Desde que nasceu por causa da Expo 98 que o Oceanário é uma empresa e tem sido gerida como uma empresa privada. Foi sempre assim, mesmo enquanto esteve sob a alçada do acionista Estado (Parque Expo). Ao longo dos anos, o equipamento de exposição de espécies marinhas tem sido não apenas rentável mas altamente rentável, afirma João Falcato, o gestor que entrou há 20 anos como biólogo marinho e é CEO desde há 12.
“Prestamos um serviço público que tem resultados financeiros positivos.” Mas há uma diferença entre a época em que o Estado era o acionista e após 2015, altura em que privatizou e deu a concessão da atividade por 30 anos à Sociedade Francisco Manuel dos Santos, a holding familiar que detém o grupo de distribuição alimentar Jerónimo Martins.
Antes, tudo o que se ganhava era 100% distribuído em forma de dividendos ao Estado, seu único acionista. Desde que o acionista passou a ser a Fundação Oceano Azul que todo o dinheiro que é feito no Oceanário é reinvestido no Oceanário, na sua atividade central: a conservação dos oceanos, a literacia azul e a capacitação (legislação aplicada ao mar).
O que aconteceu em 2017 foi que a sociedade familiar, conhecida por ser dona dos supermercados Pingo Doce, criou a Fundação Oceano Azul a quem doou o contrato de concessão, tornando-se a única acionista do Oceanário de Lisboa. Hoje, a Fundação recebe do seu fundador um montante anual e trabalha em conjunto com o Oceanário de Lisboa.
Com o contrato de concessão houve um pagamento de 10 milhões de euros, feito pela Oceanário de Lisboa ao Estado, que se mantém como proprietário do edifício. Alem desse pagamento inicial, todos os anos há duas rendas. Uma renda fixa, que em 2017 foi de 1.319 milhões de euros, e uma renda variável de 5% da faturação – ou seja, 843 mil euros em 2017. “Ao todo, relativamente a 2017, pagámos ao Estado 2,162 milhões de euros.”
Lições de gestão de um serviço público
O que podemos aprender com a gestão deste serviço público que manteve os bons resultados ao logo de duas décadas? Em 2017, o Oceanário viu a sua faturação ascender a 17,2 milhões de euros, mais 17% do que em 2016, escreve José Soares dos Santos no Relatório e Contas. O resultado líquido em 2017 foi de 2,5 milhões de euros, mais 68% do que em 2016.
O que faz esta atividade ser tão lucrativa? O que atrai as mais de 1.350.000 pessoas que visitaram o Oceanário de Lisboa, eleito o melhor aquário do mundo pela segunda vez pelo website de viagens Tripadvisor?
Resposta: “A perceção de valor.” Ou seja, explica João Falcato, o que cada visitante paga à entrada e aquilo que recebe em troca está acima dos outros. “Temos um serviço de excelência e uma experiência diferenciadora.” Há em toda a visita uma componente emocional que envolve as pessoas. “Aprendem e divertem-se ao mesmo tempo que contribuem para a conservação dos oceanos com o dinheiro que pagaram pelo bilhete.”
“Desde a abertura da nova loja que a satisfação subiu.” Este é outro fator de sucesso: o facto da equipa do Oceanário ter passado a gerir diretamente a loja (antes estava concessionada a uma empresa externa) e de venderem apenas artigos de merchandising sustentáveis em termos de origem e de materiais. Neste momento, 35% dos produtos já cumprem este requisito, mas querem chegar aos 95% de produtos sustentáveis em três anos. Isto apesar de “a margem ser mais baixa do que se não fossem sustentáveis,” acrescenta o responsável. O que interessa é a coerência. E pelos vistos a coerência da mensagem sobre sustentabilidade traz mais pessoas.
Apenas não beneficiaram do conhecimento da grande distribuição vindo do acionista porque já detinham know-how necessário, explicou o responsável em entrevista ao Dinheiro Vivo. A equipa é hoje composta por 65 pessoas nos quadros e eram 48 elementos antes da privatização. Ao todo, contando com os subcontratados, todos os dias vêm trabalham 200 pessoas.
A empresa Oceanário adapta a sua oferta mediante a nacionalidade e a idade do público os visitantes são 60% estrangeiros e apenas cerca de 20% são crianças. O “negócio” é alimentado por cinco fontes de receita: os ingressos que contribuem com mais de 80% para a receita; a loja (perto de 15%); a restauração; o programa educativo; e os eventos, cujo peso não é significativo.
A concorrência é dura, na medida em que o Oceanário opera no mercado da ocupação de tempos livres, naquele em que as pessoas têm inúmeras opções: ir ao cinema, à praia ou ver os animais do mar no seu habitat natural em pleno Parque das Nações. “Claro que – diz com graça: “quando chove temos mais pessoas.”
A organização é arrumada também como uma empresa privada. O fato de terem os seus processos de qualidade, ambiente e ecologia certificados desde 2005 traz eficiência. Foi o primeiro aquário público da Europa a ver certificado (pela entidade certificadora SGS) o seu Sistema Integrado de Gestão da Qualidade e Ambiente, segundo as normas internacionais ISO 9001 (Qualidade), ISO 14001 (Ambiente) e EMAS (Eco-Management and Audit Scheme).
A preocupação não é tanto mostrar ao exterior que tudo funciona bem e dar garantias, mas poder beneficiar da organização interna conseguida quando os processos de trabalho estão descritos e todos sabem o que devem fazer. “Obriga-nos ao processo de auditoria, que nós gostamos. E isso dá-nos os aspetos em que podemos melhorar, e assim provocamos a inovação.”
Na opinião do biólogo e gestor pós graduado em Gestão na Católica, a privatização do Oceanário pelo Parque Expo “foi muito boa decisão.” O seu percurso dá-lhe autoridade para fazer um balanço das diferenças entre a gestão pública e privada: “Durante a gestão do Estado, o foco do Oceanário esteve na despesa. Com a gestão privada o foco passou a ser a receita.”
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