É nas grandes crises que surgem as oportunidades, acredita Mário Ferreira. E é em plena crise no setor dos media, adensada pela pandemia de Covid-19, que o empresário dono da DouroAzul avança para a compra de 30% da Media Capital.
Entra para “ajudar a Prisa” a transformar o grupo dono da TVI e de ativos como a produtora Plural ou as rádios Comercial e M80 “num grupo que, à escala europeia, possa ter cada vez mais relevância.” O empresário não revela que fatia a compra da participação na Media Capital vai exigir das suas “poupanças”. Mas mostra-se disponível para, “havendo necessidade e se for preciso”, injetar capital no grupo de media. “Vamos entrar para ajudar.”
O importante, neste momento, diz, é que os colaboradores do grupo, dos jornalistas, aos atores, “acreditem que há uma estratégia de futuro” e que “tenham vaidade de dizer que trabalham ou na TVI, na Rádio Comercial ou na Smooth FM”.
Tendo em conta os volte-face que tem tido este negócio da compra da TVI não resisto em perguntar se à quarta é de vez?
O que está aqui em causa não é a venda da TVI, é uma participação de 30% do grupo Media Capital, que envolve a TVI, as rádios, a Plural, o online. Estamos a falar de uma participação qualificada, mas a Prisa continuará a manter a maioria do capital. É quase como que uma parceria, não é uma compra, vamos trabalhar em conjunto para valorizar a empresa para o futuro.
Mas porquê essa opção de uma participação qualificada, ainda para mais não de controlo?
A nossa posição na Cofina já era a mesma, entrar numa participação de coinvestidor e ficaríamos os segundos maiores acionistas. É a mesma estratégia, mantemos a mesma estratégia que tínhamos que seria alocar parte das nossas poupanças num novo modelo de negócio em que acreditamos para o futuro. Sabemos que este é um ano difícil, para quase todos os setores, mas em particular para o dos media, pela quebra da publicidade, do negócio, mas tem sido um ano espetacular em termos de audiências para as televisões. O número de pessoas a ver televisão aumentou significativamente, mais de 30%. Por isso, acho que demonstra a importância da televisão e a importância que as pessoas dão à seriedade das notícias, que é o que mais procuram na televisão, em detrimento da Internet e da confusão instalada na Internet quando não se sabe quem é o autor de muitas das notícias que aparecem, não se sabe se são verdadeiras ou falsas.
Os portugueses demonstraram que acreditam num modelo de televisão, por isso, há que dar continuidade e passando esta crise pandémica tentar agradar ao maior número de portugueses para que se mantenham a acreditar na televisão. Todo o setor ganha com isto. E melhorar cada vez mais, tudo o que se possa vir a fazer para que os portugueses tenham gosto e para usufruírem da televisão e não fugirem para as Netflix desta vida e para a Internet.
Ainda bem que fala do impacto da pandemia. O setor dos media tem-se desmultiplicado em pedidos de apoio para enfrentar quebra de receitas. É um bom momento para entrar num momento, com os grupos estão descapitalizados? Se calhar vai exigir uma injeção de capital adicional.
Exatamente por isso é que é uma boa altura para entrar. É nas grandes crise que aparecem as grandes oportunidades, é preciso estar preparado, ser consciente e perceber os desafios que enfrentarão. Nós sentimos, o nosso grupo sente que está preparado para ajudar a Prisa e, para em conjunto com a Prisa poder transformar este grupo num grupo moderno, de futuro, num grupo que à escala europeia possa ter cada vez mais relevância.
A Prisa destacou o facto de, caso necessário, o Mário Ferreira injetar capital. Essa situação já foi discutida com a Prisa? Que necessidades de capital o projeto vai exigir?
Se colocaram isso como colocaram no comunicado à CMVM é porque, provavelmente, terá sido discutido. O comunicado é muito óbvio, havendo necessidade e se for preciso, nós vamos entrar para ajudar, para colaborar e para transformar o grupo Media Capital num grande grupo de media de nível europeu, de nível internacional.
Ficar com 100% do grupo é uma hipótese?
Isso não está nos nossos horizontes.
Esta não é uma posição de controlo. Quanto é que este negócio poderá custar?
Obviamente, faço ideia, mas isso será comunicado futuramente pela Prisa.
Acha que não vai haver objeções dos reguladores? Quando é que pensa que esta operação poderá estar concluída?
Todas as entidades foram contactadas e irão de acordo com a Lei prestar os seus esclarecimentos. É o que posso dizer. Não posso opinar sobre coisas que não sei.
O importante neste momento é que, cada vez mais, os funcionários do grupo como um todo – toda a gente fala da TVI, mas as rádios são tão importantes como a TVI, a Plural -, os jornalistas, os atores, todos os colaboradores deste grupo possam olhar para o futuro. Que acreditem no futuro, que há uma estratégia de futuro e que tenham vaidade de dizer que trabalham ou na TVI, na Rádio Comercial ou na Smooth FM. Que tenham gosto em dizer que trabalham num grupo de media de caráter internacional, esse é que é o objetivo.
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