo que nos obriga a estimar cada vez com mais frequência, a dar planeamento e a arriscar mais a longo prazo, trabalhar com os nossos parceiros de mercado também, e aí os nossos parceiros de mercado também têm tido um papel fundamental porque fazem planeamento connosco com mais antecedência para ciclos maiores e conseguimos ajustar também a produção de uma forma mais eficiente.
E estão a pensar trazer novos produtos para Portugal ou o portfólio que têm hoje em dia já é representativo de toda a dimensão da empresa?
Não. Estamos longe. Nós temos uma estratégia para Portugal e queríamos concretizar até 2024, portanto, contando já com o 2022. A nossa estratégia chama-se “Conectar Portugal” e a nossa ambição é ter pelo menos um Mi Fan por cada família portuguesa, por cada agregado familiar. Sabendo nós que temos 4 milhões de casas em Portugal, queremos nestes três anos colocar nas casas dos portugueses pelo menos um equipamento, ou um e meio equipamento, e chegar aos 5 milhões de equipamentos conectados em Portugal até 2024. O que é que isso significa? Significa que queremos contribuir positivamente em todo o espetro digital de um consumidor de hoje e acreditamos que, pelos estudos que temos, hoje temos uma penetração de produtos conectados muito baixa face a cada indivíduo, e estima-se que em 2025, 2026, teremos cerca de 5, 6 equipamentos conectados por utilizador. Consideramos que a Xiaomi é a marca que está mais bem preparada para fazer este caminho. É por isso que a nossa ambição é conectar Portugal e ajudar. Indo concretamente à sua questão, trabalhamos na China, para lhe dar uma grandeza do nosso portfólio, mais de dois mil equipamentos. Em Portugal trabalhamos cerca de 500, 600 equipamentos. Portanto, temos uma margem de progressão muito grande. Poderá perguntar: mas o que é que poderá vir mais? Temos planos, em primeiro lugar, para solidificar as categorias existentes, porque dentro das categorias existentes ainda há muitos equipamentos. E estamos a estudar em como alargar o nosso o ecossistema de IT que é hoje composto apenas por monitores, routers, extensores de sinal e, recentemente, o tablet. Falta-nos PC. Temos na China e estamos a estudar, de uma forma muito criteriosa, se conseguimos no próximo ano lançar a nossa gama de laptops em Portugal. Vamos fazendo alguns países europeus e queremos também que Portugal siga este caminho. Este é o primeiro. Consolidamos uma esfera muito importante que é o IT e o segmento de IT que é fundamental não só para o entretenimento mas também para uma perspetiva de trabalho, e queremos fechar este ciclo de IT. Depois, estamos a olhar também para os eletrodomésticos. Temos uma gama muito vasta do que chamamos de cozinhas inteligentes. Em Portugal ainda só conseguimos trazer uma fritadeira, uma placa de indução e chaleiras conectadas e isto é 1% da gama de eletrodomésticos que existe na China. Temos um conjunto de máquinas de lavar conectadas, em que esta deteta automaticamente o estilo e o tipo de roupa que estamos a introduzir. Conseguimos introduzir, e queremos introduzir, frigoríficos inteligentes, que temos também na China, que detetam o que é que está dentro do frigorífico e podem dar-nos um guia de compras, através da aplicação, por compartimento, o que é que está em falta. Isto são só alguns exemplos do potencial daquilo que podemos trazer. Queremos trazer cada vez mais equipamentos, mas obviamente temos que ter uma estrutura local adequada para os trazer. Às vezes há determinadas categorias quer do ponto de vista logístico quer do ponto de vista de negócio que é preciso estarem adequadas, que neste momento ainda não estão. Mas a nossa visão é trazer todo este mundo conectado porque há uma procura cada vez maior por estes produtos conectados, porque as vantagens são de facto muito diferentes e ajudam-nos no dia-a-dia. Queria partilhar um estudo que fizemos na pandemia, que acho que é interessante. Fizemos um estudo sobre os hábitos de estar em casa durante a pandemia, e notámos três ou quatro curiosidades. Notámos que um target muito jovem, ou seja, dos 15 aos 25 anos, mudou pelo menos o seu quarto quatro ou cinco vezes. Mudou de disposição e de utilização, ou seja, uma geração jovem que se viu obrigada a estar em casa e que mudou muitas vezes o set up do seu quarto trazendo novos equipamentos, trazendo disposições diferentes e trazendo equipamentos diferentes para dentro desse quarto. Trouxe aparelhos de áudio, aparelhos de vídeos, de jogos, e mudou. E depois, tivemos uma faixa etária maior que reconheceu que a casa e a sua interação com a casa era chata, “boring”, como diz o estudo. Nós passamos hoje horas e horas a fio com os smartphones. Hoje os smartphones fazem coisas fantásticas. Eu falo com o smartphone. E as pessoas habituaram-se a um determinado nível de inteligência com alguns equipamentos que quando ficaram em casa estáticos, ou a trabalhar ou a cuidar das crianças, notaram que a sua casa em termos tecnológicos e da sua interação tinha ficado muito para trás. Então, começaram a procurar muitos equipamentos que tornassem a sua vida mais