Num momento em que o consumo de televisão está em alta, a NOS, o maior operador de televisão por subscrição, arranca com uma nova oferta: a Apple TV como box principal para aceder aos conteúdos da operadora, mas não só.
Uma multiplicidade de conteúdos audiovisuais, serviços de streaming, entre os quais o próprio Apple TV+ de forma gratuita durante 12 meses, vão ficar disponíveis aos clientes fibra. O movimento segue-se ao do Meo, que em novembro, anunciou que o Meo iria estar na Apple TV.
Daniel Beato, diretor de produto e marketing na área de consumo da NOS, garante que a proposta da NOS tem uma lógica distinta. E explica porquê. Uma oferta que visa dar um novo acesso aos serviços da operadora, mas que não significa o abandono da UMA, o sistema da NOS.
A Meo já estava na Apple TV. Box chega agora NOS. Qual é a principal diferença face ao vosso principal concorrente?
São filosofias completamente distintas. O objetivo da NOS com o lançamento da Apple TV é criar uma nova box dentro do ecossistema da NOS que permita aos clientes aceder aos serviços. O cliente vai poder escolher se quer a nossa box UMA ou Apple TV numa lógica de solução de telecomunicações para a sua casa. Quando foi lançada pela Meo a Apple TV foi mais numa lógica de ser mais um dispositivo onde o serviço Meu Go possa ser utilizado. Nós também o permitimos. Se um cliente da NOS tiver uma Apple TV, e há dezenas de milhares de clientes que o têm, podem lá usar a NOS TV, como mais uma plataforma onde é possível consumir para lá da Xbox, dos tablets ou telemóveis, mais um dispositivo. Mas o objetivo deste lançamento não é esse, é dar uma nova opção numa parceria entre nós e o ecossistema da Apple.
Que universo potencial de clientes este serviço poderá vir a ter?
Em termos de hardware, as estimativas são da Apple, há cerca de 50 mil box no mercado vendidas nos últimos 10 anos, desde que a Apple TV foi lançada. Não tenho informação de quantas são das últimas duas gerações, as que são compatíveis com a NOS. Depois há a Apple TV+, serviço oferecido a todos os clientes que comprem um equipamento da Apple durante 12 meses e também será oferecido a todos os clientes que subscrevam este serviço. O serviço foi lançado muito recentemente pela Apple e tem um conjunto de conteúdos de muita qualidade, não diria tão populares quanto isso. O Morning Show é o mais popular, mas há uma aposta da Apple nesses serviços. O lançamento da NOS vai permitir acesso ao Apple TV+ mas também, como box principal, a todos os outros serviços de streaming que existem no mercado, desde o NOS Play, exclusivo da NOS, como o Netflix, a HBO, o Disney+ quando for lançado em Portugal (15 de setembro), o Amazon Prime.
Mas qual é a vantagem de ter esse equipamento em vez de uma box ‘normal’ da NOS?
Posso falar como consumidor, tive o privilégio de ser um dos beta testers. Estamos a falar de uma box que é o state of the art do ponto de vista tecnológico, trata-se de uma box 4K HDR com Dolby Atmos, a melhor experiência de televisão em termos de vídeo e som em casa; a segunda vantagem tem a ver com o comando e a sua própria interatividade: é um comando touch, não estamos a falar de um comando numérico tradicional; e o terceiro ponto, que foi aquele que mais me impactou como cliente, é o acesso a todos os conteúdos. Literalmente, não existe nenhum conteúdo, praticamente no mundo inteiro, que não esteja lá disponível. A solução da NOS tem a NOS TV lá dentro, os serviços de televisão da NOS com todos os canais, inclusive, o exclusivo NOS Studios e NOS Play, e depois todos os serviços de streaming, como o Netflix, HBO, etc. Dou-lhe o meu exemplo. Estava a ver a série Vikings, comecei por ver no Netflix as primeiras temporadas, depois no NOS Play e agora estou a ver no TV Cine a última temporada. Na prática podemos visualizar todo o conteúdo, desde a atualidade noticiosa, a séries de entretenimento ou ao futebol está literalmente tudo lá dentro e com um serviço interativo muito simples. A Apple é conhecida por isso e a experiência de utilização é extremamente simples.
