Na Mercadona do Canidelo até podia ser o mural do bacalhau que marcava a diferença das lojas em Espanha, mas houve quem tivesse saído do primeiro supermercado da cadeia em Portugal com uma perna de presunto às costas.
Com um chapéu à cowboy, Sérgio Oliveira era um dos que, horas antes da abertura da loja do Canidelo, se posicionava junto à entrada, já equipado com um saco da cadeia espanhola que, esta terça-feira deu mais um passo no seu caminho de internacionalização.
Ana Domingues (24 anos) saiu do trabalho diretamente para a inauguração da Mercadona. “O Canidelo está a crescer, por isso é que construíram aqui”, comenta, ao lado de três amigas que vieram de propósito, “por curiosidade”, ao dia de abertura. Conhecia a cadeia das suas visitas ao Sul de Espanha, em Sevilha, e da loja em Portugal espera que “haja uma boa qualidade/preço”.
“Curiosidade” foi também o que trouxe Emília Meireles (50 anos), um dos elementos do grupo. Ia entrar mais tarde no trabalho e aproveitou para ir à Mercadona. O que espera? “Bons preços, muita qualidade”, afirma. “Se tiver é só atravessar a rua”, diz, apontado para os prédios mesmo em frente à loja onde vive.
“Ouço dizer bem” e, também por curiosidade e “para contar às vizinhas”, Maria Antónia Sousa Dias (64 anos) deslocou-se de Coimbrões a Canidelo para conhecer a nova cadeia a juntar-se ao Jumbo, Lidl, Pingo Doce ou ao Continente Bom Dia na freguesia de Vila Nova de Gaia. Tudo num raio de cerca de 2 quilómetros.
Concorrência que não deixou a abertura da Mercadona passar ao lado. Enquanto, os clientes aguardavam pela abertura, carros com publicidade do Lidl circulavam prometendo qualidade ao melhor preço, mais tarde juntaram-se bicicletas com folhetos da cadeia alemã que, aproveitou, e ainda distribuiu maçãs. Mais tarde, outro carro com publicidade ao Aldi e outro do Pingo Doce lentamente circulavam pela estrada frente à nova concorrente a chegar à freguesia e ao país.
Enquanto isso, apoiada no carro de supermercado, Maria Antónia esperava pela abertura de portas, prevista para as 9h. À medida que a hora se aproximava, as dezenas de populares, transformaram-se em mais de uma centena, perfilados com os carrinhos de compras, à espera do ‘tiro de partida’. Os carros continuavam a entrar deixando cada vez menos lugares vazios no parque de estacionamento com capacidade para 240 lugares.
Juan Roig recebe primeiros clientes em Portugal
Dentro da loja de 1800 metros quadrados, na qual a cadeia investiu um total de 11,5 milhões de euros, o staff dava os últimos detalhes para receber os “Chefes” (como a cadeia designa os clientes.) Juan Roig, o CEO da Mercadona, aproveita e faz uma nova ronda pela loja que assinala a primeira internacionalização da cadeia espanhola.
Visitou a secção de Pronto a Comer, novidade que está a ser introduzida nos supermercados em Espanha, um dos ‘ensinamentos’ que a cadeia levou de Portugal, depois de levar três anos a estudar a entrada no país. Cumprimentou o funcionário, questionou, entrou de ’touca’ para o outro lado do balcão para se inteirar do trabalho, esperando as 9h, hora de abertura.
Com centenas de pessoas a aguardar, as portas abriram-se às 9h sob o aplauso dos populares, com carrinhos colados através de carrinhos para visitar e comprar na nova cadeia. À porta, Juan Roig saudava os clientes da sua primeira loja fora de Espanha com apertos de mão.
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Rapidamente, os clientes espalharam-se pelos 1900 m2 de loja, com cerca de 6 mil referências, metade das quais de oriundas de produtores nacionais. Em Portugal, tal como em Espanha, as marcas próprias da Mercadona partilham espaço nas prateleiras com as marcas de fabricante. Nem no dia da abertura, os clientes viram um único sinal de promoções. A cadeia assenta no que diz ser uma ‘política de preços baixos o ano todo’ não tendo uma lógica promocional para fazer push de produto, o pão nosso de cada dia de qualquer retalhista alimentar em Portugal, onde as promoções representam cerca de metade das vendas.
Apesar disso, não tardou que as caixas começassem a registar as primeiras compras. Havia quem saísse do supermercado com um pacote de bolachas, idosos com crianças de colo levavam alguns produtos da pastelaria como ‘recuerdos’, mas foi o caso do cliente com o presunto às costas que gerou grande animação na caixa para clientes prioritários.
Os flashes das câmaras chamaram a atenção de Sérgio Oliveira, que, rindo-se comentou, quase entredentes,’vou ficar famoso’. Com a perna de presunto às costas, fez pose para os fotógrafos e até interrompeu o seu caminho quando um jornalista espanhol lhe diz ‘venga, venga’, para registar o momento com o seu telemóvel.
Nas compras de Marta Mañez (43) não se via nenhuma perna de presunto, mas no carrinho estavam os dois filhos da espanhola de 43 anos, há cinco anos a viver em Portugal. “É como estar em casa”, diz Marta Mañez, ou não fosse natural de Valência, terra onde tudo começou há mais de 40 anos. “Estou em Portugal há cinco anos, estou à espera desde o início que chegasse cá”, conta.
Não podia por isso faltar à abertura da primeira loja da Mercadona no país. “Acordei cedo, preparei os miúdos para estar aqui às 9h, mas cheguei eram 9h10”, diz. “Até agora tenho comprado perto de casa, mas faltava algo”, por isso, diz, apesar de viver no Porto, admite fazer as compras no Canidelo ou na futura loja de Matosinhos.
Esta será a segunda loja a abrir no distrito no Porto das quatro previstas em julho. Até ao final do ano serão 10 o número de Mercadonas em Portugal. Em 2020, já tinha anunciado na véspera Juan Roig, a cadeia quer abrir mais 10 supermercados para que “em alguns anos” atingirem os 150.
Desde 2016 até ao final do ano passado, a cadeia já investiu 160 milhões de euros, este ano vai investir mais 100 milhões. Já está à procura de terrenos para instalar nova plataforma logística perto de Lisboa. Dá emprego a 900 pessoas e conta fechar o ano com 1100 colaboradores. 85 dos quais trabalham na loja do Canidelo.
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