//OPA não avança. EDP já tem plano até 2022

OPA não avança. EDP já tem plano até 2022

O cenário de fracasso da oferta pública de aquisição (OPA) lançada pela China Three Gorges (CTG) sobre a EDP e a EDP Renováveis em maio de 2018 é cada vez mais dado como certo. Mas a elétrica já tem preparada uma estratégia alternativa para o futuro, até 2022, que passa por uma maior aposta na área-chave das renováveis (água, vento, sol), em todas as geografias.
Desta vez a empresa não optará pela via das aquisições, como fez nos Estados Unidos com a compra da Horizon Wind Energy em 2007, porque já terá capacidade de desenvolvimento incorporado na sua estrutura, apurou o Dinheiro Vivo.

Soma-se ainda uma pequena reestruturação nos ativos que a empresa detém em Portugal: nada que altere a estrutura a nível nacional, mas que permita gerir os riscos regulatórios (como os cortes nos Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual, CMEC) a que o grupo está exposto dentro de portas. Tal como já aconteceu com a venda de 49% dos parques eólicos. No ano passado a EDP desfez-se também de uma série de mini hídricas no Brasil e em Portugal, encaixando 380 milhões de euros.
Quanto a rumores da venda de 49% da EDP Distribuição e de outras participadas do grupo, fontes próximas do processo revelam que ainda não será o momento, tendo em conta o concurso que aí vem para renovar a licença de operador de redes de baixa tensão.

Novidades em março
Esta espécie de plano B à OPA da CTG será conhecida muito em breve, no strategic update que o CEO António Mexia irá fazer a Londres, perante investidores e analistas, a 12 de março – logo a seguir à apresentação dos resultados de 2018. Neste evento, o CEO deverá apresentar um plano de negócios atualizado e apontar o rumo da companhia para convencer os acionistas que há vida além da OPA. Ao que o Dinheiro Vivo apurou, a estratégia a apresentar não será anti-OPA, mas complementar. Depois disso, caberá aos acionistas chineses arranjar argumentos para manter em cima da mesa uma operação que teima em não avançar.

A EDP tem preparada uma estratégia alternativa para o futuro da empresa até 2022, que passa por uma maior aposta na área das renováveis.

Ao fim de nove meses, e com o aval apenas do regulador brasileiro, por cá a CMVM ainda tem de aprovar o pedido de registo de OPA, cuja análise está suspensa a aguardar que sejam preenchidas as condições de lançamento e de eficácia das ofertas sobre a EDP e a EDP Renováveis. Entre estas condições estão o OK da Direção-Geral de Concorrência de Bruxelas (DG Comp) e das autoridades nos Estados Unidos, por exemplo. Sem isso não avança o registo da OPA, para o qual não há limite temporal. Por isso, o tempo que está a demorar a OPA sobre a EDP não difere de outros casos, é o período habitual quando há condições a preencher, de acordo com fontes do mercado. O regulador já frisou que a gestão da EDP está em modo “normal” e não em gestão corrente.
Segundo fontes ouvidas, a CTG deverá avançar nas próximas semanas com a notificação da operação em Bruxelas, depois de um silêncio prolongado em que a empresa chinesa não deu resposta às perguntas “incómodas” da DG Comp, algumas delas sobre a relação com o Estado chinês.

As surpresas da CTG
A OPA tem tido várias surpresas, barreiras que a CTG não esperava ter de enfrentar – a começar pela exigência de vender os ativos no EUA (50% da operação da Renováveis) e pelo unbundling em Portugal, ou seja, a obrigação europeia de separar as atividades de produção e comercialização de eletricidade da do transporte. Este é assegurado pela REN, detida em 25% pela State Grid, também ela do Estado chinês, como a CTG. Se a OPA sobre a EDP avançasse, os chineses teriam de sair da REN, mas já afirmaram não fazer tenções disso, ou seja, estamos perante um braço de ferro. O governo português até já admitiu estar a estudar um regresso ao capital da REN para equilibrar o peso da State Grid.

Soma-se também uma pequena reestruturação nos ativos que a empresa elétrica detém em Portugal, sem alterar a estrutura.

À luz do que aconteceu com a tentativa de compra da Generg pela Datang, chumbada pela ERSE por violar as regras do unbundling, caso fossem aplicados os mesmos remédios propostos para essa operação, fontes ouvidas pelo Dinheiro Vivo estimam que a EDP teria de vender mais de 70% da atividade em Portugal. Para a CTG, os sucessivos cortes que o governo tem vindo a fazer às rendas garantidas pelos CMEC (o último e mais polémico, de 285 milhões, está a ser impugnado pela EDP) foram “a cereja podre em cima do bolo que fez saltar a tampa aos chineses”, referem as mesmas fontes.

Elliott entra em ação
Com tanto impasse, o último acionista a entrar no capital da EDP – o fundo abutre Elliott (com 2,29%), liderado por Paul Elliott Singer, o investidor mais temido do mundo segundo a Bloomberg – está a ficar impaciente, tendo visitado Portugal nos últimos dias para pressionar um desfecho célere da operação. Singer não é o único descontente e poderá agregar outros acionistas na Assembleia Geral de abril. Faz parte das suas ambições, a partir dessa data, ter um lugar no Conselho Geral e de Supervisão.

Sendo considerado um acionista ativista, é esperado que o fundo Elliott surpreenda a EDP, propondo vendas imediatas de certos ativos que podem não interessar à elétrica, com vista à realização de rápidos dividendos. Singer não esconde que considera o preço oferecido pela EDP demasiado baixo e que é por isso que a oferta não está a andar. Fontes ouvidas garantem que o fundo Elliott quer que a EDP faça mais do que sabe fazer bem (apostar nas renováveis) e realize mais-valias. Por isso, a elétrica não vê o abutre como ameaça, mas como oportunidade para “bater com a porta” e clarificar o futuro.
Quanto ao risco de desmembramento, que o Elliot pode acelerar, o Dinheiro Vivo apurou que a elétrica não teme esse cenário, uma vez que a OPA já implica esse risco quando obriga a vender o negócio dos EUA. Para já, todos os olhos estão nos próximos passos – de Singer agora e de Mexia em março.

Com Elisabete Tavares

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