//OIT. Pandemia reduz trabalho equivalente a 15 milhões de empregos na Europa

OIT. Pandemia reduz trabalho equivalente a 15 milhões de empregos na Europa

É como se todos os dias menos 15 milhões de europeus saíssem para trabalhar. A paragem das atividades devido à pandemia do novo coronavírus deverá reduzir até junho em 7,8% o número de horas trabalhadas na Europa, o equivalente a 15 milhões postos de trabalho, estima a Organização Internacional do Trabalho (OIT) na segunda previsão em menos de um mês dos efeitos da atual crise no mercado de trabalho.

Estes cálculos têm em conta um horário completo de 40 horas semanais, e antecipam que os países europeus sofram um dos piores impactos no mundo. Globalmente, o trabalho será reduzido em 6,7%, convertíveis em 230 mil postos de trabalho se as perdas de atividade se traduzissem em suspensão total de horários para os trabalhadores.

As novas previsões da OIT foram divulgadas esta terça-feira, depois de inicialmente, a 18 de março, a organização ter avançado uma projeção que apontava para a perda de 25 milhões de empregos ao longo de 2020. Só nos EUA, um dos mercados de trabalho mais dinâmicos do mundo, as passadas duas semanas produziram 10 milhões de desempregados.

A OIT admite agora que os números de desemprego possam ser “significativamente superiores” aos 25 milhões estimados num primeiro momento. Mas, numa abordagem mais cautelosa, a agência tripartida da ONU procura quantificar perdas de trabalho que poderão não resultar necessariamente em desemprego direto. A nova estimativa reflete as reduções e suspensões da prestação de trabalho que estão a ocorrer em vários países, tal como em Portugal, onde um milhão de trabalhadores pode vir a ser abrangido pelas novas regras simplificadas de acesso a lay-off. O horizonte da projeção é também mais curto: os cálculos valem apenas para o segundo trimestre. E o estudo não incorpora o que possa ser o pós-crise sanitária, com um possível agravamento das condições económicas.

“O eventual aumento do desemprego global ao longo de 2020 vai depender substancialmente de quão rapidamente a economia recuperar na segunda metade do ano e da eficácia das medidas políticas para dar impulso à procura por mão-de-obra, refere a nova nota da OIT a antecipar “efeitos devastadores e duradouros” das quebras de produção nas empresas, especialmente nos países em desenvolvimento e sem margem para porem em marcha medidas de estímulo económico.

Segundo a organização, a Europa sofre as perdas de trabalho mais pesadas em termos proporcionais a seguir aos países e territórios da península arábica (estes, com redução de 8,1%). Segue-se a região da Ásia-Pacífico, onde reduções no trabalho da ordem dos 7,2% equivalem a 150 milhões de trabalhadores parados. No conjunto das Américas, a perda é de 6,1% nas horas trabalhadas, que se traduzem em 29 milhões de empregos a tempo completo. E em África, a redução pode atingir 4,9%, ou o mesmo que 22 milhões de trabalhadores pararem.

“Trabalhadores e empresas enfrentam uma catástrofe, tanto no mundo desenvolvido como no mundo em desenvolvimento”, alerta o diretor-geral da OIT, Guy Ryder, assinalando “a pior crise global desde a II Guerra Mundial” e exigindo medidas rápidas e decisivas que poderão fazer a diferença entre “sobrevivência e colapso”.

Apoiar sectores mais afetados, mas também trabalhadores da economia informal

Nos cálculos da OIT, as restrições ditadas pela pandemia – com quarentenas impostas sobre países inteiros que deixam apenas em funcionamento sectores essenciais da economia – estão a afetar já oito em cada dez trabalhadores. Ou seja, 2,7 mil milhões dos 3,2 mil milhões de trabalhadores em todo o mundo.

Destes, a grande maioria encontrava-se até aqui ao serviço de sectores específicos, mais afetados pela travagem do mundo. A OIT estima que 38% da força de trabalho mundial (1,25 mil milhões de indivíduos) tenham perdido emprego ou parte do salário com horários mais reduzidos nos sectores mais afetados: comércio, manufatura, imobiliário e serviços administrativos, assim como alojamento e restauração. Os dados estão em linha, também, com os sectores que mais têm recorrido ao lay-off em Portugal (comércio, alojamento e restauração), segundo as informações já apresentadas pelo governo.

Mas, para além dos trabalhadores contados pelas estatísticas públicas, há ainda um enorme número de trabalhadores informais estimado em dois mil milhões de pessoas em todo o mundo – serão, de facto, metade da força de trabalho mundial, sem contar os braços ao serviço das atividades agrícolas, e os mais vulneráveis de todos devido por não poderem aceder a mecanismos de proteção social como o subsídio de desemprego ou medidas de suporte público a salários durante a inatividade. Na região da Europa e Ásia Central, aquela onde há menos informalidade nas relações de trabalho, representam ainda assim um quinto dos trabalhadores.

Por isso mesmo, uma das recomendações políticas da OIT é a de que os países assegurem proteção social a todos os indivíduos, ao mesmo tempo que acionam mecanismos de apoio à manutenção dos postos de trabalho e asseguram apoios financeiros e fiscais às empresas.

“Se um país falhar, falhamos todos. Temos de encontrar soluções que ajudem todos os segmentos da nossa sociedade global, particularmente aqueles que são mais vulneráveis ou menos capazes de se ajudarem a si mesmos”, defende o diretor-geral da OIT. As escolhas que agora forem feitas, lembra, “vão afetar diretamente a forma como a crise se vai desenrolar e, assim, as vidas de milhares de milhões de pessoas”.

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