A colisão, em Soure, entre o comboio Alfa Pendular e o veículo de manutenção da IP – Infraestruturas de Portugal deu-se a 190 km/h. Esta é o resultado da avaliação preliminar ao acidente ferroviário ocorrido na tarde de sexta-feira na Linha do Norte e que provocou dois mortos. Os dados foram tornados públicos este sábado pelo GPIAAF – Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários.
Pelas 15h24, o veículo de manutenção da IP (VCC – veículo de conservação de catenária) terá ignorado o sinal vermelho na estação de Soure e entrou na via principal onde menos de dois minutos depois passou o Alfa Pendular. Pelas 15h26, o Alfa Pendular com destino a Braga acabou por colidir no veículo de manutenção, segundo o documento.
Como tudo se passou?
O veículo de manutenção da IP estava a realizar uma marcha de serviço entre Entroncamento e Mangualde. A bordo, seguiam dois trabalhadores da gestora de infraestruturas, um agente de condução e um agente de acompanhamento, mas que não estavam a realizar quaisquer trabalhos durante a viagem.
Pelas 15h09, este veículo estava a aproximar-se da estação de Soure, onde iria passar uma via de resguardo (linha III), segundo instrução do posto de comando de circulação de Pombal. Dessa forma, o Alfa Pendular, o comboio rápido, iria ultrapassar o VCC da IP pela linha I, cumprindo as regras de cedência de passagem.
O veículo de manutenção cumpriu a instrução e parou na linha de resguardo em Soure pelas 15h12. O sinal de saída (S5, na imagem) estava vermelho. Tratando-se de um sinal automático, está associado a balizas do sistema de controlo de velocidade que estão colocadas na linha para desencadear a frenagem automática dos comboios equipados com Convel em caso de ultrapassagem indevida de sinais. Em Portugal, todos os comboios têm instalado o sistema de controlo de velocidade, com exceção dos veículos de manutenção da IP.
Pelas 15h24, o Alfa Pendular tinha sinal verde para passar por Soure, enquanto o VCC aguardaria na linha de resguardo. Só que não foi isso que aconteceu, como descreve o documento dos peritos.
“Alguns momentos depois deste evento, por razões que neste momento estão indeterminadas e que serão aprofundadas no decurso da investigação, o VCC 105 reinicia a sua marcha, ultrapassando o sinal S5 que se mantinha com aspeto vermelho. Os VCC, tal como a generalidade dos veículos de manutenção de via no nosso país, não estão equipados com o sistema Convel, motivo pelo qual não foi desencadeada a frenagem automática resultando na consequente imobilização do VCC 105 antes de atingir um ponto de perigo.”
Como o comboio de manutenção passou o sinal vermelho na linha III, o sinal para a linha principal passou automaticamente a vermelho. Só que, “uma fração de segundo antes”, o Alfa Pendular “tinha acabado de ultrapassar” o sinal verde que lhe correspondia e o sistema Convel instalado “recebeu informação de que a via se encontrava livre, o que naquele momento correspondia à verdade”.
Pelas 15h25, a 190 km/h, os dois maquinistas do Alfa Pendular visualizaram que o sinal da linha de resguardo estava vermelho e que o veículo de manutenção da IP estava a entrar na linha principal. Os maquinistas da CP apenas tiveram tempo para acionar o travão de emergência. A colisão ocorreu pelas 15h26.
“Na sequência da colisão, descarrilaram os primeiros dois veículos do CPA 4005 e o VCC foi arrastado à sua frente durante cerca de 500 metros, até à imobilização do conjunto”. Os dois trabalhadores ao serviço da IP morreram no acidente. Houve quatro feridos graves, três passageiros e um dos maquinistas do Alfa Pendular ficou em estado grave.
Seguiam a bordo 211 passageiros: 39 ficaram com ferimentos ligeiros; 169 escaparam ilesos.
O valor estimado dos danos é de 150 mil a 2 milhões de euros.
Com os dados já recolhidos, os peritos afirmam “não existirem quaisquer indícios de anomalias na infraestrutura, incluindo os sistemas de sinalização, ou no comboio Alfa Pendular e sua operação que tenham influído no acidente”.
Isto quer dizer que os peritos vão focar-se na investigação sobre o veículo de conservação de catenária da Infraestruturas de Portugal. Estes veículos não têm instalado o sistema Convel, embora o gabinete de peritos assim o tenha recomendado em 2018, depois de ter ocorrido, entre 2010 e 2017, um total de 15 situações de ultrapassagem indevida de sinal.
O relatório final será publicado “num prazo não superior a 12 meses.
“Isto não é um incidente menor”. O que explica o descarrilamento em Soure?
(Notícia atualizada com mais informação pelas 13h23)
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