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Casar os 50 anos com o número de restaurantes é o plano mais ambicioso de Olivier da Costa, o restaurateur que, não tardando em conquistar o paladar dos seus conterrâneos, tem-se empenhado nos últimos tempos em levar Portugal às bocas do mundo, marcando já presença em seis geografias, além da nacional.
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Em cinco anos, a chancela do chef conseguiu mais do que triplicar as unidades, caminhando para 2024 com um total de 27, das quais oito inauguradas durante este exercício. Sete foram lá fora e são sobretudo essas que vão permitir ao grupo fechar o ano com um saldo “muito positivo” e superar os resultados passados, avança Joel Pires, diretor comercial e de marketing da insígnia, ao Dinheiro Vivo, numa entrevista conjunta com o empresário.
Brasil, Espanha, França, Itália, Reino Unido e Tailândia são, assim, os mercados estrangeiros que atualmente acolhem os espaços by Olivier. Juntos, estes países já pesam nas contas da marca três vezes mais do que a operação nacional, cujas receitas deverão estagnar, refletindo uma conjuntura económica pautada pela elevada inflação e consequente perda de poder de compra dos portugueses.
“Neste momento, podemos afirmar que os clientes tomaram duas decisões muito concretas: irem menos aos restaurantes ou, quando vão, gastarem menos”, diz o responsável comercial. A redução do ticket médio, causada, por exemplo, pela escolha de um vinho de serviço ou de um prato mais barato, aliada ao incremento da despesa com as comidas e bebidas ou até mesmo com o pessoal, que foi alvo de aumentos salariais, “podem ser destrutivos para a manutenção da faturação média”, que permite ao grupo pagar os custos correntes.
Mais do que a tributação direta, que é comum a todas as outras regiões onde a insígnia opera, explica, são os impostos indiretos que estrangulam o setor, o qual integra a marca Olivier. Rubricas como a rendibilidade e a margem de lucro do grupo serão, desta forma, as mais afetadas pela carga fiscal, já que é “impossível passar para o cliente todos os custos” – “se o fizéssemos, não tendo o dinheiro que tinha disponível no passado, e mesmo querendo ir ao restaurante, o consumidor passaria a optar pelo preço, em detrimento da qualidade”. E, isso, sublinha, não é o pretendido.
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Para compensar o abrandamento da atividade nacional, a marca tem encetado uma “agressiva” estratégia de marketing, sobretudo nas redes sociais, e apostado em iniciativas como os menus de almoço – o mais recente, o do XXL, por um valor de 18 euros, que tem permitido aos clientes que já não têm tanta capacidade para suportar o custo do jantar continuarem a usufruir da experiência gastronómica oferecida pelo restaurante. E facto é que, de acordo com Joel Pires, o crescimento naquele horário tem-se feito sentir.
O turismo tem ajudado a contrabalançar a quebra dos fregueses residentes, o que possibilita ao grupo antever que vai faturar nos restaurantes já existentes o mesmo que no ano passado. Contudo, e não obstante o facto de a terra natal já não ser o principal motor das receitas, Olivier da Costa prevê superar os resultados passados (o último tornado público foi em 2021, no valor de 22 milhões de euros) por via das aberturas, que, distribuídas ao longo do ano, seria praticamente uma por mês.
Seen, Guilty, Yakuza, KOB, XXL, Clássico e Savage são, até agora, os sete conceitos do chef português. Os três primeiros assumem o pódio, por aquela mesma ordem, dos que mais somam restaurantes em todo o mundo, tendo sido, aliás, as últimas três insígnias a abrir portas – desta vez, em cadeia, no Tivoli La Caleta Resort, em Tenerife, naquela que foi a estreia do empresário no país vizinho. “Nunca abrimos três restaurantes de uma só vez. É um marco muito importante, num destino único e num hotel espetacular”, destaca o próprio.
XXL Quinta do Lago (Algarve), Seen Nice (França), Seen Roma (Itália), Guilty Londres (Reino Unido) e Seen Feira de Santana (Brasil) foram os restantes lançamentos do restaurateur durante 2023, articulados com quatro grandes parceiros hoteleiros: Minor Hotels, United Investments Portugal, Maison Albar Hotels, Wyndham Hotels & Resorts.
Enquanto o legado cresce velozmente lá fora, em número e em sucesso – como é, segundo o diretor de marketing e o chef, o caso do Seen rooftop da Piazza della Repubblica, em Roma, que “superou todas as expectativas” e é já uma “referência na cidade” -, o empreendedor continua a criar restaurantes cada vez que vai ao seu escritório, diz, em tom ligeiro.
Mas, dúvidas restem, Olivier da Costa antecipa novas parcerias, outros investimentos no Algarve, mais internacionalizações do Yakuza, a forte pretensão de entrar no Médio Oriente, os vários pedidos mundiais para o XXL e o estudo de novas aberturas em Portugal, por meio de outros conceitos, nomeadamente um rodízio e um italiano. E porque o progresso se faz também de pessoas, o grupo, que conta com cerca de 500 trabalhadores – já depois de recrutar os quase 200 que anunciou precisar no início do ano – vai contratar mais, especialmente para acompanhar o crescimento da operação no exterior.
Assegurando que continuará a construir restaurantes até ao mais ínfimo detalhe, trazendo cada vez mais autenticidade às cartas e aos espaços, o empresário estabelece uma nova meta: chegar aos 50 espaços, quando celebrar meio século de vida, daqui a dois anos. Um objetivo ousado, mas não impossível, tal é o fôlego da internacionalização das marcas e a vontade do chef em levar ao mundo o que é português. Inspirado em Fasano e Cipriani, Olivier sonha também em dar o passo seguinte e abrir o seu próprio hotel.
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