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Durante o confinamento em março e abril, a venda de livros caiu a pique. A abertura da sociedade e as feiras do livro deram algum oxigénio ao setor, mas a reta final do ano está a ser dura e se as vendas do Natal não forem melhores que em outubro e novembro, haverá livreiros e editoras que podem não sobreviver.
“Após uma significativa quebra nos meses do confinamento, o setor teve uma ligeira recuperação quando abriram as lojas, que consolidou com uma boa Feira do Livro de Lisboa para a generalidade dos participantes”, começa por contar ao Dinheiro Vivo Bruno Pires Pacheco, secretário-geral da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL).
Contudo, nos últimos dois meses a venda de livros sofreu novo revés: “Infelizmente, o cenário após setembro é bem diferente e nos meses de outubro e novembro as vendas voltaram a cair fortemente. Atualmente temos uma enorme incerteza sobre o que vai acontecer no Natal, o período que é, habitualmente, o mais forte do ano na venda de livros”, acrescenta.
Os dados deste quarto trimestre ainda não são conhecidos. Os últimos números que medem o pulso ao setor são da empresa GfK – que faz estudos de mercado – e dizem respeito aos primeiros nove meses deste ano. E de janeiro a setembro a venda de livros recuou quase 23%, o que se traduz em perdas de 23 milhões. Os sinais do pós-confinamento indicavam uma lenta recuperação das vendas em lojas físicas e um aumento de peso nas vendas pelos canais online.
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“Como consequência da crise pandémica que atravessamos, 2020 tem sido um ano em que a venda de livros tem registado um decréscimo acentuado”, assume Paulo Oliveira, presidente do Grupo Bertrand Círculo e CEO da Bertrand Editora. “A Editora tem sofrido o impacto inerente a esta realidade, no entanto, as quebras sentidas foram inferiores à média do mercado, porque o nosso fundo de catálogo tem expressão importante, mas também porque, embora tendo lançado menos novidades do que no ano passado, fomos capazes de realizar o seu potencial, através de uma comunicação eficaz junto dos leitores”, acrescenta.
O gestor reconhece que outubro foi pior que o período homólogo, mas no mês passado “os resultados foram mais animadores, muito devido à antecipação da campanha do Black Friday”. Quanto a dezembro, e devido às restrições de circulação e recolher obrigatório ao fim de semana em muitos concelhos, a Bertrand Editora teme que “condicionem significativamente as vendas de livros em todo o mês de dezembro e no Natal em particular”.
Elísio Maia, administrador da Bertrand Livreiros (que pertence ao grupo Bertrand Círculo tal como a Editora), ajuda a completar o retrato. “Após o período de encerramento de cerca de dois meses e meio, continuamos a registar uma enorme quebra na afluência dos clientes, em média na ordem dos 40%, que nos períodos que eram habitualmente os mais concorridos (hora de almoço e fins de semana) se deve claramente à limitação de lotação (uma pessoa por 20m2)”, diz. E nem a aproximação do Natal tem ajudado. “Nos dois fins de semana e feriados em que encerrámos às 13 horas, registámos perdas superiores a 50%.”
Este é um dos maiores grupos livreiros em Portugal, mas nas editoras mais pequenas a situação é ainda mais grave. Dada a situação do setor, a APEL decidiu lançar uma campanha para ajudar na época festiva. Fizemos “um forte investimento na campanha de Natal, abrangente e multimeios, esperando que estimule as vendas no final do ano”, explica Pires Pacheco. O secretário-geral da APEL não tem dúvidas: “Será o resultado destas vendas da quadra natalícia que, para muitos editores e livreiros, poderá determinar a manutenção ou encerramento da sua atividade.”
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