inteligente. Chaleiras conectadas. Diz-me: mas eu só quero aquecer água. As nossas chaleiras conectadas, primeiro, permitem uma coisa muito simples que se calhar a sua chaleira não lhe permite, que é estar sempre à temperatura que quiser. Pode ter a chaleira na cozinha e você pode estar na sala e ela está sempre à mesma temperatura. E pode também monitorizar a temperatura que está na chaleira. Ou seja, se quiser ter sempre a água quente ou imagine que vai fazer um chá e põe a água a ferver. Isso pode ser controlado através do smartphone. Isto é um exemplo muito básico de uma chaleira que não pensávamos que pudesse ser conectável. Outra coisa muito interessante que se assiste é, por exemplo, as câmaras de vigilância, das quais temos um portfólio muito vasto tanto para casa como para o exterior. À partida pensamos que a tecnologia tem que ser complexa, tem que ser complicada e que as utilizações são por uma questão de roubos, de segurança. Há um índice muito grande de utilização das câmaras domésticas, destas câmaras que vendemos todos os dias, e que são muitas, milhares – fiquei surpreendido com o número de câmaras que vendemos -, para falar com os animais de estimação. Porquê? Porque as nossas câmaras têm altifalante e têm microfone e através da aplicação, além de eu ver o que é que se está a passar na minha casa, eu posso falar tipo walkie talkie para dentro de casa. Há uma procura cada vez maior nesta questão da relação com os animais de estimação. Atrevo-me a dizer que através da Xiaomi, com um pequeno investimento, pode transformar a casa num grande smartphone. Quando pensamos na câmara, quando pensamos num hub em que você pode dizer desliga-me as luzes, passa-me as luzes para amarelo, passa-me as luzes para vermelho, baixa-me a intensidade da luz, ou seja, pode falar para os equipamentos, e isso é de uma forma que não precisa de pedir uma instalação, é tudo muito simplificado. Através de uma aplicação conseguimos perceber que conseguimos transformar a vida das pessoas. Existe ainda um caminho grande a percorrer, em trazermos mais equipamento, mais profundidade na nossa gama, porque acreditamos que toda esta digitalização e todo este entendimento vai primeiro tornar a nossa vida muito mais fácil, seguramente mais divertida e com mais eficiência. Acreditamos que tudo isto vai potenciar, e sempre com o binómio preço/benefício.
O 5G pode desempenhar aí um papel também ou é só mais uma ferramenta?
Claramente. A Xiaomi é neste momento a empresa que em termos de investimento em 5G e conectividade com os equipamentos 5G está a colocar em termos de R&D, que são cerca de 11 centros espalhados em todo o mundo, que está a pôr no mercado. Nós colocámos uma meta de investir nos próximos cinco anos cerca de 7 biliões de dólares em 5G IoT e qual é o nosso conceito? Não é colocar um mais outro, mas sim multiplicar. Porquê? Porque sentimos que através da tecnologia de 5G e através dos serviços que existirão no 5G, agora sim vamos ter a explosão do IoT. Porquê? Havia muitas empresas que com a tecnologia existente do 4G e sabendo que ia surgir uma nova plataforma de comunicação, muitas empresas de serviços que, obviamente o 5G, e voltando um bocadinho atrás, é um conceito de ecossistema. Ou seja, o 5G por si, ou a tecnologia por si, não vai determinar uma experiência. É preciso que existam os operadores que transmitam o sinal, é preciso que existam empresas de consumo que disponibilizam equipamentos que captem este sinal, mas no meio é preciso que existam empresas que desenvolvam serviços para que esses aparelhos usem. E vai de facto ser determinante, ou seja, o 5G vai ser completamente disruptivo porque é pela primeira vez a tecnologia que nos permite ter um mundo totalmente wireless com a máxima segurança, com a máxima qualidade em termos de velocidade e, acima de tudo, ilimitado na ligação, ou seja, podemos ter milhões de equipamentos ligados entre si. O que é que isso significa? Significa que estamos com um desenvolvimento tão grande nesta área, porque toda a parte da IoT que já se fala, se calhar nós já andamos a falar há 5, 6, 10, 15 anos, ainda não teve o seu boom máximo porque todas as empresas de serviços, e mesmo as empresas de IoT que desenvolviam hardware estavam um pouco expectantes para a nova tecnologia que é o 5G, e então esperaram todos, porque o 4G não permitia utilizar a plenitude, e então estávamos todos à espera desta tecnologia. O que é que isto vai permitir? Vou dar-lhe alguns exemplos assustadores e espero que não sejam para si assustadores mas sejam surpreendentes do ponto de vista de futuro. Mas são de facto assustadores do ponto de vista do que nós utilizamos. Começo por um exemplo que é o robot aspirador. Nós temos neste vídeo um cenário hipotético, mas não está assim tão longe da realidade, que um aspirador aspira, imagine, uma parte da casa de banho. Geralmente na casa de banho temos cabelos humanos. Portanto, ele ao aspirar o cabelo humano tem a capacidade de analisar, através do software aqui existente e com os seus sensores…
Percebe se a pessoa está doente, por exemplo.
