Os animais de estimação entraram nas casas dos portugueses e assentaram arraiais. Já há mais lares com, pelo menos, um amiguinho de quatro patas (58%) do que com crianças (54%). A tendência aponta para um crescimento, suportado numa sociedade com muitos idosos e solitária. Esta evolução tem alavancado um mercado que em Portugal já vale mais de 750 milhões de euros por ano, um montante equivalente ao valor de mercado dos plantéis do FC Porto, Sporting e Benfica.
“A alteração dos núcleos familiares e a noção, cada vez maior, de que os animais de estimação contribuem para o bem-estar físico e psicológico dos tutores é uma das razões apontadas para justificar o seu crescente aumento”, adianta Dilen Ratanji, diretor-geral da VetBizz Consulting. Segundo o especialista, a humanização dos animais é muito vincada na Europa e, também, em Portugal, “porque somos uma das sociedades com mais idosos, mais divórcios, com menos filhos e com maior número de famílias monoparentais”.
À boleia deste fenómeno proliferam negócios como lojas especializadas em produtos para animais, clínicas veterinárias, canis hotel, a indústria da alimentação pet (palavra inglesa para animal de estimação) e os criadores de cães e gatos. Um estudo da GfK apontava para a existência de 6,7 milhões de animais de estimação no país, sendo que os portugueses têm uma clara preferência por cães e gatos.
Só em alimentação para os animais de quatro patas nos híperes, superes e mercearias, as famílias gastaram mais de 222 milhões de euros no ano móvel findo a 8 de setembro, registando-se nesse período mais 8% nas compras para gatos, diz a Nielsen. Segundo a consultora, 38% dos lares compraram alimentos para gatos e 35% para cães, num total de 120 milhões de quilos.
Ao mercado da grande distribuição somam-se as cerca de três mil lojas especializadas, que geram um volume de negócios anual na ordem dos 250 milhões, estima a Associação Portuguesa de Comerciantes de Produtos para Animais de Companhia. E se os animais saíram da rua e entraram em casa, é também claro que os portugueses estão a optar por cães de pequeno porte, adaptando o gosto à reduzida dimensão das casas, e por gatos, que com facilidade podem ficar um fim de semana sozinhos.
Escalada na saúde
A humanização dos animais de companhia traz um maior cuidado com as questões da saúde. Prova disso são os 200 milhões de euros que a atividade veterinária fatura, registando uma taxa média anual de crescimento nos últimos sete anos de 12,3%. Como realça Dilen Ratanji, todos os anos têm aberto entre 70 e 100 centros de atendimento médico-veterinários, contabilizando-se 1632 no país.
O registo da Ordem dos Médicos Veterinários totaliza 6263 profissionais ativos, mas parece que já não dão para as encomendas. “Tem havido uma dificuldade crescente em recrutar médicos veterinários, uma vez que a procura tem superado a oferta”. E vai continuar. “Em 2019, prevejo novo crescimento a dois dígitos nos centros de atendimento médico-veterinários e nos próximos anos a tendência de crescimento manter-se-á”, defende Dilen Ratanji.
Segundo o consultor, serviços como banhos e tosquias e hotel animal têm vindo a ganhar terreno. “Por um lado, a conjuntura económica mais favorável proporciona um maior consumo nestes serviços colaterais, por outro, a crescente consciencialização dos tutores para a saúde e bem-estar dos animais tem ajudado a alavancar o setor”.
Setor cria um milhão de empregos na Europa
A FEDIAF-Indústria Europeia de Alimentos para Animais de Estimação admite que os europeus gastem anualmente 39,5 mil milhões de euros com os seus amiguinhos. Os dados da FEDIAF relativos a 2018 apontam para um dispêndio de 21 mil milhões em alimentos e de 18,5 mil milhões em produtos e serviços. Nas suas contas, a indústria de alimentos regista uma taxa de crescimento ao ano de 3,5%. Na Europa, há 80 milhões de lares com pelo menos um animal de estimação, com destaque para os gatos. Os animais de estimação alimentam perto de um milhão de empregos.
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