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A Mango, marca espanhola de vestuário nascida em 1984, em Barcelona, tem estado a apostar crescentemente em fornecedores de proximidade e Portugal ocupa já a terceira posição nesse ranking, que é liderado pela Turquia e por Marrocos. O vice-presidente da multinacional e diretor de expansão da marca, garante que esta é uma estratégia para manter, mesmo depois da pandemia. “Queremos ter mais parceiros industriais em Portugal”, sublinha Daniel Lopez.
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No total, a companhia trabalha com 1009 fábricas em todo o mundo, das quais cerca de 400 são fornecedores de proximidade. “A disrupção das cadeias de abastecimento não é um efeito da guerra [na Ucrânia], mas sim, das consequências da covid, o que nos levou a relocalizar parte da nossa produção em mercados à volta do Mediterrâneo. Das mais de mil fábricas com que trabalhamos, 58 são em Portugal e queremos ter mais, porque é um país com um grande khow how e tradição na indústria têxtil e do vestuário”, explica.
Uma aposta que é para manter, assegura, mesmo quando a pandemia for ultrapassada. “A intenção é essa. Os fornecedores de proximidade trazem-nos imensas vantagens, já que, com o tempo de entrega mais curto, podemos reagir com maior rapidez à procura”, diz Daniel Lopez, lembrando que, com o crescimento das vendas online, as empresas dispõem de informação ao minuto sobre como estão os consumidores a reagir aos produtos que estão a ser lançados. “Se tiver fábricas próximas do seu hub logístico principal, tem capacidade para reagir mais rapidamente às necessidades do consumidor e essa é uma proposta de valor ganhadora”, defende.
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A Mango encerrou 2021 com 2234 milhões de euros de vendas, um aumento de 21,3% face a 2020, mas ainda 5,9% abaixo de 2019, ano de “recorde absoluto” ao nível da faturação. Mas o EBITDA duplicou para 423 milhões e os lucros triplicaram, atingindo os 67 milhões de euros, o que leva o responsável a falar num “excelente ano”, sobretudo à luz ainda dos constrangimentos provocados pela pandemia. “Temos que ter em conta que não foi um ano nada normal. As lojas estiveram fechadas, no mínimo, 48 dias, devido aos confinamentos, no segundo ano consecutivo de efeitos disruptivos da covid-19 sobre o retalho e, por isso, estamos muito satisfeitos”, refere.
Crescimento
Quanto às perspetivas para 2022, o gestor admite que a conjuntura mudou e traz novos desafios. “Esperávamos que 2022 fosse já um ano normal, não contávamos estar a lidar com eventos inesperados numa região que representa 8% do nosso EBIT (lucro antes de juros e impostos), por isso, estamos a rever a estratégia para o ano que se seguir, mas acreditamos que, apesar disso, vamos crescer e ultrapassar o volume de negócios de 2021”, diz. Daniel Lopez não quantifica o crescimento esperado. “Se me tivesse perguntado pelas nossas expectativas em janeiro de 2020, antes da covid, teriam sido diferentes. Hoje estamos perante outro “cisne negro” – a designação refere-se a um evento raro, imprevisível e de alto impacto nos mercados financeiros -, precisamos de ser prudentes nas mensagens que passamos”, argumenta.
A guerra na Ucrânia, a inflação e o efeito de tudo isso na confiança dos consumidores são os maiores desafios, mas que são extensivos a todas as empresas no mercado. “Não há muito que possamos fazer, nessas frentes, pelo que preferimos concentrar-nos naquilo que está ao nosso alcance. Estamos presentes em 110 mercados em todo o mundo, com uma pegada diversa em cada um deles, o que nos deixa otimistas. Temos muito potencial pela frente”, assegura.
Ao contrário de alguns dos seus concorrentes – a Inditex, por exemplo, que detém as marcas Zara e Massimo Dutti, entre outras, anunciou recentemente um aumento médio de 5% dos seus preços a nível mundial -, a Mango não pretende mexer nos seus preços, pelo menos para já. “É uma garantia que posso dar à data de hoje, mas ninguém sabe o que será o dia de amanhã. Até agora, a nossa estratégia tem sido manter os preços, mantendo o mesmo nível de proposta de valor aos nossos consumidores”, diz Daniel Lopes, sublinhando que o preço é apenas um dos fatores a ter em conta, a par da qualidade e da sustentabilidade. “Na Mango, a sustentabilidade faz parte do nosso ADN, mas continuamos sempre à procura de novas formas para sermos mais sustentáveis, seja ao nível dos processos produtivos, seja nas matérias-primas que usamos. A sustentabilidade é um tema cada vez mais importante para o consumidor”, defende.
Expansão
A empresa abriu 200 novos espaços em 2021 e terminou o ano com uma rede global de 2447 lojas. O objetivo, para 2022, está na mesma ordem de grandeza do ano passado, com especial destaque para o reforço da presença da Mango nos seus mercados core. “A Europa continua a ser o nosso mercado core, mas vemos um enorme potencial em países como os Estados Unidos ou a Índia”, explica Daniel Lopez. A marca conta com cinco lojas em “terras do tio Sam”, número que pretende mais do que duplicar até ao final do ano. E outras se seguirão. Já nas próximas semanas será inaugurada uma megaloja na 5.ª Avenida, em Nova Iorque, e depois mais cinco na Flórida se seguirão. “Acreditamos que este poderá ser um mercado core nos próximos anos”, sublinha. A Índia é outra das grandes apostas, um mercado de 1,3 mil milhões de habitantes e onde a Mango está em parceria com a Mytra, o maior operador online do país e que aposta também no retalho físico, tendo “grandes planos de desenvolvimento” para a marca.
Tudo isto sem esquecer “o grande potencial” de desenvolvimento na Europa, designadamente em França, Espanha, Holanda e Itália, não apenas através da abertura de novas lojas, mas também da revitalização de algumas das existentes. “Queremos que todas as nossas lojas sejam iguais às que temos no Chiado ou nos Restauradores, em Lisboa”, diz Daniel Lopez.
Em Portugal, o primeiro mercado de expansão internacional da Mango, há 30 anos, a empresa pretende, em 2022, renovar duas lojas e abrir uma nova em Lisboa, cuja localização não avança ainda, dizendo apenas que será “muito relevante” para a coleção de homem. O investimento total previsto para a expansão omnicanal da marca – o online vale já 42% das vendas quando, em 2019, rondava os 20% – será da mesma ordem de grandeza de 2021, ou seja, 45 milhões.
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