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Confinados em casa, em teletrabalho, muitos portugueses testaram as suas artes de pastelaria, mas também se cozinhou muito. E o resultado reflete-se nas vendas de takeaway nos super e hipermercados. Depois de anos consecutivos de crescimento, a pandemia levou a uma queda de 18,13% nas receitas, para 137,6 milhões, até 8 de novembro. Nem a venda de frango assado recuperou depois da reabertura da economia. Mas compra-se mais sushi
“Os portugueses passam mais horas em casa. Vemos um crescimento notório do teletrabalho e do tempo passado dentro do lar, aliado a um decréscimo das atividades sociais e culturais que marcavam o dia-a-dia agitado da população. Após largos meses de quarentena, em que os hábitos de socialização familiar foram reaprendidos e, em muitos casos, uma oportunidade de mudança, percebemos que fomos, sem exceção, “forçados” a parar e simplificar a agitação do dia-a-dia. As refeições passaram a ser feitas em casa, traduzidas no crescimento recente de refeições e componentes congelados, carne e peixe frescos ou congelados, produtos básicos, condimentos ou ovos”, refere Ana Paula Barbosa, retailer services director da Nielsen.
Mesmo depois da corrida inicial em março, as vendas no retalho alimentar continuam a subir quase todos os meses. Só num mês, entre 5 de outubro e 1 de novembro, as famílias gastaram 764,8 milhões de euros nas cadeias de super e hipermercados, mais 48,6 milhões do que há um ano, segundo o ScanTrends, da Nielsen. De janeiro a 1 de novembro, gastaram-se 8,696 mil milhões de euros nos super e hipermercados, mais 7,8% do que há um ano.
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Gasta-se mais no super, mas não em takeaway, segmento que, entre 2015 e 2019, viu as vendas crescerem 50% e só no ano passado gerou 197,4 milhões de receitas para o retalho alimentar. “Em 2019, o takeaway apresentava crescimentos de 9% face ao período homólogo, representando aproximadamente 2% da receita do canal alimentar em Portugal e ocupando um lugar de destaque como a área com crescimentos mais elevados nas categorias de produtos frescos”, destaca Ana Paula Barbosa.
Uma procura que levou as cadeias a reforçar a sua oferta nesse campo – não foi por acaso que a Mercadona, que não tinha essa opção em Espanha, abriu em Portugal com essa valência – e, no caso do Pingo Doce, que há anos investia neste segmento, a construir cozinhas centrais para responder a uma procura de conveniência. A mais recente abriu em Aveiro, onde o grupo Jerónimo Martins construiu um espaço de 7 mil metros quadrados, duplicando a capacidade instalada de área de produção de takeaway Meal Solutions.
A pandemia veio baralhar tudo. “Até chegarmos ao cenário pandémico, a expectativa era de contínuo crescimento do takeaway como uma alternativa às necessidades do dia-a-dia dos consumidores, representando uma opção rápida, viável e eficiente para as refeições diárias”, comenta Ana Paula Barbosa. “Com a chegada da pandemia, o takeaway revelou-se a área de negócio a sofrer maiores impactos no retalho alimentar. Depois de um crescimento de 13% até final de fevereiro, notório e consistente com o ano anterior (para 31,2 milhões), a pandemia trouxe uma dinâmica diferente à vida dos portugueses, que se traduziu num decréscimo de 60% nas vendas em valor de takeaway até início de maio. Estas áreas estiveram inclusivamente encerradas em algumas lojas nas primeiras semanas de confinamento”, descreve. Ou seja, nas semanas da quarentena, os supers venderam 10,6 milhões de comida pronta, um trambolhão de 56% face aos 24,5 milhões de há um ano.
Desde maio, as vendas têm vindo a crescer mas, ainda assim, com quebras. “Com a nova normalidade associada à retoma das atividades económicas e a uma progressiva habituação dos portugueses às rotinas do dia-a-dia possíveis nesta fase, notamos uma ligeira recuperação do takeaway, com decréscimos a rondar os 20% semanalmente, e ainda longe dos níveis pré-covid a que assistimos”, diz Ana Paula Barbosa. De maio a 8 de novembro venderam-se 85,2 milhões quando há um ano os consumidores gastaram 105,9 milhões em comida pronta no super.
O tipo de consumo também se alterou. “Existe um notório crescimento da oferta de sushi neste canal, que já em 2019 apresentava os crescimentos mais elevados em comparação com as restantes opções. A nova normalidade trouxe de volta o crescimento em comparação com o ano anterior, cenário similar à oferta de leitão assado que, embora com crescimentos mais modestos e inconstantes ao longo das semanas, apresenta alguns crescimentos pontuais em comparação com 2019”, descreve a responsável da Nielsen.
“Contrariamente, a oferta de frango assado, por exemplo, não recuperou depois do cenário de quarentena e mantém os decréscimos face ao homólogo nesta fase.”
E há diferenças por zona do país. “A região Norte, que começou o ano a liderar o top de crescimentos de takeway, é a região menos afetada nesta nova normalidade. A tendência contrária ocorre no Algarve e no Alentejo, que apresentavam crescimentos menos acentuados no início do ano.”
Para uma retoma, a “solução” poderá passar por oferta mais diversificada. “Temos verificado que existe uma crescente necessidade de diferenciação e inovação no que toca à oferta de pronto-a-comer no retalho alimentar. O dia-a-dia dos consumidores em Portugal sofreu grandes alterações e revela uma dinâmica distinta, mas, em alguns casos, consistentes com o cenário pré-pandemia. Acreditamos que o takeaway, mais do que uma opção prática, rápida e viável, poderá tornar-se numa oferta de valor acrescentado à hora da refeição, com produtos diferenciados, de qualidade superior e capazes de trazer inovação e dinamismo à mesa dos portugueses”, defende.
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