O terceiro dia de greve terminou com o Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas a lançar um inesperado “desafio público” aos patrões da Antram. O porta-voz do SNMMP, Pedro Pardal Henriques, deu um passo em frente e marcou encontro com o seu homólogo da associação patronal, André Matias de Almeida. “Amanhã estarei no ministério do Trabalho às 15 horas e apelo ao bom senso dos dirigentes da Antram”.
O porta-voz lançou “o desafio” aos patrões para “terminar com este caos que já se instalou e vai continuar a aumentar”, porque acredita que os motoristas “vão continuar a parar”. “Estamos dispostos a encontrar um entendimento, com cedências de parte a parte para resolver esta situação”, disse em Aveiras de Cima. Apesar de querer voltar ao diálogo, o sindicato não pretende suspender a greve, pedindo à Antram que abra “uma exceção”. Os patrões têm dito e repetido que não negoceiam com uma “espada em cima da cabeça”.
O Governo optou por não avançar para o alargamento da requisição civil e mostrou disponibilidade para acolher uma eventual reunião entre sindicatos e Antram na quinta-feira à tarde. “Se as partes quiserem reunir, a DGERT está naturalmente disponível, em qualquer ocasião, como aliás sempre esteve”, adiantou fonte oficial do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.
Outra surpresa do dia foi a tomada de posição do PSD, que só agora veio apontar o dedo: “O Governo abusou da força que tem” e “tem ajudado a espalhar o alarmismo”, explicou o vice-presidente do PSD, David Justino, que foi o porta-voz do partido substituindo Rui Rio, “que está de férias”. O responsável explicou ainda que o executivo tentou humilhar os trabalhadores e dirigentes sindicais, em vez de tentar um diálogo entre ambas as partes envolvidas. “O Governo privilegiou o exercício desproporcionado da autoridade, a demonstração de força com um aparato coercivo injustificado e a tentativa de humilhação dos trabalhadores e dirigentes sindicais, para que pudesse mais tarde reclamar vitória!”, disse Justino em conferência de imprensa.
O PSD, que indica que o Governo demonstrou “falta de isenção e excessos no exercício da autoridade do Estado” fez “tratamento diferenciado perante diferentes corpos profissionais” e espera agora para ver o que se vai passar amanhã com a possível reunião entre o sindicado e a ANTRAM. Entretanto, Rui Rio antes da conferência de imprensa fez referência à mesma no seu Twitter.
Mais tarde, à saída de uma reunião de cinco horas com a Fectrans, a federação do setor afeta à CGTP, Matias de Almeida não respondeu ao desafio de Pardal Henriques e anunciou apenas que as duas partes produziram um “documento histórico”. “Foi um trabalho árduo e agora vamos ao Ministério das Infraestruturas e Habitação apresentar o documento”, disse Matias de Almeida. Já a Fectrans, o porta-voz disse que foi feito um trabalho de negociação. “Evoluímos numa série de matérias. Agora temos de trabalhar o resto que é preciso trabalhar com o Governo”.
Do lado do Executivo, e depois do ministro do Ambiente e da Transição Energética Matos Fernandes ter considerado “perturbadoras” as declarações de Pardal Henriques dizendo que os motoristas não vão cumprir os serviços mínimos nem a requisição civil, em solidariedade com os colegas que estão ameaçados de prisão, o dia terminou com a decisão de não avançar para o alargamento da requisição civil. Entre os patrões, o pedido era para que a mesma abrangesse a totalidade do país e dos serviços de cargas e descargas.
O dia tinha começado cedo em Aveiras, com Pardal Henriques a incendiar os ânimos. “Ninguém vai cumprir nem serviços mínimos nem requisição civil. Se um motorista vai ser preso, então o sr. ministro tem de trazer grandes autocarros para levar os 800 motoristas do país”, atirou Pardal Henriques. Depois de 14 motoristas terem sido notificados pelo incumprimento da requisição civil na terça-feira à noite, 24 horas depois o SNMMP dava já conta da notificação de vários motoristas nas suas próprias casas, pelas forças de segurança, para depois serem escoltados até à respetiva entidade patronal para dizerem se estão ou não dispostos a trabalhar. O vice-presidente do SNMMP diz que “a lista chega até às 50 detenções”, mas a GNR esclareceu que ninguém se encontra detido.
Em comunicado, o Ministério do Ambiente e da Transição Energética anunciou que “feita a avaliação do cumprimento dos serviços mínimos, conclui-se que estes foram genericamente cumpridos”. Os únicos casos de incumprimento dos serviços mínimos registados, diz o Governo, “prendem-se com o transporte de JET para os aeroportos de Lisboa e de Faro, situações que já estão abrangidas pela requisição civil em vigor”. “Neste momento, 18 equipas das Forças de Segurança e das Forças Armadas estão a fazer o transporte de combustível para o aeroporto de Lisboa e seis equipas da GNR a fazer serviço idêntico para o aeroporto de Faro”, refere o mesmo comunicado.
De acordo com o balanço feito às 17h de quarta-feira pela Entidade Nacional para o Setor Energético (ENSE), Beja era o distrito com menor percentagem de gasóleo (34%) na rede de emergência de postos de abastecimento. Aveiro era o distrito com mais gasóleo (89,7%). Já na gasolina, Beja era também a região com menos gasolina (29,86%), seguida por Bragança (31%), Setúbal (33%), Leiria (34,77%), Santarém (36,64%). Castelo Branco era o distrito com mais gasolina disponível na REPA (58,92%). No Algarve, que era na terça-feira ao final do dia o distrito que mais preocupava o governo, a REPA contava às 17h de quarta-feira com 47,26% de gasóleo e 42,2%.
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