//Nuno Saramago: “Queremos atrair um novo centro de desenvolvimento da SAP para Portugal”

Nuno Saramago: “Queremos atrair um novo centro de desenvolvimento da SAP para Portugal”

Pessoas, inovação e ecossistema de parceiros, são os eixos orientadores para o futuro da SAP Portugal, que tem desde há cinco meses um novo diretor-geral. Na primeira entrevista de Nuno Saramago, o gestor revela a ambição da empresa apostar cada vez mais em Inteligência Artificial (IA) generativa, a par da tecnologia cloud, abrir um terceiro centro de serviços no país e duplicar a equipa da SAP Portugal.

Sucede a Luís Urmal Carrasqueira, que liderou a SAP Portugal durante cinco anos. O Nuno já fazia parte da direção, mas como é que encontrou a empresa quando assumiu o novo cargo?

Encontrei a SAP de boa saúde. A transição foi muito harmoniosa, porque estava perfeitamente dentro da atividade e da forma como abordamos o mercado e trabalhamos. Nos primeiros dias, visitei com o Luís vários dos principais decisores dos clientes, demonstrando toda a nossa estabilidade.

A sua direção será numa lógica de continuidade ou assumirá uma posição diferente face ao passado recente?

Apesar de querermos manter, numa lógica de continuidade, o que funciona bem, há três áreas de foco que queremos ter no futuro.

Quais são?

A primeira tem a ver com as pessoas. Tínhamos cerca de 500 pessoas em 2022, começámos este ano já com 600 [trabalhadores] e, neste momento, já contamos com 670. Vamos tentar duplicar o número de pessoas que temos em Portugal. A SAP vê Portugal como um país muito importante em termos de conhecimento de novas tecnologias. Em 2012, abrimos um centro internacional de serviços, que já deve ter perto de 400 pessoas e que exporta serviços a nível global para os principais clientes da SAP.

É esse o maior ativo da SAP em Portugal?

Não é o principal ativo, mas as exportações de serviço a partir desse centro representam, talvez, um terço do volume total do negócio em Portugal.

Qual é o volume de negócios?

Neste momento, temos um volume de negócios superior a 150 milhões de euros.

Fruto da exportação de talento do centro que referiu.

Fazemos muita exportação de talento nacional através deste centro de serviços internacional. E, em 2021, abrimos um centro de desenvolvimento em novas tecnologias e tecnologias inovadoras, que trabalha na nossa plataforma tecnológica a nível global. E esse desenvolvimento de produto da SAP para o futuro é feito a partir de Portugal, que é uma coisa que nos orgulha bastante e contribui para crescermos e investirmos mais nas pessoas.

Quais são as principais geografias para onde a SAP Portugal exporta serviços?

A principal tem sido a Europa, mas também para os Estados Unidos e Ásia. Dentro da Europa, sobretudo, para a Alemanha, Inglaterra, França e países nórdicos.

Quais são as outras áreas de atuação, além das pessoas?

Em segundo lugar, queremos acelerar muito a inovação que fazemos com os nossos clientes. Felizmente, a maior parte das empresas do PSI são clientes e, creio, que 97 das cem maiores empresas portuguesas são também nossas clientes, embora 70% dos clientes sejam PME [pequenas e médias empresas]. Hoje em dia, funcionamos principalmente com as PME, que é o tecido empresarial nacional. Nesse sentido, queremos reforçar muito a inovação conjunta com clientes. Temos feito um esforço nessa área e vamos continuar a investir em áreas como a IA generativa, que estamos a transformar numa IA de negócio.

E qual é a terceira área?

A terceira área tem a ver com o nosso ecossistema de parceiros. Temos hoje 55 empresas parceiras, o que representa um universo de três mil consultores. Se juntarmos isto aos 670 trabalhadores da SAP Portugal, então, temos uma comunidade excelente de talento que é preciso alavancar.

Pessoas, inovação e ecossistema de parceiros, são o foco. Vamos por partes. Quanto ao tema pessoas, como está a SAP a conseguir reter o talento? A SAP é uma marca atrativa, mas certamente que enfrenta desafios em matéria de recursos humanos.

É verdade que temos uma marca atrativa, o que nos dá uma ligeira vantagem, mas sentimos as mesmas dificuldades do mercado [de trabalho]. Existe muita procura por pessoas com capacidades em novas tecnologias da informação e a oferta não chega para a procura que há. O que é que fazemos? Temos trabalhado em Portugal, através de um programa global que se chama SAP Next Gen, com onze instituições de Ensino Superior [universidades e politécnicos]. Participamos na seleção de programas curriculares para ter, logo à partida, um conjunto de pessoas que vão trabalhar no nosso ecossistema. Trabalhamos, ainda, outro programa em Portugal, que vem de uma iniciativa europeia. Chama-se PRO_MOV e conta também com a Sonae e a Nestlé, entre outras empresas, e o Instituto de Emprego e Formação Profissional. Ou seja, trabalhamos para que exista mais talento disponível. Conseguindo atrair esse talento, trabalhamos na sua retenção através de programas muito específicos que permitem, por exemplo, o trabalho remoto e flexibilidade horária.

Quantas pessoas já beneficiaram dos programas que a SAP tem com diferentes entidades?

Por semestre, cerca de 1 600 alunos de Ensino Superior têm contacto com os sistemas SAP. E entre as duas iniciativas – SAP Next Gen e PRO_MOV – já ajudamos a qualificação de mais de 530 profissionais.

