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O mercado do café está a crescer e a procura por café verde aumenta entre 1% e 3% todos os anos. Se continuar a evoluir nesta proporção, em 20 ou 30 anos, o mundo vai precisar de muito mais café e encontrar novas áreas para o plantar não é uma opção.
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Só a Nestlé utiliza anualmente cerca de 900 mil toneladas deste produto. Os dados são referidos pelo head of Green Coffee Development da Nestlé, que em entrevista ao Dinheiro Vivo falou sobre o plano global da empresa para a sustentabilidade: o Nescafé Plan 2030, lançado em outubro. Marcelo Burity recordou que o programa teve início em 2010, com o intuito de intensificar o trabalho na área da sustentabilidade no que diz respeito ao café, algo que já vem a acontecer de forma pontual em diversos países do mundo.
Durante os primeiros dez anos de operação o foco foi na melhoria do abastecimento, no café de compra responsável e também em elevar e melhorar a qualidade do programa de campo com o café. “Quando começámos estávamos a controlar a quantidade de produtores que tínhamos, quantas plantas distribuíamos e por aí adiante”, explicou. Com o tempo, o plano foi ajustado às necessidades que iam sendo identificadas – uma adaptação estratégica, para medir os resultados do que estava a ser feito.
“A evolução desse plano para este, de 2030, reflete a evolução dos compromissos e do foco que a Nestlé tem em incorporar a agricultura regenerativa e a redução de carbono”, frisa o responsável. “A principal evolução que temos passa por uma estratégia integrada que utiliza a agricultura regenerativa (que promove práticas que aumentam a proteção do solo, o reforço dos ciclos hídricos e protegem a biodiversidade) para entregar resultados em simultâneo”, detalhou. “Ou seja, se promovêssemos práticas agrícolas que melhorassem os rendimentos dos produtores, mas tivessem um efeito negativo nas emissões de carbono, isso não funcionaria a longo prazo”, declarou Marcelo Burity.
Assim, a Nestlé está a desenvolver, em vários países, novas práticas focadas na melhoria da saúde do solo e a criar formas de dar aos produtores de café um incentivo financeiro, condicionado à adoção de práticas agrícolas regenerativas. A intenção da empresa é que os produtores mais pequenos consigam acelerar a transição para a sustentabilidade.
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Mas muitos destes agricultores têm uma ligação afetiva às plantas do café, que muitas vezes estão nas suas famílias há gerações. Por isso mesmo, a melhor forma de os convencer a adotar estas ferramentas é através da demonstração. “Devo dizer que uma das fontes de energia limpa mais subaproveitada do universo é a inveja. Isto é, muitas vezes temos produtores relutantes, mas o vizinho já aplicou algo que começou a funcionar. A partir daí, acabam por adotar esses exemplos de mudança”, revelou Marcelo Burity.
Outra ação que a empresa leva a cabo é trabalhar com um modelo de formação de produtores baseado em lead farmers. Ou seja, existem alguns produtores regionais que adotam as novas práticas de sustentabilidade e passam a mensagem aos produtores vizinhos. “É através desses produtores que formamos outros, que passam a ter um papel diplomático dentro da comunidade para chegar aos vizinhos”, disse o head of Green Coffee Development da Nestlé.
Formar novos produtores de café é a evolução natural – e o Nescafé Plan tem-na em conta, ao apresentar atividades específicas para jovens produtores ou jovens das famílias dos atuais produtores de café. Mas como afirma Marcelo Burity, tudo “passa muito pela questão da atratividade económica e remunerativa da atividade. Assim sendo, o café precisa de ser uma atividade económica apelativa, para que outros se interessem por este cultivo”.
Para Teresa Mendes, diretora de negócio Coffee Portugal, o grande retorno deste investimento em sustentabilidade é garantir a continuidade da disponibilidade do café, “porque é o nosso principal negócio, e a nossa previsão é de que a procura vai aumentar, portanto, temos de garantir que o produto continua a estar disponível”. E reforça: “Se não o fizéssemos, estaríamos a trabalhar num mercado que ficaria escasso em recursos e com preços muito mais elevados.
Ou seja, estaríamos a transformar esta categoria em algo muito menos acessível e todos sabemos que o café é essencial em Portugal”. Apesar do programa ter metas para atingir até 2030, Teresa Mendes adianta que na fábrica do Porto, a origem do café é 100% sustentável. “Isto é uma média mundial que queremos atingir, mas em Portugal já estamos nestes 100%”, diz. E revela que a Sical acabou de lançar o primeiro café em que o consumidor pode descobrir toda a origem do café desde o agricultor, até à fábrica do Porto.
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