Exatamente. Com o nível de proteína que existe no seu cabelo dá-lhe uma notificação e vai dar-lhe através desse serviço uma recomendação no que diz respeito à alimentação que vai necessitar. E se ligarmos isto depois ao Smart Cooking, ele dá-lhe uma sugestão de que tipo de confeção é que pode fazer nesse equipamento e que tipo de receitas. Portanto, estamos aqui a falar de um mundo assustador mas tudo isto no mercado doméstico da China está a ser feito de uma forma de ecossistema desenvolvimento de negócio. Existe a transmissão, que é o 5G, é o sinal para nos dar dados imediatos, existe por parte das empresas de consumo o hardware e, por outro lado, as empresas de software que estão a criar para estes cenários. Portanto, estes três só podem funcionar em conjunto e o output final é em conjunto. Estes são exemplos muito fáceis de prever e que já estão a ser estudados. Vou dar-lhe outro exemplo, menos assustador. As nossas bands ou os nossos relógios, todos eles medem o nível de tensão e o nível de pressão sanguínea e o nível de pressão de oxigénio. Todos. Só que eu hoje apenas posso mostrar ao meu médico, porque hoje há médicos que já aconselham a determinados indivíduos utilizar porque os ajuda, e hoje só consigo, olhe mostre-me aqui o próximo registo e na próxima consulta, está dentro dos parâmetros, não está dentro dos parâmetros, as pessoas vão monitorizando. O que é que este vídeo também me mostra? Não com um médico, mas imagine que você está em casa e adormece no sofá. Quando se adormece existem determinados parâmetros que baixam e portanto se considerarmos esse padrão e se considerarmos nesta lógica do 5G, imagine que depois o seu ambiente em casa, as luzes ou a televisão, vai ser tudo…
Percebe que eu estou a dormir e apaga-me a televisão, baixa-me as luzes…
Exatamente. E coloca-lhe em vez de uma luz normal uma luz com uma temperatura diferente, e portanto tudo isto está demonstrado no vídeo. Quando vemos este vídeo e quando você começa a ver, ah, mas este equipamento a Xiaomi tem, este equipamento também a Xiaomi tem, este equipamento a Xiaomi tem… Você consegue perceber que estes cenários não estão tão longe da realidade e que o 5G vai permitir isto. Mais uma vez, é preciso este ecossistema, ou seja, operadoras que tenham o serviço, empresas de hardware que desenvolvam para esta tecnologia e, obviamente, serviços que vão corroborar. Portanto, estamos muito entusiasmados com o 5G. O 5G finalmente vai chegar a Portugal.
E chega tarde ou vem a tempo?
Penso que houve muita discussão. Fomos um dos últimos países no espaço europeu a chegar. Acho que podia ter chegado mais cedo. Consideramos que podíamos ter de alguma forma acelerado alguns ecossistemas de empresas a trabalhar já para o 5G, mas penso que temos um conjunto de operadores muito capaz em Portugal, operadores que são inovadores e que têm cases muito inovadores na Europa e que provaram que o pensamento português e o desenvolvimento tecnológico português é muito reconhecido também na Europa, e penso que os operadores em Portugal vão fazer um caminho fantástico no 5G. Temos, como empresas de hardware, que desafiar também os operadores em Portugal a enriquecerem e a trazerem cada vez mais use cases para Portugal e de experiências que temos noutros países e temos também essa missão, e acreditamos que tal como já habituámos e temos dos melhores benchmarks a nível de população conectada, população com acesso à Internet, qualidade de acesso à Internet, penetração de Internet nos lares portugueses, serviços de excelência… Acho que temos todas as condições para com esta tecnologia que, mais uma vez, é a primeira tecnologia que vai verdadeiramente ligar o mundo de consumo ao mundo empresarial, temos toda essa capacidade de em Portugal fazer esta transformação digital nos próximos anos.
E o investimento nos carros elétricos também pode chegar a Portugal?
É uma categoria muito recente e isso revela que a Xiaomi se posiciona no mercado de uma forma diferente…
E que tem uma ambição grande.
