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De acordo com o INE, os palácios nacionais da Pena e de Sintra, o Museu de Serralves, o Museu Coleção Berardo e o Tesouro da Sé do Porto foram os monumentos mais visitados em Portugal no último ano em que o turismo não esteve condicionado pela covid. Todos juntos, somaram em 2019 cerca de 20 milhões de visitantes, o que numa média bruta significa cerca de 4 milhões de pessoas por monumento. É mais ou menos o número de turistas que recebe o Empire State Building. E o número de visitantes que, até entrar a pandemia e as consequentes restrições, passavam todos os anos pelo mercado Time Out Ribeira – que nesta semana cumpriu oito anos de existência.
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“Lisboa está a ser uma séria opção de shortbreak, pessoas que estavam a pensar viajar para outros destinos estão a optar por vir para cá e com isso já sentimos uma retoma que nos faz encorajar a pensar que alcançaremos os valores de 2019, no máximo, em 2023”, frisa ao Dinheiro Vivo Ana Alcobia. A diretora do Time Out Market Lisboa acredita mesmo que a esse prazo voltarão os 4 milhões de visitantes por ano, bem como a faturação alcançada até 2019. E que até pode subir. “Foram dois anos em que as pessoas não puderam viajar, conviver, e acabaram por poupar. Vemos hoje que há uma disponibilidade financeira maior, ainda não temos tantos visitantes como em pré-pandemia, mas os que vêm estão a gastar mais”, nota. E é para elas que o Mercado se vai renovando e reinventando, acrescentando aos espaços e à oferta.
Há, por exemplo, conta Ana Alcobia, duas lojas em renovação, a oferta cultural está a crescer, no estúdio sucedem-se os eventos. “À sexta, por exemplo, está de volta o Baile Bateu Matou e os workshops da Academia estão esgotados, o que nos deixa muito animados, porque ali é praticamente só público local que acorre.”
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Lisboa, 07/03/2018 – Aspecto do Time Out Market em Lisboa, fotografado esta tarde depois duma entrevista do Director João Cepeda ao Diário de Notícias. ( Gustavo Bom / Global Imagens )
© Gustavo Bom / Global Imagens
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A retoma entre as crises que se somam
Claro que nem tudo são facilidades numa altura em que o país lida com um acumular de crises que têm atravessado toda a economia. Entre a inflação, a escalada dos preços da energia, a interrupção das cadeias logísticas e a falta de matérias-primas, a diretora do Time Out Market Lisboa assume que há algumas dificuldades e ajustes a fazer. “Os custos estão a aumentar brutalmente para todos, incluindo os que se movem na restauração e no turismo, e parte disso eventualmente vai refletir-se nos clientes, mas temos conseguido segurar parte desses efeitos do lado de cá.” Como? Porque o Mercado da Ribeira já se movia para a sustentabilidade. “Temos, por exemplo, muito pouca energia por via do gás, quase tudo vem da eletricidade e temos intensificado essa lógica”, relata Ana Alcobia. “Por outro lado, os produtos que aqui são servidos são sazonais, o que permite uma menor vulnerabilidade do que enfrentam os que utilizam matérias-primas fora de época”, explica.
Problema sério mesmo é encontrar pessoas para trabalhar. E se ali há quem conte com oito anos de casa – uma longevidade pouco comum, especialmente em restauração -, contratar quem é preciso numa estrutura com mais de 600 colaboradores nem sempre é fácil. “É uma dificuldade brutal, mesmo pagando acima do normal, como sempre fizemos questão, e garantindo mais folgas – acreditamos que as pessoas devem ser pagas pelo trabalho que fazem e devem também descansar, por isso, sempre praticámos esse princípio e sempre aconselhámos os nossos lojistas e parceiros a fazê-lo também”, explica Ana Alcobia.
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João Cepeda é fundador e diretor criativo do Mercado Time Out
© Jorge Amaral/Global Imagens
Da ideiazinha à exportação
Balões, música ao vivo e, claro, a seleção com curadoria da “melhor comida da cidade de Lisboa” não faltaram na festa de quarta-feira, quando o Mercado da Ribeira, o pioneiro de um conceito 100% português, com a assinatura de João Cepeda, hoje diretor criativo do Mercado Time Out, fez oito anos de vida.
E tudo começou por mero acaso. “Começámos a fazer umas festas em Lisboa e correram muito bem, depois veio o Porto e então começou a crescer a ideia de ativar a marca nas três dimensões”, contou ao DN João Cepeda. E se de início a ideia de tornar a revista num conceito material e este numa experiência real materializada no espaço de um mercado assustou a casa-mãe – sobretudo pelo tamanho da empreitada, que em lugar dos mil metros quadrados pensados para o projeto se concretizava num espaço sete vezes maior -, rapidamente a marca entendeu o seu potencial. Um ano bastou para a Time Out comprar a ideia a João Cepeda, mantendo a alma do negócio no lugar – até hoje, é ele quem viaja pelo mundo à procura de novas localizações que façam sentido, a montar os novos espaços, e sempre com a portugalidade bem presente.
As mesas e cadeiras de todos os mercados abertos pelo mundo, por exemplo, são feitas em Paços de Ferreira e levam o carimbo made in Portugal. O que, além de ajudar a dar a conhecer e exportar o mobiliário, o know how e o próprio país, é mais um ponto de potencial negócio.
“E se um português num sítio qualquer do mundo virar a cadeira e vir o carimbo vai sentir esse orgulho”, completa Cepeda. Que admite que nunca imaginou que aquela ideiazinha “se tornasse numa coisa com esta dimensão”.
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Mercado Time Out Ribeira recebe 4 milhões de pessoas por ano
© Gustavo Bom/Global Imagens
Multiplicação com um pé em Lisboa
Aos oito anos, não faltam ao Mercado Time Out Ribeira razões para celebrar. Ainda antes de cumprir uma década, o conceito que João Cepeda pensou e materializou naqueles 7 mil metros quadrados já soma uma expansão que o coloca em seis localizações do globo. Boston, Chicago, Miami e Nova Iorque, nos EUA, Montréal e Dubai, aberto em plena pandemia. A estas juntam-se outras que já têm data marcada para arrancar as operações: Porto, Abu Dhabi, Praga e Londres… E agora Osaka, que acaba de se juntar ao leque de cidades escolhidas para receber o projeto, em 2025, no mesmo ano em que aquela cidade japonesa recebe a Expo Mundial.
Apesar da expansão acelerada, Lisboa “continua a ser o motor da empresa, o local onde tudo nasce”, sublinha Cepeda. “O projeto de Lisboa continua a ser, de longe, o mais poderoso a todos os níveis: em tamanho, faturação, em tudo. É absolutamente fundamental.”
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