A Mehler, líder mundial de têxteis técnicos para correias de transportes e tecidos especiais e um dos players principais na produção de fios técnicos para a indústria automóvel, farmacêutica e petrolífera, está apostada em crescer no segmento aeroespacial e de Defesa nos EUA. E porque esta é uma área que obriga a uma produção local, em estudo está já a ampliação da fábrica do grupo em Martinsville, na Virgínia. Alberto Tavares, CEO da Mehler, admite que a decisão será tomada até setembro, remetendo, para então, valores de investimento. Garantido é que os escritórios de Charlotte, na Carolina do Norte, serão encerrados em setembro, quando terminar o contrato de aluguer do espaço, e a operação americana será toda concentrada em Martinsville.
A Mehler é a divisão de produtos de engenharia do grupo alemão KAP, sendo o segmento de maior dimensão, assegurando 170 dos 400 milhões faturados pelo grupo o ano passado. A unidade americana dedica-se à produção de fio técnico e o objetivo é estudar a possibilidade de alargar as suas valências para a produção de tecidos técnicos para equipamentos de vigilância aérea, para tendas militares, coletes à prova de fogo ou para as lagartas dos tanques, entre outros exemplos.
“Estamos convencidos do mérito deste investimento, mas temos de o provar e é essa análise detalhada que estamos a fazer”, diz Alberto Tavares. “Fornecendo a partir da Europa nunca poderemos chegar aos grandes projetos aeroespaciais e de defesa porque várias indústrias obrigam a que o material seja produzido localmente.” O mercado norte-americano vale, atualmente, 35 milhões de euros e o objetivo é chegar, no mínimo, aos 50 milhões. A construção, designadamente com o desenvolvimento de materiais resistentes ao fogo, é outra das áreas de aposta.
Questionado sobre as políticas protecionistas de Trump, o responsável da Mehler lembra que essa é uma tendência que “não é exclusiva dos EUA” e que, embora crie dificuldades, gera também oportunidades.
“Uma das grandes vantagens que temos face aos nossos concorrentes é a dispersão geográfica que nos dá maior flexibilidade”, disse, em referência às nove fábricas que gere em seis países de três continentes: Alemanha, Portugal, República Checa, EUA, China e Índia. “Temos o melhor de dois mundos, o know how das equipas locais associada a uma gestão das várias unidades como se fossem uma só com nove linhas de fabrico espalhadas pelo mundo.”
Apostado em reforçar a sua atuação industrial, o grupo KAP anunciou, no ano passado, a fusão das suas operações globais na área dos fios e dos tecidos técnicos para fins industriais sob a chancela da Mehler, liderada por Alberto Tavares. Os responsáveis financeiros e de I&D são também portugueses. Concluída a fusão, os próximos dois anos serão dedicados à estandardização de processos e à otimização operacional, com uma grande aposta na digitalização e na Indústria 4.0.
A unidade de Famalicão, mais avançada nessa área, já que recebeu investimentos de cinco milhões nos últimos três anos, vai servir de modelo ao projeto que vai ser implementado a nível global. Decidido a investir já na expansão da unidade de Fulda, na Alemanha, onde irá nascer o novo de investigação e desenvolvimento. “O mundo muda a uma grande velocidade, se não começarmos já a preparar essa mudança, daqui por 20 anos estamos fora do negócio”, acredita Alberto Tavares. O objetivo é afetar 3% a 5% das vendas anuais a I&D, área liderada por Elisabete Silva. A mobilidade elétrica é outra das grandes apostas.
- * A jornalista viajou à Techtextil a convite da Mehler
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