Quando se fala em talento nacional surge o argumento que Portugal tem atraído cada vez mais tecnológicas multinacionais e, quando chegam, o salário é uma forma rápida de atrair os melhores recursos perante a concorrência. A questão salarial também é um ponto de atratividade, no setor tecnológico português?

Julgo que sim, que ainda tem importância, mas é mais visível, se calhar, nas pessoas já com alguns anos de carreira e mais seniores. Se pensarmos nas pessoas que saem da universidade, nas pessoas ainda com poucos anos de carreira, hoje em dia, para essas pessoas, ter um propósito muito bem definido e ter desafios constantes é muito relevante na retenção de jovens talentos. A questão salarial ainda é importante, mas para as pessoas com menos anos de carreira o mais importante é o desafio constante e a capacidade da empresa ir oferecendo novos desafios e outras coisas para sintam que estão a ter um impacto real. É a perceção que tenho.

Colando o tema da inovação ao objetivo de duplicar a equipa em Portugal, a SAP vai apostar num terceiro centro de serviços em Portugal? Há algo a ser planeado?

A resposta é sim. Queremos atrair um novo centro de desenvolvimento da SAP para Portugal. Temos em Portugal todas as áreas do conselho de administração da SAP, seja desenvolvimento de produto, seja de engenharia. Todas as áreas têm alguns trabalhadores em Portugal, mas um centro como o que estamos a falar é um investimento mais estratégico e estrutural. É preciso estabelecer uma equipa com gestores locais, que reporta internacionalmente. Queremos fazer isso. Atualmente, há equipas a desenvolver o que chamamos de business technology platform, que no fundo suporta todas as nossas aplicações de negócio, e estamos a falar com vários gestores fora de Portugal, exatamente, na promoção quer das condições de trabalho do país quer na estabilidade e riqueza de talento que o país oferece, para trazer para cá outras áreas de desenvolvimento.

Há um calendário de quando poderá isso acontecer?

Queremos que isto aconteça nos próximos dois, três anos. O nosso horizonte temporal é esse, mas sempre antecipando…

É possível o objetivo concretizar-se antes desses dois a três anos?

Exatamente, porque assistimos a nível global na SAP o mesmo que em Portugal. Há uma grande transformação para a cloud, uma grande revolução na atualização dos processos de negócio com IA e isso vai traduzir-se na necessidade de produto. E , por isso, é que acho que vamos antecipar [o calendário].

Em que área se focará o novo centro?

Há uma área específica, mas ainda não posso adiantar qual. O que posso dizer é que estamos a trabalhar não só nas áreas de plataforma tecnológica como também na aplicação da IA em áreas funcionais.

Como é que tem sido a adaptação das empresas nacionais às novas tecnologias?

Temos visto em Portugal uma muita rápida adoção de serviços na cloud. Muito rápida mesmo. No caso da SAP, nos últimos três anos, o crescimento das receitas de cloud tem sido, em média, na ordem dos 27%, o que demonstra que temos estado a fazer e a movimentação dos clientes. Em 2020, pela primeira vez, as nossas receitas de cloud igualaram as receitas de software e, hoje em dia, já representam mais do dobro.

O crescimento das receitas de cloud teve na pandemia [a partir de 2020], a par da necessidade das empresas em digitalizar negócios, uma alavanca.

Sem dúvida. A pandemia, e outras discussões que ainda ocorrem atualmente [escassez de chips, por exemplo], veio dissipar muitas das dúvidas que havia quanto ao que se pode fazer remotamente em cloud. Isso ajudou bastante neste rápido crescimento. E as empresas já percebem que juntando à cloud a IA generativa, como inteligência artificial do negócio, podem fazer com que a inovação seja muito mais rápida em ciclos muito mais curtos. Depois, o tema da cibersegurança é outro grande fator, porque é cada vez mais difícil fazer frente aos ciberataques que surgem todos os dias. A rapidez de inovação, novos ciclos de atualização e a cibersegurança, têm sido dos principais drivers [no setor a nível global] e em Portugal não tem sido diferente. Aliás, nós estamos à frente de vários países europeus na adoção da tecnologia cloud.

E sobre a IA generativa já existem sinais de adoção do lado das empresas?

Há muitas empresas a considerar como é que vão usar a inteligência artificial dos negócios. As pessoas começam a usar estas tecnologias e, inevitavelmente, isso fará parto dos processos que existem dentro das empresas.

As grandes empresas e, sobretudo as PME, são a grande base do negócio. E o setor público, a SAP Portugal também trabalha com organismos públicos?

Sim, com várias organizações na administração central, com alguns municípios e com alguns ministérios.

A implementação de tecnologias como a IA e a cloud é mais difícil no setor público face às empresas privadas?

Não há muita diferença entre público e privado. Há na formalização [de projetos], em processos de contratação pública, mas esse não tem de ser necessariamente um fator de desaceleração.

Mas não sente haver duas velocidades – entre público e privado – naquilo que é a digitalização, a transição ou transformação digital? Há também a questão da regulação.

Não faria tanta distinção entre o setor público e o setor privado. É verdade que existe regulamentação específica no setor público e muitas especificidades na adoção de novas tecnologias, porque tem de ser. Mas também o há no setor financeiro e no setor da energia, por exemplo. Há muitas indústrias regulamentadas. O que é interessante ver no setor público é que há organismos que se movem a diferentes velocidades.

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