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Lisboa e Porto estão na lista de destinos do novo comboio noturno de luxo que poderá arrancar de Paris a partir de 2024. A Midnight Trains é a empresa ferroviária que quer promover as viagens sobre carris e praticamente sem impactos para o ambiente. Até à viagem inaugural, contudo, é preciso superar os obstáculos da burocracia, da infraestrutura e do material circulante.
“Queremos reinventar a experiência do comboio noturno, ao propormos serviços de hospitalidade em hotéis sobre carris. Seremos uma alternativa confortável e sustentável aos voos, proporcionado um novo padrão nos serviços ferroviários noturnos”, destaca ao Dinheiro Vivo, por escrito, Romain Payet, um dos fundadores da Midnight Trains, em conjunto com Adrien Aumont.
Cada comboio só terá compartimentos privativos, para os passageiros viajarem sozinhos, em casal, em família ou com amigos. Além do serviço de bar e de restauração, os clientes terão acesso a uma experiência a bordo personalizada, através de uma aplicação móvel.
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A chegada a Lisboa e ao Porto será feita através de rotas separadas para “conseguir obter horários compatíveis”, adianta o mesmo responsável. Com as duas cidades portuguesas a mais de 1500 quilómetros de Paris, o comboio noturno é a única forma de partir ao final da tarde da cidade francesa e chegar a Portugal ao nascer do dia.
De Paris para Lisboa, o comboio deverá passar por Valladolid, seguir para Vilar Formoso, continuar pela linha da Beira Alta até Coimbra-B e depois descer pela linha do Norte até Lisboa.
Da capital francesa até ao Porto ainda não há uma rota definida, mas é provável que o comboio entre em Portugal através de Valença, pela linha do Minho, e não por Barca d’Alva, onde o troço da linha do Douro não tem circulação desde 1988.
Os franceses pretendem realizar as viagens com locomotiva e carruagens em segunda mão ou encomendar novas unidades. Para o comboio circular na Península Ibérica, as carruagens terão de ter eixos variáveis, mudando da bitola europeia para a ibérica através da passagem por intercambiadores do lado espanhol. Está ainda prevista a troca de locomotiva na fronteira de França com Espanha.
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Também a partir de Paris, a Midnight Trains quer levar os comboios noturnos a Madrid, Barcelona, Milão, Veneza, Florença, Roma, Viena, Praga, Budapeste, Berlim, Hamburgo, Copenhaga e Edimburgo. Por estarem a mais de 800 quilómetros da capital francesa, estas cidades não são servidas pelo TGV.
Além do conforto, o comboio noturno gera 23 vezes menos emissões poluentes do que o avião. Por exemplo, entre Paris e Roma, a viagem sobre carris gera 8,8 quilos de dióxido de carbono; a deslocação aérea emite 206,1 quilos de CO2.
A empresa recebeu investimento inicial de um consórcio de investidores locais. A lista é encabeçada por Xavier Niel, um dos patrões das telecomunicações em França e um dos maiores financiadores de startups.
A Midnight Trains conta ainda na equipa de conselheiros com vários ex-responsáveis da operadora ferroviária francesa SNCF, que serão uma ajuda preciosa para lidar com a burocracia ferroviária.
Sem revelar o capital inicial, a empresa conta com dinheiro suficiente para 12 meses. Será levantada uma nova ronda de investimento no início de 2022 para a compra de material circulante e o lançamento da primeira rota, entre o final de 2023 e o início de 2024. Serão lançadas mais três a cinco novas linhas entre 2026 e 2028 para reduzir os custos fixos e tornar o serviço lucrativo.
Desde março de 2020 que não existem comboios noturnos entre Portugal e França. O centenário Sud Express fazia a ligação entre Lisboa e Hendaye, num percurso que levava 13 horas, e que seguia em conjunto com o Lusitânia Comboio Hotel (para Madrid) até Medina del Campo.
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