//O primeiro avião elétrico do mundo também fala português

O primeiro avião elétrico do mundo também fala português

Vem do país startup mas tem já alcance internacional. Alice é o primeiro avião elétrico ‘funcional’ do mundo. Não tem mais de 12 metros, nem autonomia para mais de 1000 km, mas na Le Bourget, a principal feira de aeronáutica do mundo, o projeto da israelita Eviation fartou-se de dar nas vistas. Até conseguiu um contrato de “dois dígitos” da companhia aérea Cape Air – mais trabalho para a portuguesa Almadesign, a responsável por desenhar o interior deste novo avião.

“Para além da equipa da Eviation [a fabricante], há mais de uma centena de empresas e fornecedores envolvidos, de Singapura, Itália, França, Alemanha, Estados Unidos, num projeto que é verdadeiramente global”, conta ao Dinheiro Vivo, José Rui Marcelino, CEO da Almadesign.

Para a empresa portuguesa, que em Portugal reformulou o interior dos aviões A320 e A330 da TAP ou os novos Alfa Pendulares da CP, a entrada neste projeto “surgiu através da participação numa das principais conferências sobre Mobilidade e Transportes do Futuro (The Future of Transportation World Conference)”. A Alma foi para apresentar ao setor alguns dos seus desenhos, e saiu de lá com “o desafio de fazer o design do interior do primeiro avião de passageiros elétrico”.

Foram 18 meses de trabalho desde a primeira reunião de projeto à apresentação do protótipo. À empresa nacional com sede em Paço de Arcos “coube a responsabilidade integral do design, conceção, fabrico e montagem do interior”, num projeto em que, além das ideias e dos conceitos, tudo teve de ser medido a dedo.

Como o avião não funciona a combustível fóssil, mas sim com três baterias de iões de lítio, na cauda e asas, houve, além do efeito estético, uma grande preocupação relativamente ao tipo de materiais utilizados. “O projeto de interiores foi pensado numa lógica de modularidade utilizando materiais leves e resistentes com baixo impacto ambiental. Desde os bancos às consolas laterais, o peso foi também reduzido ao máximo”, conta o CEO.

Em regra, além da fase de criação de ideias e conceitos, a equipa de José Rui Marcelino junta-se a várias fases do processo criativo. “Definimos igualmente cores e materiais e damos suporte à criação de marca e suportes de divulgação. Frequentemente, somos também responsáveis pala produção e montagem – articulada com as nossas redes de colaboração – e, em muitos casos, acompanhamos os produtos/serviços até à sua apresentação final e/ou implementação no mercado. Assim, o nosso trabalho pode tanto contemplar uma fase do processo de design como cobrir a totalidade do ciclo de desenvolvimento de produto até ao lançamento e implementação”.

Para ajudar a dar forma ao avião mais ecológico do mundo, a empresa portuguesa apresentou um desenho de cinco assentos de um lado, e quatro do outro – o avião só leva 9 passageiros. E acrescentou-lhe um toque de originalidade: “ao entrar na cabine os bancos estão alinhados com o sentido de voo, mas após a descolagem, podem rodar para a janela, permitindo maior privacidade ao passageiro e uma visibilidade fantástica para o exterior. A experiência de viagem será, sem dúvida, espetacular”, admite.

“Muitas das peças agora apresentadas neste protótipo “terão de ser desenvolvidas para produção em série, passando por todos os processos de certificação associados e provavelmente o peso será ainda mais reduzido”, mas o grosso da experiência está feito.

Apesar dos “muitos meses na conceção, desenho, modelos CAD 3D, maquetes de estudo, preparação de prototipagem, produção de peças”, o responsável português recorda momentos mais divertidos. Especialmente, no final, quando todas as peças se juntaram para serem expostas em França. “Na montagem final do cockpit, em França, um dos administradores da Eviation, piloto com muita experiência, pediu-nos para fazer algumas alterações de última hora. A pressão para terminar a mockup a tempo, resolveu-se com um churrasco ao fim do dia, seguido de uma noite de trabalho até às 8h da manhã”, conta José Rui Marcelino.

A Almadesign tem na portuguesa Salvador Caetano o mais antigo cliente. A aeronáutica é um investimento que já conta com 15 anos e vale cerca 60% do volume de negócios da empresa.

O CEO português não tem dúvidas que o conforto é a peça mais importante que se produz, seja para a ferrovia, rodovia ou aeronáutica. “Estes projetos são um grande orgulho para nós porque melhoram o conforto e a experiência de viagem de centenas de milhares de passageiros anualmente”. A mais recente aposta faz-se agora na indústria náutica nacional, “que depois de muitos anos adormecida está de novo a crescer”. E até já receberam um Green Good Design Award.

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