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O BCP obteve um lucro de 138,1 milhões de euros em 2021, refletindo uma queda de 24,6% face ao ano de 2020, de acordo com as contas veiculadas pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) esta segunda-feira. Os números revelam um recuo ainda maior que o previsto pelos analistas (esperavam um lucro de 155 milhões), com a operação na Polónia a pressionar o desempenho global do grupo.
O grupo BCP viu a operação polaca influenciar negativamente as contas, devido a encargos de 532,6 milhões de euros associados à carteira de créditos em francos suíços concedidos pela subsidiária Bank Millennium. Em causa estão riscos legais associados à carteira de créditos hipotecários concedidos em moeda estrangeira (totalizam 2.305,2 milhões de zlótis).
Em conferência de imprensa, Miguel Maya, presidente executivo do grupo, sublinhou que, excluindo estes encargos, o grupo teria alcançado um resultado líquido de 404,9 milhões (+56,6% face a 2020). O banqueiro realçou que as contas ainda refletem efeitos negativos da pandemia da covid-19.
As contas foram ainda influenciadas “por itens específicos de 90,7 milhões de euros (essencialmente custos com o ajustamento do quadro de pessoal) em Portugal”. Comparando o ano de 2021 com o ano de 2020, a operação portuguesa viu o número de trabalhadores encolher em 724 pessoas (-10,3%) para um total de 6.289 funcionários. O CEO do BCP referiu-se a à diminuição do número de quadros como um “processo complexo e necessário para a sustentabilidade do banco”.
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Também as “contribuições obrigatórias para o setor bancário, em Portugal, de 56,2 milhões de euros” pesaram no balanço de 2021.
Nas contas do grupo, destacam-se os prejuízos de 291,9 milhões de euros da operação polaca. Já, em Portugal, o BCP registou um resultado líquido 172,8 milhões de euros, o que representa uma melhoria homóloga de 28,5%. Em Moçambique, onde o grupo controla o Banco Bim, o lucro da operação cresceu 37,7%, para 82,8 milhões de euros.
No global da operação do grupo BCP, a margem financeira subiu 3,7%, para 1.588,6 milhões de euros, com Miguel Maya a salientar um “comportamento positivo, apesar da compressão da taxa de margem [passou de 2%, em 2020, para 1,93% em 2021]”. “Resultou de maior atividade, de mais crédito e beneficiou também dos menores custos com o wholesale funding“, argumentou, referindo que a diminuição da taxa de margem financeira foi compensada pelo “volume da margem”.
O crescimento da margem financeira – apesar da diminuição da taxa de margem – resultou, entre outros itens, de uma melhoria de 4,5% do crédito a clientes, para 56,4 mil milhões de euros, bem como dos recursos totais de clientes que subiram 6,6%, para 90,1 mil milhões. Já os depósitos dos clientes cresceram em 7,8 mil milhões de euros. As comissões cresceram 7,6% para 727,7 milhões de euros.
Relativamente aos créditos, Miguel Maya revelou que o BCP reestruturou mais de 300 milhões de euros de créditos em moratória, de um total de mais de oito milhões de euros em empréstimos que estiveram neste regime e que expiraram no final de 2021.
“Desde o início, o BCP disse que as moratórias eram um escudo protetor da economia e não uma bomba relógio”, argumentou o banqueiro, asseverando que as moratórias que terminaram no final de 2021 não tiveram um “impacto significativo” no crédito vencido.
Contas feitas, o produto bancário registou um crescimento homólogo de 3,4%, para 2.334,4 milhões de euros.
Os custos operacionais agravaram-se em 2,3%, para 1.115,6 milhões de euros. Mas, sem contar com “itens específicos”, como a reestruturação, estes custos caem 1,8%, para 1.024,9 milhões.
Não obstante, o resultado operacional core, excluindo itens específicos, cresceram 10,9%, para 1.291,4 milhões de euros.
Na apresentação das contas, Miguel Maya chamou a atenção para a a rentabilidade dos capitais próprios (ROE) do BCP: “Está muito abaixo do nosso objetivo”. O ROE deslizou 0,7 pontos percentuais para 2,4%, refletindo a desaceleração nos lucros.
Os rácios de capital também traduzem a quebra dos lucros. Ainda que o grupo garanta que o rácio de capital total e rácio CET1 fully implemented tenham ficado “acima dos requisitos regulamentares”, ambos foram estimados em 15,8% e 11,7%, respetivamente.
A administração do grupo BCP anotou, ainda, ter níveis de liquidez “elevados, muito acima dos requisitos regulamentares”, tendo “ativos disponíveis para financiamento junto do BCE [Banco Central Europeu] de 25,5 mil milhões de euros.
BCP quer voltar aos dividendos, mas de forma “bastante moderada”
Perante os resultados, o banco liderado por Miguel Maya pretende voltar a remunerar os acionistas. Na mesma conferência de imprensa, o presidente do conselho de administração, Nuno Amado, usou a palavra para confirmar isso memso: “A intenção é voltar aos dividendos, mas de forma bastante moderada”.
“Entendemos que seria bom retomar o pagamento de dividendos”, reiterou, revelando que este é um tema “consensual” entre o conselho de administração e a comissão executiva. Contudo, não foi avançado o valor que será proposto na próxima assembleia-geral de acionistas, que deverá realizar-se no início de abril.
Não obstante a vontade de voltar a distribuir dividendos, Miguel Maya, CEO do BCP, explicou que o valor a propor respeitará “a situação que o banco vive, com enormes cautelas, que têm de ser superiores face aos riscos geopolíticos”.
Maya e Amadao vão continuar à frente do BCP
Questionados os principais rostos do BCP pelo futuro da administração, Nuno Amado revelou que foi convidado a continuar e que há intenção que Miguel Maya e a restante comissão executiva também continuem. A ideia de “continuidade” estará em linha com o objetivo do banco seguir para a “segunda fase de normalização e de crescimento da atividade”
A composição da comissão executiva e do conselho de administração também serão tema para a próxima assembleia-geral, que também servirá para arpovar as contas hoje apresentadas.
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