O ano deveria ser de celebração, mas a pandemia do novo coronavírus veio estragar a festa. A génese do que é hoje o grupo industrial de tintas Barbot aconteceu há 100 anos. Neste caminho, o negócio familiar enfrentou algumas vicissitudes, mas conseguiu sempre dar a volta com sucesso. Ganhou escala – está no top três do setor em Portugal –, investiu em polos industriais em Espanha e nos PALOP e alargou a sua ação com a aquisição da Anpal, da Sodulax e mais recentemente da Diera. Em ano de centenário tem pela frente o desafio inesperado da covid, que leva Carlos Barbot, CEO do grupo com sede em Vila Nova de Gaia, a recordar a célebre frase de um futebolista do Porto: “Prognósticos só no fim.”
Em cima da mesa do gestor – mas não para já – está a passagem de testemunho. Carlos Barbot tem 65 anos, mais de 35 dos quais passados a liderar o negócio, e não se quer eternizar na presidência. “Estou a começar a olhar para o futuro da empresa e a preparar a minha substituição”, admite. Mas a pandemia e os efeitos na economia e nas empresas, a que o grupo não escapou, trouxeram desafios acrescidos que não se coadunam com transferências precipitadas de liderança. O neto do fundador assegura que não quer “ficar cá para sempre”, mas a substituição “tem de ser feita com muita calma, tem de ser bem estruturada”. Neste ano, “não!”, reforça.
“Há duas possibilidades: a opção familiar [gestão a cargo dos filhos e sobrinho] e a profissional”, adianta o gestor, que acredita que não terá “muita dificuldade em encontrar solução”. O grupo emprega 300 pessoas, mais de metade em Portugal, e faturou no ano passado quase 50 milhões de euros.
O negócio está agora dependente da evolução da pandemia e da retoma da economia. Em Portugal, a Barbot registou uma performance positiva até ao final de maio. Sempre em laboração, a empresa, com as suas duas fábricas e 18 lojas, apresentou um crescimento de 6,5% nas vendas nos primeiros cinco meses deste ano. Com o confinamento, houve um decréscimo, mas compensado pela subida de 16% em maio.
“As pessoas resolveram investir nas suas casas, fizeram alguns melhoramentos como pinturas de interiores e exteriores. O comércio fez remodelações de espaços e a hotelaria também aproveitou o encerramento para fazer algumas obras.” Já as exportações reduziram-se a zero nos meses de abril e maio.
O futuro é que é mais sombrio. “Há obras que continuam, mas há muitas paradas e que paradas vão continuar”. A estratégia passa agora por centrar a aposta no mercado interno e no desenvolvimento do produto, numa ótica de value for money superior (relação qualidade-preço). “Vai ser preciso lutar por negócios mais pequenos”, até porque se está “a comprar mais vezes, mas menos quantidade. O desafio é saber por quanto tempo isto se prolonga.”
Neste cenário, Carlos Barbot recusa fazer projeções, até porque “a última parte do ano poderá não ser tão risonha como se gostaria”. No ano passado, a Barbot faturou 23,6 milhões, com 2 milhões a serem obtidos nos mercados externos. O gestor admite estar preparado para o pior e esperar que tudo corra melhor, e deixa o recado: “É bom que os portugueses sejam patriotas.”
A operação em Espanha, onde detém a Jallut, também não escapou aos efeitos da covid-19, com as vendas a caírem 10%. As exportações para a América Latina e Norte de África seguraram o negócio. O semestre deve fechar com um aumento de faturação de 2% a 3%, revela Carlos Barbot , reconhecendo que o ano é uma incógnita.
Em Angola, Moçambique e Cabo Verde, onde tem fábricas, a situação não é melhor. Embora seja um mercado “muito importante – que já foi muito bom –, nos últimos anos tem registado algumas dificuldades”, nomeadamente Angola. A desvalorização do kwanza e a consequente perda de poder de compra, a falta de investimento estrangeiro e do Estado angolano, e a desvalorização do preço do petróleo têm deteriorado o negócio. Ainda assim, Carlos Barbot assegura não estar nos horizontes do grupo “abandonar África”.
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