Já era possível aceder a conteúdos da NOS através da XBox. Depois da Apple estão a trabalhar com outras plataformas?
Estamos a trabalhar para outras plataformas, não vou poder partilhar quais. Somos o operador em Portugal que tem a nossa solução mais democratizada no acesso. O nosso grande objetivo é garantir que o cliente possa usufruir dos nossos serviços da melhor forma que faça sentido para ele. Temos feito um grande trabalho de investimento na qualidade da experiência de visualização. Os nossos ratings nas lojas, estamos acima de 4.4 na de iOS (Apple Store) e no Google Play, são um bom exemplo do trabalho que temos vindo a fazer nessa componente e a investir na capacidade de rede para suportar cada vez maior número de clientes nesta realidade.
Chegar a esta solução teve três grandes componentes de desenvolvimento, de capacidade de rede (estamos a falar de clientes que vão olhar para isto como a sua box principal e queremos garantir que têm uma experiência tão boa ou melhor do que com a box principal). Não se trata de pegar numa aplicação que temos para os outros ecossistemas e colocar lá, porque o modelo de integração com o consumidor e a própria box é diferente. Toda essa lógica de adaptação e de reinventar a forma como o cliente pode experimentar os conteúdos, navegar nos menus da aplicação, teve de ser completamente repensada. Obviamente, inspira-se na reconhecida boa experiência que os clientes têm com a box UMA, mas teve de ser reinventada e foi trabalhada com a Apple. Não somos apenas uma aplicação na Apple TV, somos um fornecedor de televisão certificado na Apple TV, isso significa trabalhar em conjunto com a Apple na discussão e na idealização do que é o modelo de navegação e de interação do cliente com a box.
Foi esse trabalho que foi feito ao longo do último ano. Esta fase de covid não ajudou, mas o trabalho continuou a ser desenvolvido. Desde que foi tomada a decisão interna e foi lançado foi pouco menos de um ano, envolvendo entre 50 a 75 pessoas do nosso lado, incluindo algumas parcerias, de empresas que trabalham connosco, isto numa fase de desenvolvimento puro, depois foi um processo que envolveu praticamente toda a empresa, nas principais áreas, desde o serviço a cliente, às equipas de instalação e manutenção, engenharia, operações de rede e por ai fora.
Diz que o serviço exige capacidade de rede. Os clientes satélite estão assim de fora.
O serviço é direcionado a clientes de fibra.
E a UMA? Foi um sistema em que apostaram, usado inclusive por operadores internacionais. Estão a planear novos desenvolvimentos ou o foco é mais soluções tipo Apple TV?
O nosso objetivo é sempre dar uma melhor experiência ao cliente independentemente de ser uma box nossa ou de terceiros. A Apple TV representava um salto, uma evolução versus o que tínhamos, para um segmento específico com a escala e dimensão que a Apple tem. Mas continuamos a apostar na UMA, é o nosso produto bandeira, eleito por três vezes o Melhor Produto do Ano, a primeira box 4K a ser massificada no mercado, é o nosso produto central em termos de televisão e continuamos a trabalhar. Fomos o primeiro operador a integrar o YouTube na box e estamos a trabalhar para integrar outros serviços e a evoluir o que é a sua experiência de utilização. Não vamos parar o desenvolvimento da UMA para colocar todas as nossas fichas na solução da Apple TV.
