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É conhecido como a 4ª geração na centenária fábrica de sabonetes Ach. Brito, mas Aquiles de Brito tem todo um outro mundo de negócios a seu cargo, o da gestão do património imobiliário da família, agregado na Predial Ferreira & Filhos. No Douro, está a investir nos vinhos Quinta dos Frades e a desenvolver o enoturismo. Em Lisboa, gere 200 frações de habitação, comércio e escritórios, no segmento premium, junto ao Parque Eduardo VII, onde investe um milhão de euros ao ano na recuperação e dinamização de novos espaços. As rendas congeladas são um problema. “Não entendo por que temos de fazer o papel da Segurança Social”, diz.
A Predial Ferreira & Filhos foi criada, em 1939, para “agregar o vasto património imobiliário” de Delfim Ferreira, seu bisavô materno, referenciado no livro Fortunas e Negócios como um dos 20 empresários mais importantes do século XX. Filho de um grande industrial têxtil, que montou os primeiros teares mecânicos alimentados pela energia de um açude construído no rio Ave, Delfim seguiu as pisadas do pai. No têxtil, mas também no setor elétrico, com a criação da Companhia Hidroelétrica do Norte de Portugal, nacionalizada em 1974 e integrada no universo EDP – Eletricidade de Portugal no ano seguinte, e na construção civil.
Foi proprietário da Casa de Serralves, atual casa-museu detida pela Fundação de Serralves, onde viveu até morrer. Construiu o Hotel Infante de Sagres, o primeiro hotel de 5 estrelas no Porto, e o Palácio do Comércio, imponente edifício na Baixa portuense onde, ainda hoje, está sediada a Predial Ferreira, e que foi entregue à banca, como garantia, aquando da falência da Fábrica Têxtil de Arcozelo. Sem falar na imensa obra de benfeitoria que deixou, ao construir escolas, creches e hospitais. Quando faleceu, em 1960, era considerado o homem mais rico do país. O bisneto assume, “com grande pena”, que não houve muito cuidado no legado que deixou. “Foi um pouco esquecido e eu tento hoje que seja lembrado pela obra fantástica que deixou e pelo benemérito que foi”.
Sempre que as empresas geravam recursos, Delfim Ferreira investia-o em imobiliário. Hoje restam, na família, os imóveis nas avenidas Sidónio Pais e António Augusto de Aguiar, bem como duas propriedades no Douro, a Quinta dos Frades, uma das mais belas da região, com 200 hectares, em Folgosa do Douro, Armamar, e cujas origens remontam ao século XIII, e a Quinta do Castelo, em Santa Marta de Penaguião. Os vinhos eram vendidos a grandes grupos exportadores. Em 2008, nasceu o projeto de criação de vinho do Douro sob a marca Quinta dos Frades, no qual já foram investidos um milhão de euros, designadamente na adega e em equipamentos, mas “mantendo sempre a autenticidade” de uma propriedade que tem vinhas com mais de 100 anos.
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A pisa ainda é feita a pé, nos lagares de granito, e, no ano passado, apostou no enoturismo com um programa de provas, que inclui visita à quinta e ao marco pombalino que existe na propriedade. Este ano criou um espaço para refeições e eventos e, até ao final de março de 2021, conta ter a loja de vinhos operacional. “Tentamos fazer as coisas passo a passo, sem pressão. Somos uma empresa rentável, que todos os anos distribui dividendos aos acionistas, mas que só trabalha com capitais próprios”, sublinha.
O próximo passo será a recuperação de várias casas disponíveis na quinta para exploração turística, mantendo o solar resguardado como casa de família. Num ano normal, a marca Quinta dos Frades vende já 100 mil garrafas, em Portugal, mas também na Suíça, Macau, Brasil, EUA e Inglaterra. Mas não em ano de covid-19, sobretudo para uma marca que está quase exclusivamente suportada na restauração. Grande distribuição só em supermercados de nicho, como o El Corte Inglés ou os supermercados Apolónia, no Algarve. “Queremos vender valor e não quantidade, até porque temos uma história para contar e uma quinta extraordinária para mostrar”, frisa.
Na área imobiliária, a estratégia é a mesma: “preservar, modernizar e dinamizar”. Aquiles de Brito admite que não tem interesse em construir mais, até porque “há ainda muito potencial para explorar”, diz, nas 200 frações que gere, com áreas que vão dos 200 aos 600 metros quadrados. E aqui tem investido, em média, um milhão de euros ao ano na reformulação dos andares. Há 30 novas frações possíveis identificadas.
“Este é o nosso core business. Há um passado em que se perdeu um vasto património imobiliário, a família prefere manter um perfil conservador”. Também nesta área, o ano é de quebra de receitas, quer por saídas de inquilinos, quer por ajustes negociados nas rendas. “Sou senhorio mas sou, também, inquilino. O negócio só funciona se for bom para todos e é preciso haver sensibilidade para com clientes que temos há muitos anos”, refere. Aquiles de Brito garante que privilegia boas relações a médio/longo prazo: “Não temos preços especulativos”.
Já as rendas antigas representam 35% das frações e o tema gera fortes críticas. “Não entendo por que razão temos de fazer o papel da Segurança Social. O Estado nunca nos deu nada, pelo contrário. Quando há aumentos de impostos, o nosso setor é dos primeiros a ser prejudicado e com o inquilino tudo fica igual. Algo está errado”, lamenta.
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