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O projeto-piloto de implementação da semana de quatro dias de trabalho tem sido alvo das mais diversas considerações, que gravitam entre a cautela e a curiosidade por parte das empresas. Atualmente são 41 as organizações participantes e desse universo 95% delas já se mostrou satisfeita com o novo modelo. Para algumas das empresas, é expectável que exista uma decisão até janeiro de 2024 sobre se a semana de quatro dias será algo a manter ou não.
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Não obstante aquela que poderá vir a ser a decisão final, essas empresas já têm estado a reportar as implicações do modelo em teste e, entretanto, já revelaram impactos como a redução do número de horas semanais efetivamente trabalhadas em 11,3%, de 41,1 para 36,5 horas, ou a redução de 19% dos níveis de exaustão causada pelo trabalho.
As 41 empresas envolvidas no teste abrangem mais de mil trabalhadores, sendo que 21 dessas organizações só integraram o piloto em junho de 2023, com um total de 332 colaboradores. Na grande maioria das entidades (58,5%), foi implementado um dia livre por semana, sendo que em 20% das empresas o dia livre coordenado é à sexta-feira, segundo revelam as conclusões intermédias referentes à segunda fase do piloto, que foram apresentadas esta terça-feira, em Lisboa.
Os coordenadores do estudo, Pedro Gomes, professor de Economia da Universidade de Londres, e Rita Fontainha, professora associada de Gestão Estratégica de Recursos Humanos na Universidade de Reading, sublinharam, no entanto, que a semana de quatro dias não se trata de “trabalhar da mesma forma, mas com a sexta-feira livre”.
Aliás, os próprios dados suportam a afirmação, uma vez que só 20% das empresas aderiram à sexta-feira livre e que os modelos de aplicação do piloto foram, na verdade, múltiplos. Por exemplo, 41,5% das empresas optou por instituir uma quinzena de nove dias, alternando uma semana de quatro dias com uma semana de cinco dias.
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Contudo, as alterações não se cingiram apenas ao número de horas trabalhadas ou aos dias livres. A larga maioria das empresas envolvidas, 75%, aplicaram mudanças ao nível organizacional, designadamente com a redução das reuniões e tempo de duração das mesmas, precisamente para evitar o desperdício de tempo e minimizar os impactos na produtividade. Também a criação de blocos de trabalho e a adoção de novos softwares fizeram parte das mudanças.
Além dos impactos concretos nas empresas, o modelo da semana de quatro dias produziu também resultados junto dos trabalhadores, nomeadamente na sua saúde mental. Foram vários os indicadores que apresentaram tendências decrescentes, incluindo no que diz respeito à ansiedade (-21%), fadiga (-23%), insónia ou problemas de sono (-19%), estados depressivos (-21%), tensão (-21%) e solidão (-14%).
O panorama do equilíbrio entre vida pessoal e profissional também se alterou, com a maioria dos trabalhadores (65%) a revelar que passou mais tempo em família depois da redução horária. Adicionalmente, a percentagem de colaboradores que sentia ser “difícil ou muito difícil” a conciliação entre o trabalho e as responsabilidades familiares desceu de 46% para 8%.
Perante os relatos conseguidos junto dos trabalhadores, os coordenadores do estudo revelaram ainda que a esmagadora maioria, cerca de 85%, revelaram que só aceitariam mudar para uma empresa com um modelo de trabalho de cinco dias em troca de um aumento salarial “superior a 20%”.
A sessão de apresentação, que ocorreu esta terça-feira, contou ainda com as intervenções do presidente do conselho diretivo do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), Domingos Lopes, do secretário de Estado do Trabalho, Miguel Fontes, e da Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, que encerrou a cerimónia agradecendo às empresas e trabalhadores que se “aventuraram” e aderiram à iniciativa experimental.
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