Durante o confinamento o consumo de televisão explodiu, em particular os de streaming. Que consumo estão a fazer os clientes na vossa plataforma de televisão
Durante o confinamento o consumo de tráfego linear e não linear cresceu mais ou o menos o mesmo, cerca de 30% face às semanas pré-confinamento. Há quem diga que a televisão linear morreu, mas a verdade é que as pessoa estão a ver muito mais televisão tanto linear como não linear. Vimos foi um crescimento de número de clientes que veem conteúdos streaming, temos internamente o NOS Play e conseguimos ver isso, e o crescimento foi exponencial: o número de clientes e o tráfego cresceram mais de 50%. E sabemos, pelos números de tráfego, que os serviços de streaming, Netflix, HBO, Amazon Prime, com nuances entre si, cresceram numa ordem de grandeza bastante significativa.
Há mais pessoas a ver televisão e estão a vê-la nas várias dimensões, não há uma canibalização em que as pessoas ou estão a ver streaming ou televisão não linear, como gravações, por troca de serviço linear. As pessoas estão a ver mais televisão, sendo que o streaming parte de valores mais baixos. Para ter uma ideia o número de horas visualizadas, que era 30% não linear e 70% linear, ambos cresceram na mesma dimensão.
No confinamento houve um aumento de 54% de conteúdos audiovisuais piratas, segundo estimativas. Têm essa perceção deste crescimento da pirataria?
Dividiria a pirataria em duas realidades. O consumo ocasional de algumas pessoas de conteúdo pirata, seja um jogo futebol ou uma série, em alguns sites que são partilhado; depois há uma dimensão de crime organizado, de redes de distribuição ilegal de televisão, alguns casos redes, por vezes, já com distribuição por múltiplos países, com formas assustadoramente organizadas, sistemas de billing, CRM, quase uma empresa de telecomunicações. É uma realidade. É um problema para Portugal, para a Europa e para o mundo. Estamos a falar de distribuição ilegal de conteúdos e, no fim do dia, toda a sociedade é prejudicada, a começar pelos criadores de conteúdos e, sem as cadeias de valor que existem atualmente, a produção dos conteúdos vai ser mais limitada. Temos consciência que o volume total aumentou, as pessoas estão em casa e o número de horas visualizadas aumentaram, mas tem havido várias iniciativas de combate à pirataria lideradas pelas autoridades portuguesas principalmente com os temas do futebol, filmes e séries. Temos consciência que tem aumentado.
O consumo de televisão é cada vez mais multiplataforma. Conseguem traçar o perfil do cliente de TV NOS?
A NOS TV ultrapassou os 200 mil utilizadores e tem crescido mais do que dois dígitos por ano e durante o confinamento cresceu bastante. A procura por um verdadeiro multi ecrã, já não é um posicionamento da NOS, mas uma realidade de consumo por parte dos clientes é a principal razão pela qual temos vindo a desenvolver tantas aplicações para lá da box principal, seja a UMA seja a Apple TV, é porque há realmente uma procura.
Há vários use cases, mas temos assistido a alguns importantes. Um deles tem a ver com os conteúdos que em direto são mais importantes e que faz com que a pessoa queira estar a ver aquele conteúdo específico a cada momento, o futebol é paradigmático, o que é demonstrado pelos picos de utilização que temos na plataforma durante esses períodos; o segundo ponto, tem a ver com utilizações em segundas casas: o cliente tem internet e quer visualizar um conteúdo e está a usar aquele serviço e depois tem a ver com a procura de ecrãs para casa.
Claramente, a realidade portuguesa passou de um computador e um televisor por casa para uma massificação do número de computadores e televisores por casa. Na fase do confinamento o país viu uma explosão no número de computadores e tablets que foram vendidos, a telescola e o teletrabalho forçaram a essa realidade, naturalmente temos uma multiplicidade de ecrãs em casa o que faz também que hajam mais oportunidades de visualização desse tipo de conteúdos. A nossa expectativa é que esse valor (da NOS TV) continue a crescer a esse ritmo se não a um ritmo superior e que não seja algo de nicho mas sim algo mais massificado.
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