Tem uma ambição muito grande e voltando um pouco atrás, acreditamos que toda a parte do ecossistema do conectável vai se transformar nos próximos 10 anos. Se hoje formos para um carro elétrico percebemos que não estamos num carro, estamos quase num smartphone em ponto grande. Na maior parte dos carros elétricos hoje já conseguimos instalar jogos, fazer download de buzinas, o que nos carros tradicionais não conseguimos. E os nossos fundadores têm esta capacidade de visão e têm uma capacidade de visão que reconheceram que provavelmente daqui a 10 anos os carros elétricos, que não chamamos carros elétricos, chamamos smartcars elétricos – Smart Electric Vehicles -, vão ser o novo smartphone para o utilizador. Colocámos como meta criar uma empresa própria, foi anunciada o ano passado, com um investimento dedicado, onde estamos a recrutar toda a expertise que existe na indústria para nos ajudar a desenvolver já com a expertise que temos da conectividade e com a experiência de conectividade esta indústria, e, obviamente, apontámos, como no mercado doméstico, em 2024 lançarmos os primeiros carros elétricos. Obviamente para Portugal não conseguimos provisionar nem expectar. Aquilo que acreditamos é que a Xiaomi mais uma vez demonstra a sua capacidade de investimento em tecnologias, a sua visão, e vai trazer para a marca, seguramente, um valor e um posicionamento muito grande que vai posicionar-nos num dos líderes da indústria nos próximos anos.
Porque não será só para dentro, será para exportar?
Não sei quais são os planos mas as ambições são sempre, como empresa global…
300 mil carros na China, enfim… Pode haver uma estratégia até de fazer para fora.
Essa estratégia não é conhecida, o que é conhecido é que a empresa coloca uma ambição muito grande em trazer inovação para o seu consumidor, inovação para a indústria e ter essa visão que existem categorias onde usamos e que precisam de facto ser digitalizadas. E o carro elétrico posiciona-se nessa categoria que não chamamos carro elétrico, chamamos um carro inteligente, nesta lógica de ecossistema.
O Tiago já passou pela Olay, pela Samsung. Em que é que são diferentes os desafios que tem agora na Xiaomi?
Acima de tudo a Xiaomi é uma empresa muito recente. É uma empresa que nasce já dos consumidores nativos digitais, e é um grande desafio porque, em primeiro lugar, estamos a montar uma operação quase do zero em Portugal, num ambiente de grande transformação da sociedade e dos consumidores. Adereçamos muitas categorias que nenhum dos outros fabricantes dispõe e também todo o nosso modelo de negócio e a nossa abordagem aos consumidores e ao mercado é muito diferenciador. Portanto, e isso é um desafio diferente, é um desafio novo. É muito desafiante porque estas tecnologias que falámos e com o footprint que a Xiaomi tem e quer trazer, e as ambições que tem para Portugal acarreta muitos desafios. Acredito que isto colocado em cima de uma transformação tecnológica que nós vamos assistir vamos ter muitas boas dores de cabeça e quando colocamos uma estratégia de conectar Portugal, uma ambição quase de missão porque nós acreditamos que temos o melhor portfólio para o fazer nas várias vida e ambiente do consumidor se possa situar, acredito que é um grande desafio.
Qual é o peso de Portugal, na área da Europa, para a Xiaomi de negócio?
Nós já somos líderes nalguns principais mercados europeus, como por exemplo, Espanha, que somos número um em smartphones, pelo menos há um ano e um trimestre, temos já posições de liderança nalguns trimestres em França e Itália, e nos países de Leste nos smartphones. E nalgumas categorias somos sempre número um, por exemplo, nas trotinetes, nos wearables. Ainda somos uma subsidiária com um peso relativamente pequeno dado também à nossa presença, começámos em Abril a nossa operação. Consideramos que temos um ecossistema muito conectado com a filosofia de consumidores portugueses, temos um dado de portugueses que somos early adopters, e isso também ajudado com a infraestrutura de conectividade que existe em Portugal, permite-nos ter um sentido de grande positivismo face ao que vai ser o deployment de desenvolvimento da marca em Portugal, não só pelas categorias mas também por todas as condições que nós vemos que em Portugal existem. E conseguimos perceber que tendo este posicionamento muito alargado e de massificação, de uma lógica inclusiva pela nossa própria filosofia de negócio, acreditamos que estamos também mais adaptados e adereçados por uma geração cada vez mais jovem. Ou seja, eu vejo hoje jovens cada vez mais preocupados com uma economia sustentável, preocupados com fazer mais coisas com menos, e nós acreditamos que podemos fazer isso acontecer. Acreditamos que a tecnologia não tem que ser cara nem tem que ser complexa.
Nem tem que ser renovada só porque sim de ano a ano.
Exatamente. Acreditamos que com esta filosofia conseguimos adereçar melhor os desafios da nossa sociedade.
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